Conheça os “príncipes da Igreja” mais cotados como futuro pontífice na liderança dos 1,4 bilhão de católicos no mundo, dos quais 182 milhões estão no Brasil
Enquanto os olhos do mundo voltam-se para o céu do Vaticano, de onde fumaça branca ou preta emergirá hoje por volta das 19h (14h de Brasília), dentro da Capela Sistina, 133 purpurados são mantidos isolados, decidindo o nome do sucessor de Francisco. Entre eles, está o homem que, pelos próximos anos, ocupará o trono de São Pedro. Há um velho ditado entre os vaticanistas que vem sendo repetido à exaustão: quem chega ao conclave papa, sai cardeal. Isso significa que nem sempre um dos nomes apontados pela mídia especializada — muitas vezes, soprados pelos próprios purpurados antes da reclusão — será, de fato, o do novo pontífice. Porém, as especulações não são meros palpites, e baseiam-se em critérios, como o perfil que a Igreja procura para determinado momento.
Jogo de cintura é uma das características necessárias agora, destaca o sociólogo da Universidade de Rice, nos Estados Unidos, Craig Considine, autor de diversos livros sobre o cristianismo. “O próximo papa herdará uma Igreja global navegando em um mundo em rápida mudança, lutando com debates internos e pressões externas”, lembra.
Os chamados “príncipes da Igreja” insistem que, dentro da Cúria, não há divisão entre conservadores e progressistas, mas o posicionamento dos próprios cardeais em relação a temas eclesiásticos ou seculares faz transparecer essas diferenças. Para Vicente Paulo Alves, doutor em Ciências da Religião e professor do curso de Teologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), hoje, a capacidade de obter consenso entre as diferentes alas é um ponto a favor de um papável. “Outras características são forte experiência pastoral e diplomática; equilíbrio entre doutrina e abertura pastoral; boa saúde física e mental; capacidade de diálogo inter-religioso e intercultural; e liderança comprovada em dioceses ou em cargos na Cúria Romana”, enumera Alves
Desde a morte de Francisco, em 21 de abril, vários nomes têm sido destacados como o potencial pontífice. Ao longo dos últimos dias, alguns se mantêm, enquanto outros entram ou saem da lista. Conheça alguns deles.
Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, franco-argelino, 66 anos
Nascido na Argélia e de origem andaluz, Aveline passou a maior parte da vida em Marselha. O nome do religioso aparecia, discretamente, nas primeiras listas de papáveis, mas nos últimos dias começou a ganhar mais força entre a imprensa italiana e especializada. Ele é um defensor ferrenho da acolhida à migração e do diálogo inter-religioso, dois pontos que compartilha com o papa Francisco. Aveline foi feito cardeal em 2022 e integra os Dicastérios para os Bispos e para o Diálogo Inter-religioso, funções que exigem que viaje a Roma com frequência. É descrito como afetuoso, focado e aberto. Tinha a amizade de Francisco e defende uma Igreja menos eurocêntrica e mais voltada às chamadas “periferias”.
Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, italiano, 70 anos
Durante quase todo o pontificado de Francisco, foi o segundo nome mais importante na hierarquia do Vaticano e, de acordo com o jornal italiano La Stampa, lidera a “boca de urna” no conclave, embora não tenha os dois terços dos votos, necessários para se tornar papa. Parolin é diplomata, participou das negociações que retomaram as relações entre o Vaticano e o México, atuou como núncio na Venezuela e mediou o diálogo entre os Estados Unidos e Cuba. Representa a continuidade, ao mesmo tempo em que sua postura moderada abre a porta para consertar fraturas dentro da Igreja. O cardeal é bem conhecido por líderes mundiais e diplomatas e também conhece os meandros da Cúria romana, o aparato administrativo da Santa Sé.
Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, italiano, 60 anos
Conhecedor do Oriente Médio, o franciscano e teólogo italiano fala hebraico e inglês e chegou em Jerusalém em 1999. Em setembro de 2023, tornou-se o primeiro patriarca de Jerusalém em exercício — a principal autoridade católica do Oriente — a ser nomeado cardeal. Um mês depois, eclodiu a guerra entre o movimento islamista palestino Hamas e Israel. Seus repetidos apelos por paz o colocaram em destaque. Alguns de seus colaboradores o veem como um possível sucessor do jesuíta argentino, já que a Ordem Franciscana também defende um estilo de vida austero. O cardeal fez uma visita surpresa a Gaza em 22 de dezembro de 2024, onde presidiu uma missa pré-natalina.
Matteo Maria Zuppi, arcebispo de Bolonha, italiano, 69 anos
Membro da Comunidade Romana de Santo Egídio, braço diplomático não oficial da Santa Sé, o discreto e experiente diplomata foi mediador em Moçambique e enviado especial do papa Francisco para a paz na Ucrânia. Representaria uma certa continuidade de Francisco, especialmente na defesa dos mais desfavorecidos, embora seu estilo seja mais moderado que o de Jorge Mario Bergoglio. Nomeado cardeal pelo papa argentino em 2019, Zuppi goza de grande popularidade na Itália, onde é conhecido por viver em uma residência para sacerdotes idosos e se locomover de bicicleta. Defende a acolhida de migrantes e da comunidade LBGTQIAP+ dentro da Igreja.
Mario Grech, bispo de Gozo, maltês, 68 anos
É secretário-geral do sínodo: ele chefia o órgão que reúne informações das igrejas locais sobre questões cruciais, como o lugar das mulheres na Igreja ou o casamento de pessoas divorciadas, e o repassa ao papa. Neste papel, em 2020, conseguiu realizar um delicado ato de equilíbrio, seguindo a liderança de Francisco na criação de uma Igreja aberta e atenta e, ao mesmo tempo, levando em conta as preocupações dos conservadores. Tentar criar mais corresponsabilidade na governança da Igreja e torná-la relevante para os fiéis de hoje alarmaram as correntes mais tradicionais, que defendem uma hierarquia de clérigos totalmente masculina. O papa Bento XVI o nomeou bispo de Gozo em 2005 e Francisco o designou cardeal em 2020.
Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo, luxemburguês, 66 anos
Este cardeal jesuíta, como Francisco, é um apaixonado pela literatura alemã e pela cultura japonesa. Também é membro dos dicastérios de Cultura e Educação, bem como do Diálogo Inter-religioso. Especialista em relações culturais entre Europa e o Extremo Oriente, Hollerich é conhecido como um teólogo firme no dogma, mas aberto a mudanças sociais, assim como o papa argentino. Já demonstrou desdém por aqueles apegados ao antigo rito e ao catolicismo conservado, embora ele diga que gosta da missa em latim e permite que ela continue sendo celebrada em sua diocese, até mesmo em sua catedral.Tem tendência claramente progressista, defendendo mulheres diaconisas e colocando-se aberto à ordenação de sacerdotes do sexo feminino. Também apoia a bênção de uniões homossexuais.
Péter Erdö, arcebispo de Budapeste, húngaro, 72 anos
É admirado por seus conhecimentos teológicos e sua abertura a outras religiões. Fervoroso defensor do diálogo com os cristãos ortodoxos, também direciona atenção especial à comunidade judaica. Tem opiniões muito conservadoras sobre os casamentos de divorciados e casais homoafetivos. Intelectual que fala sete línguas, autor de mais de 250 artigos e 20 livros, foi nomeado bispo pelo papa João Paulo II em 2000, arcebispo de Budapeste em 2002 e cardeal um ano depois. Há duas décadas figura na lista dos papáveis e, recentemente, foi criticado pela proximidade com o primeiro-ministro húngaro de extrema-direita Viktor Orban. Se eleito papa, será o segundo pontífice oriundo de um país do antigo bloco comunista.
Luis Antonio Tagle, arcebispo emérito de Manilla, 67 anos
Como o papa argentino, é um defensor dos pobres, migrantes e pessoas marginalizadas, a ponto de ser chamado de “Francisco asiático”. Apelidado de “Chito”, foi designado cardeal por Bento XVI em 2012 e já estava entre os papáveis no conclave de 2013. Sempre manteve um estreito laço com Francisco, que lhe encarregou em 2019 a Congregação para a Evangelização dos Povos, que supervisiona as atividades de difusão do catolicismo no mundo. Orador eloquente de voz calma, Tagle ri de suas próprias piadas e injeta humor autocrítico em suas homilias. Mas também é conhecido por ser franco. Em uma cúpula do Vaticano em 2019 sobre combate ao abuso sexual infantil, apontou os escalões superiores da Igreja católica.
Peter Turkson, chanceler da Academia de Ciências e da Academia de Ciências Sociais do Vaticano, ganês, 76 anos
É considerado uma das figuras mais influentes da Igreja na África, onde o catolicismo cresce rapidamente e de onde poderia sair o próximo papa e foi designado cardeal por João Paulo II. Encarregado dos assuntos econômicos e sociais, considerados prioritários por Francisco, Turkson, que fala seis idiomas, viajou várias vezes para o Fórum de Davos. Lá, alertou líderes empresariais e políticos contra os riscos e os limites das teorias neoliberais que defendem o favorecimento fiscal dos mais ricos. Embora tenha criticado as leis homofóbica em países africanos, defende a posição da Igreja sobre o assunto, rejeitando a ideia de que a homossexualidade é uma questão de direitos humanos.
Fridolin Ambongo, arcebispo de Kinshasa, congolês, 65 anos
Importante voz do movimento pacifista em seu país natal, marcado por décadas de violência, Ambongo pode receber votos dos cardeais conservadores. Ele assinou uma carta em 2024 contra a autorização de Francisco à bênção de casais homoafetivos. É cardeal desde 2019, designado pelo papa argentino, e faz parte do C9, grupo de nove cardeais encarregado de aconselhar o papa sobre a reforma da Igreja. É considerado um grande promotor da Justiça social e que se envolve destemidamente na política em nome dos pobres. Na República Democrática do Congo, é visto como um líder da oposição ao presidente Félix-Antoine Tshisekedi Tshilombo.
Robert Sarah, prefeito-emérito da Congregação para o Culto Divino, guineense 79 anos
Com posições muito conservadoras sobre a homossexualidade e a imigração, é uma figura de destaque entre os cardeais tradicionalistas críticos ao papa Francisco. Em janeiro de 2024, falou em nome de muitos bispos africanos ao qualificar de heresia o texto da Santa Sé que busca o caminho para a bênção de casais do mesmo sexo. Também foi um dos cinco cardeais conservadores que, em outubro de 2023, pediram publicamente a Francisco que reafirmasse a doutrina católica sobre os casais do mesmo sexo e a ordenação de mulheres. Quanto à imigração, criticou a onda migratória da África subsaariana para a Europa. Segundo os especialistas, suas posições radicais comprometem suas possibilidades para o conclave.
Robert Prevost, arcebispo emérito de Chiclayo, norte-americano, 69 anos
Dos cardeais das Américas, é o que tem mais chances devido à sua inclinação pastoral, perspectiva global e capacidade de governar a Cúria Romana, segundo os especialistas. Também tem cidadania peruana desde 2015. Prevost chegou ao país andino como um jovem missionário agostiniano e, de lá, partiu como bispo para o Vaticano, para se tornar uma figura central na administração do papa Francisco, com quem compartilhava o desejo por reformas na Igreja. Após a morte do argentino, afirmou que ainda “há muito a fazer” na transformação do catolicismo. É considerado discreto e enfrenta resistência nos setores mais conservadores do Vaticano. Tem sólida formação em direito canônico, uma vantagem nos círculos que buscam uma abordagem mais focada em teologia.
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