Dados do IBGE mostram desigualdades históricas e reforçam a relação entre as comunidades quilombolas e o território rural
Mais de 60% da população quilombola brasileira vive em áreas rurais, revela o novo suplemento do Censo 2022 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados mostram uma realidade diferente da da população brasileira em geral, cuja maioria vive nas cidades. Dos 1,3 milhão de quilombolas identificados, cerca de 820,9 mil (61,71%) residem no campo, enquanto pouco mais de 509 mil (38,29%) vivem em zonas urbanas.
Enquanto apenas 12,6% da população brasileira vive em áreas rurais, esse percentual salta para mais da metade entre os quilombolas. Essa relação com o território não é casual. De acordo com o professor e historiador Rodrigo Caetano, “nós podemos definir os quilombos como comunidades de resistência à escravidão dentro do período colonial e imperial”, que buscavam preservar vínculos com identidade, cultura e território — os três elementos que, segundo ele, foram sistematicamente rompidos pela escravidão.
As comunidades quilombolas ainda enfrentam as consequências dessa exclusão histórica. Entre elas, a precariedade no acesso a saneamento básico: 6,36% dos quilombolas em áreas rurais vivem em domicílios sem banheiro ou sanitário, índice maior que os 4,26% registrados entre a população rural em geral. Nos territórios quilombolas oficialmente delimitados, o número é ainda mais alto: 7,03%.
Além disso, 94,62% dos quilombolas em áreas rurais vivem em domicílios com alguma forma de precariedade nos serviços de abastecimento de água, esgoto ou coleta de lixo. No campo, a média brasileira é de 87,20%. Já nas cidades, 18,71% da população em geral vive em moradias precárias, número que sobe para 53,61% entre os quilombolas.
Para Caetano, essa realidade é resultado da invisibilidade histórica das comunidades quilombolas. “Se você não produz informação sobre os quilombos, então eles não existem para o Estado”, afirma. O historiador lembra que o Censo 2022 foi o primeiro a coletar dados específicos sobre quilombolas. Para ele, isso reflete um “racismo estrutural e uma má tradição do Brasil” de não produzir informações qualificadas sobre sua própria população, especialmente sobre grupos historicamente marginalizados.
Mesmo diante das adversidades, as comunidades quilombolas seguem reafirmando sua identidade e laços com a terra. Após a abolição da escravidão, os quilombos ganharam novos significados. “Se lá tinha a ver com a resistência à escravidão, mas ela não existe mais, os quilombos vão ser ressignificados”, explica Caetano. “Tem a ver com a afirmação de um vínculo com a terra, uma forma específica de existir, de se organizar, de produzir”.
*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes
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