Missa de corpo presente do papa Francisco reúne 400 mil fiéis e 160 chefes de Estado e de governo. O líder de 1,4 bilhão de católicos foi colocado em um caixão de madeira e enterrado em uma sepultura de terra fora do Vaticano
Roma — A Cidade Eterna abraçou pela última vez o seu bispo. Enquanto o papamóvel percorria as principais ruas da capital italiana, depois de deixar os muros do Vaticano, era saudado por uma chuva de aplausos. Foi dessa forma que o caixão de madeira — simples, como Francisco pediu em testamento — chegou até a Basílica de Santa Maria Maggiore, onde o corpo de um dos papas mais populares da história, agora, repousa. A partir deste domingo (27), os fiéis poderão visitar a sepultura do 266º pontífice em mais de dois mil anos da Igreja Católica. O túmulo de terra está coberto por uma placa de mármore retirado de Ligúria, região no noroeste da Itália, onde viviam os avós de Francisco. Os 2,7 mil jornalistas não puderam ter acesso às imagens do enterro. O site Vatican News, da Santa Sé, divulgou que o sepultamento ocorreu depois do canto de quatro salmos, acompanhados por cinco intercessões e o Pai-Nosso. Os sigilos do cardeal carmelengo, Kevin Farrell, religioso responsável pela Casa Pontifícia, foram impressos no caixão, antes de baixar à sepultura e ser aspergido com água benta.
A Praça de São Pedro ficou lotada para a missa de corpo presente, celebrada por Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, e por 5 mil sacerdotes. O forte calor não impediu que, pelo menos, 50 mil pessoas se despedissem do jesuíta argentino dentro da praça, no mesmo local em que ele deu a sua última bênção, no Domingo de Páscoa. A poucos metros dali, 160 chefes de Estado e de governo prestavam um tributo a um homem que sempre colocou a paz como realidade necessária. Nos arredores, 200 mil fiéis assistiram à cerimônia a partir de telões espalhados por vários pontos. Outros 150 mil estavam posicionados ao longo do caminho do cortejo fúnebre. Entre os presidentes que renderam uma homenagem a Francisco estavam Donald Trump (EUA), Emmanuel Macron (França), Volodymyr Zelensky (Ucrânia) e Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil). Trump e Zelensky protagonizaram um momento surpreendente durante o funeral e reuniram-se na Basílica de São Pedro, a sós.

Durante a missa, aplausos e momentos de silêncio, rompidos pelas badaladas dos sinos da Basílica de São Pedro e pela música sacra entoada pelo coral. A paulista Ana Maria Andea Vitale Depiere, 63 anos, fiel do Santuário Santa Terezinha, da diocese de Campo Limpo, de Taboão da Serra (SP), estava emocionada antes de o funeral começar. “O papa Francisco é uma figura muito importante do nosso mundo. Ele colocou em sua missão o maior cuidado aos menos favorecidos. O que me chama a atenção nele é a pobreza, a simplicidade, a humildade. Ele nos ensinou a visitar as periferias”, disse. Natural de Manila, a freira filipina irmã Marivc explicou que Francisco mudou a Igreja por meio de sua vida. “Ele mostrou o que é ser igreja. Ele nos ensinou a fazer um testemunho de viver em uma casa muito simples, a residência de Santa Marta. Por isso, Francisco foi chamado de ‘revolucionário'”, comentou.

O religioso rogacionista italiano Gabrielle Pelegrino, 24 anos, considera que o papa Francisco deixa um legado de união e de paz. “Ele tentou unir a Igreja em torno do seu Cristo. Acho que o mais exemplar é que ele sempre foi às periferias. Essa multidão, aqui, significa todo o rebanho em torno de seu pastor. Essa multidão manifesta isso. Nosso querido Chico faleceu, mas está com Cristo e com Deus na porta do céu. Este é um velório de alegria, as pessoas estão fazendo festa com Francisco”, disse à reportagem.
Dora Lee Soto, natural de Puerto Rico, vê Francisco como testemunho de Jesus na Terra. “Cada papa tem seu carisma e sua história na Terra. Creio que Deus iluminará o próximo pontífice”, ponderou. A amiga, Anabel Rodríguez, destaca que “Francisco foi um papa para os pobres, de misericórdia, que esteve com o povo e se doou por igual, que se devotou à justiça social. Peço a Deus para que o próximo papa também seja de misericórdia e que saia com a Igreja, para que ela realize a necessidade dos povos.”
Para a administradora de empresas Mirella Baer, de São Paulo, Francisco deixa um “legado maravilhoso”. “Ele trouxe muita gente para perto da Igreja, com muita humildade. Cada papa escolhido é uma inspiração do Espírito Santo. A gente reza para que o próximo papa seja tão maravilhoso quanto Franscico foi e que traga a fé e a Igreja para perto de todos”, declarou. Ela escolheu a humildade como característica central de Francisco.
O pontífice do acolhimento
A italiana Regina Tana usava batom e maquiagem. Vestia uma boina de estampa de oncinha e um colar de pérolas. Mas o que chamou atenção na italiana de 60 anos foi o cartaz que ela estampou diante da Basílica de Santa Maria Maggiore, no centro de Roma, minutos depois de o papa Francisco ser sepultado no local. Um cartaz com a foto do pontífice sorridente e a frase “Santo Subito” (“Santo Já”) pedia a canonização do jesuíta argentino. “Para mim, esse ‘santo subito’ equivale a dizer que ele foi o papa da paz, do amor, da proximidade para com os homens, dos mais humildes, dos pobres e marginalizados”, afirmou ao Correio. “Para Francisco, a santidade é um valor importante. Principalmente, em relação à comunidade LGBTQIAPN . Ele nos auxiliou, à sua maneira, para que as pessoas enxerguem nossa realidade.”
Regina prefere não comparar Francisco com seus antecessores, Bento XVI e João Paulo II, no que diz respeito ao tratamento dispensado à comunidade LGBTQIAPN . “São papas de uma formação diferente. Joseph Ratzinger (Bento XVI) foi um ideólogo, muito fechado em alguns temas, mas essa era sua maneira de ser. O papa João Paulo II era um homem da comunidade, da convivência, contrário à guerra. Francisco se fez diferente. Ele uniu a Igreja hierárquica com o povo”, destacou. “A população também é formada por pobres, por humildes, pelas pessoas que sofrem e pela comunidade LGBTQ .”
O arquiteto Moisés Stival, 41 anos, faz parte da comunidade LGBTQIAPN e disse acreditar que Francisco representou uma abertura maior da Igreja Católica em relação às minorias. Moisés mora a apenas uma quadra da Basílica de Santa Maria Maggiore. “Os sinos não paravam de tocar, e ficamos em casa sem saber o que estava acontecendo. Fiquei muito triste com a notícia da morte de Francisco”, relatou. “Acho que o caminho da Igreja deve ser se abrir mais para o próximo. Com a comunidade LGBTQ e com outras comunidades minorizadas, acho que é um caminho de construção. Não está tudo resolvido, mas a gente precisa caminhar para abraçar cada vez mais e ir ao encontro do próximo.”
Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.
Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604
- China acelera substituição da soja dos EUA pela brasileira, enquanto exportações agrícolas americanas desabam com tarifas
- Bolsonaro tem melhora em exame no fígado e movimentos intestinais espontâneos, diz hospital
- Abertas as inscrições para 120 vagas de qualificação profissional no Projeto Labinclui
- Corinthians expõe falhas a Dorival no Maracanã e é goleado pelo Flamengo em jogo do Brasileirão
- Conclave: 80% dos cardeais eleitores foram escolhidos pelo papa Francisco
Deixe um comentário