O Correio foi à Rodoviária do Plano saber quais são as reclamações dos usuários com o terminal. Consórcio Catedral deve assumir o espaço ainda este mês. Segurança e mobilidade são os principais problemas
Faltam menos de 20 dias para o fim do período de transferência operacional da Rodoviária do Plano Piloto para o consórcio Catedral. O Correio ouviu o Governo do Distrito Federal (GDF) sobre quais serão as prioridades na reforma do espaço e foi até o terminal para saber quais as expectativas dos usuários — principais impactados com a mudança assinada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), em 21 de fevereiro.
O secretário de Transporte e Mobilidade (Semob), Zeno Gonçalves, disse que o prazo a transição finalizará em maio. “Todos os contratos do GDF, nas áreas de limpeza, manutenção predial, segurança, etc., estão sendo encerrados e a concessionária terá seus próprios contratos”, explicou. “Além disso, a concessionária ficará responsável pela reforma e modernização da Rodoviária, inclusive, com a construção de uma estação de operação do BRT”, acrescentou o secretário.
Segundo ele, as prioridades são garantir o funcionamento de elevadores, escadas rolantes, instalações elétricas e hidráulicas, limpeza, conservação e segurança, além de um gerenciamento adequado do terminal. “É importante destacar que a Rodoviária do Plano Piloto tem um movimento muito grande de pessoas, o que requer a atuação constante da área de segurança pública, e isso vai continuar”, garantiu. “O que caberá ao Consórcio Catedral (vencedora da licitação) é a segurança patrimonial. A concessionária terá seu próprio sistema de segurança, quando assumir a gestão do terminal”, destacou.
O vendedor Rodrigo Farias, 31 anos, mora no Itapoã e passa pelo local diariamente. Segundo ele, a Rodoviária está mais segura. “Vejo que os ambulantes estão saindo, aos poucos. Só que, na minha opinião, a necessidade maior (de melhorias) fica por conta dos elevadores e escadas rolantes, que ainda não estão funcionando plenamente”, comentou.
Ao contrário de Farias, Eliene Monteiro, 49, de Ceilândia Sul, não percebeu muitos avanços desde que a transição começou. De acordo com a empregada doméstica, a única coisa que mudou — e mesmo assim pouco, para ela — foi a situação dos ambulantes. “Eles saíram do lugar, mas, de vez em quando, ainda aparecem alguns por aqui”, disse. “A nossa esperança é que melhore, principalmente, o funcionamento das escadas rolantes e elevadores, que vivem quebrados”, ressaltou Eliene.
Violência
A estudante Cecília Meneses, 14, é uma das usuárias que pede mais segurança na Rodoviária. Apesar de acreditar que melhorias serão feitas, ela — que reside na Vila Planalto — ressaltou que teme por sentir que a criminalidade ronda o espaço. “Penso que ainda é preciso dar mais atenção para a segurança. Mesmo diminuindo um pouco, ainda vejo muitos furtos e roubos por aqui”, alertou.
O aposentado Lauzim Leite, 58, que é de Brazlândia, também pede mais policiamento e reforçou que a nova administração resolva problemas antigos e recorrentes. “A última vez que estive aqui foi no ano passado e, desde então, percebi alguma mudança. Pelo menos na plataforma inferior, vi que os ambulantes deixaram de aparecer, o que é um ponto positivo, pois a gente consegue transitar melhor”, afirmou. “Mas acho que ainda tem muito a melhorar, principalmente a segurança”, ponderou Lauzim.
Aposta
Professor de governança e gestão de custos da Universidade de Brasília (UnB), José Marilson Dantas lembrou que a concessão se deu porque houve uma falha na gestão pública. Mesmo assim, ele disse que o processo pode ser uma experiência válida para o GDF. “Um dos benefícios, falando de maneira geral, é ter um ente privado — que é muito mais ágil e tem interesse —, porque o objeto dele é, especificamente, aquele espaço”, ressaltou.
De acordo com o especialista, a proposta também prevê um volume de investimentos considerável (R$ 120 milhões durante os 20 anos de concessão). “Por isso, acredito que o serviço público resultante da concessão, para a população, vai ser interessante”, avaliou.
O desafio, apontou Dantas, é fazer com que as metas de investimentos sejam cumpridas e o serviço de qualidade seja oferecido. “Tudo isso a um preço adequado, para que a sociedade não venha a pagar, mais uma vez, por uma gestão inadequada do setor público, que a transferiu ao setor privado. E evitar que a qualidade de serviço fique muito aquém do que a pactuada”, ressaltou.
Povo-fala
Qual a sua expectativa depois da privatização da Rodoviária?
“A rodoviária nos últimos meses estava um lixo. Não conseguimos usar banheiro, escadas e tem muita sujeita. Eu espero que agora melhore bastante e que a gente tenha um lugar habitável novamente”
José Augusto Lopes, 49, pintor (Ceilândia)
“Quem precisa pegar ônibus à noite sabe como a Rodoviária é um lugar tenso. Esperamos que isso melhore, além da acessibilidade e do tempo de espera pelos ônibus.”
Lucas de Oliveira, 23, técnico em enfermagem (Samambaia)
“A gente espera que melhore, tanto a qualidade dos ônibus quanto do espaço. Muita gente passa o tempo aqui, é necessário melhorias até mesmo pensando no futuro”
Pamela Rosa da Silva, 25, costureira (Cidade Ocidental)
“Está péssimo. Escadas rolantes quebradas, banheiros imundos e falta acessibilidade. Recentemente, estive com as duas pernas machucadas e tive que subir as escadas porque o elevador também não funcionava. Essas melhorias precisam ser feitas urgentemente”
Luísa León, 76, aposentada (Asa Norte)
“Fico um pouco aflito, afinal, é uma empresa particular que vai tomar conta de uma coisa que algum público deveria estar tomando. Mas, pelo menos nos primeiros dias que eles tomaram posse, deram uma esperança para gente de que vai melhorar. A gente se prepara para o pior, mas espera o melhor”
Johnny Borges, 29, compositor (Sudoeste)
Processo de concessão
Junho de 2021 — O GDF envia à Câmara Legislativa (CLDF) o Projeto de Lei nº 2260/2021, que autoriza a concessão da gestão do Complexo da Rodoviária do Plano Piloto à iniciativa privada por um período de 20 anos;
Dezembro de 2023 — Após tramitação e debates, a CLDF aprova o projeto de lei, dando início ao processo de concessão;
Fevereiro de 2024 — Publicado o edital de licitação para a concessão da Rodoviária do Plano Piloto, atraindo o interesse de empresas e consórcios;
Junho de 2024 — O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) determina a suspensão da licitação, para que a Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob-DF) corrija o edital;
Julho de 2024 — A corte de Contas autoriza a continuidade da licitação, após as correções no edital;
Outubro de 2024 — O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), assina o contrato de concessão da Rodoviária do Plano Piloto. No mesmo mês, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) suspende o processo, atendendo a um pedido de um dos consórcios participantes da licitação;
Janeiro de 2025 — O Consórcio Rodoplano, que havia questionado a licitação na Justiça, desiste do recurso, permitindo a retomada do processo de concessão;
Fevereiro de 2025 — Ibaneis Rocha assina a ordem de serviço para o início da operação da Rodoviária do Plano Piloto pela iniciativa privada, marcando o início da fase de transição.
Você sabia?
Coração da cidade
A Rodoviária do Plano Piloto foi fundada em 12 de setembro de 1960, mesmo dia do aniversário de Juscelino Kubitschek, então presidente do Brasil e fundador de Brasília. Nos anos 1970, por causa do aumento constante no fluxo de passageiros, houve a necessidade de realizar as primeiras adaptações e expansões na estrutura original. Em 1997, com o início da operação do Metrô-DF, a estação Central se tornou um ponto de integração crucial entre o transporte rodoviário e metroviário.
Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.
Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604.
- Abertas as inscrições para a segunda edição do Casamento Comunitário de 2025
- Mesmo com fraudes, PDT segue na Previdência
- Conclave: jornais falam em “complô” de Macron na escolha do novo papa
- Mudança de gestão da Rodoviária do Plano chega na reta final; veja balanço
- Falsos conselheiros tutelares tentam sequestrar bebês em Goiás
Deixe um comentário