Equipe feminina de Brasília disputará torneio mundial de canoa havaiana
Praticantes da modalidade encontraram nesse esporte aprendizado de união e respeito à natureza
Imagine a satisfação de conseguir se classificar para disputar o campeonato mundial de seu esporte preferido. Com as atletas brasilienses da canoa havaiana, esse sonho se tornou realidade. Em agosto, no Havaí, representarão o Brasil numa modalidade também conhecida como “va’a” (canoa, em havaiano), que, segundo elas, alia natureza e qualidade de vida. A embarcação desse esporte se caracteriza por ser movida a remo e possuir um flutuador lateral — chamado “ama” — que dá estabilidade à embarcação.
A prova em que o grupo do Distrito Federal foi selecionado para a competição internacional — que ocorrerá entre 13 a 24 de agosto, na cidade de Hilo — aconteceu em outubro, no Lago Paranoá. Elas obtiveram o 4º lugar nos 1.500m do open feminino e também a quinta posição, tanto nos 500m do open feminino quanto nos 1.000m do master feminino. A Federação Brasiliense de Va’a (Febvaa) calcula que esse esporte seja praticado por 2 mil pessoas aqui, no quadradinho.
Em 2016, a empresária Daniela Monteiro, 46 anos, integrante da equipe candanga, conheceu a canoagem havaiana. Ela disse que se surpreendeu com a “energia viva” da modalidade transmitiu. Para a revisora de textos, atleta profissional e capitã do grupo, Ana Paula Reis, 44, o que mais chamou sua atenção foi se tratar de um esporte milenar, com valores e ensinamentos relevantes. “Aprendemos a importância da união, do respeito à natureza, da necessidade de sermos humildes e do bom trabalho em equipe”, ressaltou.
Na rotina de treinos, planejada pelo treinador e vice-campeão mundial de Va’a Rafael Maia, 38, casado com Ana Paula, a preparação acontece em média três vezes por semana, com a duração de uma hora. Cada atleta, porém, também se dedica a exercícios individuais, inclusive, em terra firme.
A canoa havaiana pode ser praticada por pessoas de todas as idades, explicou a capitã, que acrescentou: “não existe um perfil. Inclusive, pessoas com deficiência visual podem praticar. É tudo uma questão de conexão com a natureza e com a embarcação”.
“Não é apenas uma questão de lidar com o condicionamento físico. Há uma energia e conexão únicas na modalidade. Percebi que casaria com a minha necessidade de água, semelhante ao contato que eu tinha no Rio de Janeiro”, contou a delegada Renata Pereira, 42. A carioca passou em um concurso público e se mudou para a capital federal em 2017. Surpreendeu-se com a saudade que passou a sentir das águas de Copacabana. O jeito foi procurar algo que a ajudasse a suprir essa falta, solução que encontrou nesse esporte aquático.
Segundo Renata, a canoa representa saúde, por exigir uma boa rotina de sono e alimentação, mas também significa espírito de equipe e união, fatores que contribuem para seu bem-estar mental. “Fisicamente, é um esporte muito completo e com pouco impacto. Desde que esteja tudo equilibrado, é muito difícil que a pessoa se lesione”, acrescentou.
Desafios
Sobre a classificação para o mundial, a capitã Ana Paula contou que o maior desafio foi encontrar meninas que pudessem e quisessem estar comprometidas 100% com os treinos, que deviam ser encarados como prioridade. Dividir a mesma vontade e sonho foram, para ela, fundamentais para o êxito do grupo.
“Aprendemos que, numa canoa, viramos uma só, todas sincronizadas não apenas a cada remada, mas nos objetivos, metas e em busca de evolução. Na seletiva para o mundial, disputamos com as melhores equipes do Brasil, e nosso resultado não poderia ter sido melhor”, comemorou. O grupo conquistou uma vaga em duas categorias: Open — a mais disputada — e na Master 40, para participantes com idades entre 40 e 49 anos.
Elas estão confiantes de que conseguirão fazer bonito no Havaí. Mas, como nem tudo são flores, falta patrocínio. “Estamos na expectativa de sair um incentivo pelo programa Compete Brasília”, declarou a capitã sobre uma esperada ajuda financeira que permitirá comprar as passagens aéreas.
Luciana Sampaio, 33, bancária e presidente da Febvaa, lamentou o fato de sua modalidade ainda não ser olímpica. E, por isso, de acordo com palavras dela: “Não atrai grandes investimentos. Assim, as atletas assumem quase todos os custos para poder competir, seja fora ou dentro do Brasil”.
“Apesar dos obstáculos de ordem financeira e organizacional, temos chances reais de trazer a medalha para o Brasil”, enfatizou a delegada Renata, que está literalmente no mesmo barco com suas colegas, com quem compartilha a certeza de que representarão bem o Brasil.
A confiança das canoístas candangas está, como disseram, em que a classificação resultou do foco que tiveram nos treinos, o que comprovou que elas têm um objetivo comum muito firme.
Por dentro da canoagem havaiana
A presidente da Federação Brasiliense de Va’a (Febvaa), Luciana Sampaio, disse que o esporte chegou a Brasília em 2003. No Brasil, porém, a primeira escola foi fundada no Rio de Janeiro em 1998. Para 2025, está previsto que, pela primeira vez, o Brasil sediará o mundial da modalidade em Niterói (RJ).
A Va’a — ou canoa havaiana — tem categorias de 11 a 80 anos, além de disputas para paratletas. Recentemente, a federação incluiu provas destinadas a jovens e adultos com algum tipo de deficiência intelectual ou motora. O objetivo é agregar ainda mais pessoas ao esporte, explicou Luciana.
Com informações do Correio Braziliense
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