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Estados Unidos: Após condenação, Trump volta à campanha e às fake news

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Donald Trump ataca sistema judicial norte-americano, afirma que sua condenação foi “injusta”, compara o juiz a um “demônio” e utiliza o primeiro pronunciamento após julgamento para espalhar mentiras sobre temas críticos no país

Menos de 24 horas depois de se tornar o primeiro ex-presidente da história dos Estados Unidos condenado em um julgamento penal, Donald Trump adotou o papel de vítima, qualificou o processo de “injusto”, chamou o juiz Juan Merchan, da Corte Criminal de Manhattan, de “demônio” e buscou não perder tempo. Durante pronunciamento de 33 minutos à nação, na manhã desta sexta-feira (31/5), além de abordar o veredicto de culpado em todas as 34 acusações de fraude contábil para ocultar pagamentos à ex-atriz pornô Stormy Daniels, o magnata republicano falou sobre criminalidade em Nova York e imigração, encenando o retorno à campanha eleitoral.

Também despejou várias fake news: chegou a afirmar que “um número recorde de terroristas” atravessou a fronteira entre EUA e México, supostamente motivados por “falhas de segurança”; e disse que dezenas de milhares de jovens chineses desembarcaram no país, os quais teriam a aparência de “soldados perfeitos”. 

A primeira condenação na Justiça parece ter galvanizado o apoio ao ex-presidente republicano, favorito para retornar à Casa Branca, em 5 novembro, segundo as pesquisas. Desde a tarde de quinta-feira (30), quando o veredicto tomado pelos 12 jurados foi anunciado pelo juiz, a equipe de campanha de Trump conseguiu arrecadar U$ 35 milhões (cerca de R$ 183,4 milhões) em pequenas doações. “O corrupto (presidente) Joe Biden e os democratas, com sua caça às bruxas política de interferência eleitoral, despertaram o movimento MAGA como nunca antes”, disseram os colaboradores da campanha Chris LaCivita e Susie Wiles em um comunicado, em alusão ao slogande campanha de Trump “Make America Great Again” (“Torne a América Grande Novamente”).

Trump denunciou suposta politização do julgamento. “Foi muito injusto… Vocês viram o que aconteceu com algumas das testemunhas que estavam do nosso lado. Eles foram literalmente crucificados por este homem, que parece um anjo, mas, na verdade, é um demônio”, afirmou, na Trump Tower, em Manhattan, ao citar o juiz Mechan. “Vamos apelar dessa fraude… Baseando-nos em diferentes elementos”, acrescentou o bilionário. O ex-presidente disse que vive em um “Estado fascista”.

O democrata Joe Biden declarou que "Trump ameaça a nossa democracia"
O democrata Joe Biden declarou que “Trump ameaça a nossa democracia”(foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP)

Biden criticou o antecessor e adversário por ter colocado em xeque o sistema judicial norte-americano. “É perigoso, é irresponsável, alguém dizer que o julgamento foi fraudado só porque o veredicto não lhe agrada”, afirmou, ao comentar, pela primeira vez, o julgamento do rival. “O sistema de justiça deve ser respeitado. Não devemos permitir que ninguém o derrube. (…) Ninguém está acima da lei”, reiterou o democrata. Na rede social X, Biden reforçou os ataques. “Trump ameaça nossa democracia. Primeiro, ele questionou o nosso sistema eleitoral. Depois, questionou o nosso sistema judicial. E agora, vocês podem detê-lo”, escreveu.

Prisão

Professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal chefe para o Distrito Leste de Michigan, Barbara McQuade disse ao Correio que Trump não enfrentará nenhuma penalidade até a leitura da sentença, em 11 de julho. “Ainda assim, o tempo de prisão é uma incerteza, devido à natureza não violenta das acusações e à falta de condenações anteriores. No entanto, a ausência de remorso e violações repetidas de ordens judiciais são fatores que podem pesar a favor do tempo de prisão”, explicou. 

McQuade ressaltou que a condenação de um ex-presidente ou de um candidato à Casa Branca não tem precedentes na história dos Estados Unidos. A especialista ressaltou que a condenação por um crime não impede alguém de concorrer à Presidência. “A menos que Trump receba uma pena de prisão, não haverá uma consequência direta para a corrida eleitoral. No entanto, creio que o veredicto de quinta-feira pode ser um fator relevante para os eleitores em 5 de novembro”, admitiu. A ex-procuradora disse que sempre existe a possibilidade de reversão, em uma apelação, com base em erros jurídicos. “Mas não estou ciente de nenhum deles.”

Bruce Ackerman, professor de direito da Universidade de Yale (em New Haven, Connecticut), acredita que Trump terá meses difíceis até as eleições. “A condenação prejudicará seriamente suas perspectivas eleitorais em novembro”, admitiu ao Correio. Segundo ele, três estados indecisos vão determinar o resultado do pleito: Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. Em 2020, Biden venceu em todos, com margem estreita. “Se voltar a ganhar, triunfará mais uma vez sobre Trump. Se perder em pelo menos um deles, será difícil compensar a derrota obtendo maioria em outro estado indeciso”, observou. Ele prevê que Biden aproveite os dois debates eleitorais na televisão para enfatizar a condenação criminal do republicano, assim como a decisão da Suprema Corte de cercear o direito ao aborto. “Muitas mulheres com viés conservador nesses três estados indecisos e decisivos provavelmente premiarão Biden com um segundo mandato.”

EU ACHO…

Barbara McQuade, professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal chefe para o Distrito Leste de Michigan
Barbara McQuade, professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal chefe para o Distrito Leste de Michigan(foto: Wikipedia)

“O veredicto contra Trump representou uma grande vitória do Estado de direito, ao mostrar que ninguém, não importa quão poderoso seja, está acima da lei. Trump foi indiciado por um grande júri e condenado por um pequeno júri. Ele recebeu o devido processo e um julgamento justo. O ex-presidente está sendo responsabilizado por seus crimes.” 

Barbara McQuade, professora de direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal chefe para o Distrito Leste de Michigan

Com informações do Correio Braziliense

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