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Caps do Distrito Federal tiveram aumento no atendimento à saúde mental em 2022

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Segundo a Secretaria de Saúde, no ano passado, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) tiveram alta na procura dos serviços no DF. Especialistas destacam reflexos socioeconômicos, principalmente após o período de pandemia

 (crédito: Pedro Marra/CB/D.A. Press)
(crédito: Pedro Marra/CB/D.A. Press)
Impacto da pandemia da covid-19, isolamento social, abandono de atendimento psicológico e restrições de contato direto. Especialistas argumentam que esses são os principais fatores para o aumento, nos últimos dois anos, dos atendimentos a serviços de saúde a pessoas com transtorno mental ou sofrimento psíquico no Distrito Federal. Segundo a Secretaria de Saúde (SES) divulgou ontem, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) tiveram alta de 2021 para 2022 na prestação dos serviços para o tratamento de sofrimentos mentais graves e persistentes, decorrentes ou não do abuso de álcool e drogas, com foco nos processos de reinserção e reabilitação psicossocial. O número subiu 1,3% — de 176,6 mil para quase 179 mil de um período para o outro.
Com sintomas de ansiedade há cinco meses, o pequeno Daniel Gomes, de 2 anos, filho da servente de serviços gerais Ildenes Maria Pereira, 46, não dorme com facilidade e tem tido comportamento hiperativo. Após ser examinado por um pediatra, o menino foi encaminhado ao Centro de Atenção Psicossocial Infantil Taguatinga (Capsi), onde fez a primeira consulta com terapeuta ontem à tarde. “Direcionaram à pessoa certa, não teve espera e meu filho foi atendido. O acompanhamento vai ser bom. Ele quebrava tudo, se bate, o que a pediatra não achou normal”, relembra Ildenes.
Ildenes Maria Pereira com o filho Daniel Pereira, 2 anos, no Centro de Atenção Psicossocial Infantil Taguatinga
Ildenes Maria Pereira com o filho Daniel Pereira, 2 anos, no Centro de Atenção Psicossocial Infantil Taguatinga(foto: Pedro Marra/CB/D.A. Press)

 

O apoio inicial também foi importante para a estudante do 2º ano do ensino médio Sabrina Caitano, 17, com sintomas de ansiedade há dois anos. Pai da jovem, o vigilante Leandro Nascimento, 43, afirma que a filha melhorou e se acalmou, mas após iniciar o acompanhamento psicossocial no Capsi de Taguatinga, onde faz consultas mensais para avaliar a redução dos ansiolíticos da adolescente. “Tanto que no quarto acompanhamento com psicóloga, ela deu alta e a medicação está diminuindo. Ela começou a interagir mais com a gente e participa mais das atividades de rotina e brinca também”, relata.

Sabrina confessa que melhorou bastante. Ela tinha vergonha de tudo, como falar em público, por exemplo. Nas conversas na sala de casa, em Ceilândia Norte, a jovem lembra o suporte familiar que recebeu. “O que me ajudou muito foi o apoio dos meus pais desde o início. Nas primeiras vezes que tive ataque de pânico, minha mãe falou para o meu pai me levar ao psicólogo. Isso me ajudou bastante”, emociona-se.

Uma questão social

Além do afago dos pais ou responsáveis no momento difícil, a professora do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB) Larissa Polejack Brambatti destaca que o Caps é um serviço criado para abandonar o modelo manicomial. “Se a gente for pensar em quais fatores afetam as pessoas, não dá para descolar a questão da saúde mental das condições socioeconômicas. Entende-se que a saúde mental também está associada aos determinantes sociais, condições de trabalho e de vida”, analisa.

Larissa aponta que outra questão que vai influenciar nos atendimentos é a pandemia da covid-19, que causou mais de 600 mil mortos e isolamento social com problemáticas familiares e de comportamento. “Tivemos impacto na população em geral. Vários estudos mostraram agravamento da saúde mental, além do medo da contaminação, da própria covid-19, sequelas da doença. Além disso, tivemos o luto, que é um problema de saúde pública”, complementa a docente.

Para a professora e coordenadora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da UnB, campus de Ceilândia, Andrea Gallassi, a crise sanitária afetou fortemente os jovens devido também à falta de interação pessoal entre amigos e colegas de escola. “Esses adolescentes que estão em franco processo de desenvolvimento tiveram uma parte bastante significativa da sua vida aprisionados em casa por conta do distanciamento social, e isso trouxe consequências ruins para a saúde mental, por conta das restrições das relações sociais, que é uma das características mais presentes na adolescência”, contextualiza.

Além de pessoas que adquiriram problemas psicológicos, a especialista cita que a pandemia foi um fator principal que gerou problemas para pessoas com transtorno mental ou dependência de álcool ou drogas. Dessa forma, não conseguiram continuar o atendimento nos Caps devido aos serviços que estavam com impeditivos no atendimento. “As pessoas que tinham problemas e não tiveram tratamento continuado porque os serviços estavam com restrição no atendimento, ficaram desassistidas e em um sofrimento grande”, avalia a docente Andrea Gallassi.

Fonte: Correio Braziliense

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