Parte dos trabalhadores presentes à celebração do 1º de Maio organizada pelas centrais sindicais na praça Campo de Bagatelle, zona norte da capital paulista, não estava preocupada com a redução da jornada, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais ou a igualdade salarial entre homens e mulheres, que estampavam faixas, cartazes e bandeiras distribuídas pelo evento.
A principal preocupação era preencher o maior número possível de cupons, entre os 3 milhões distribuídos, para concorrer ao sorteio de dez carros zero-quilômetro Polo Track, da Volkswagen.
Pessoas de pé, preenchendo cupons, era a cena mais comum observada no início do ato, organizado por Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores do Brasil), entre outras entidades, que começou às 9h da manhã desta quinta.
O operário Rafael Santos Souza, 36, tinha cerca de 20 cupons em mãos. Foi a primeira vez que ele participou do ato. “Vim pelo sorteio, não foi nem pelos shows”, diz ele, que trabalha em uma fabricante de chuveiros. Ele considera “muito triste” o atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mais pela redução do poder de compra da população do que pelos escândalos políticos, como o que envolveu descontos indevidos de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
“Casei recentemente, minha mulher também trabalha em indústria. As contas aumentaram. Os benefícios [como o Minha Casa, Minha Vida] não estão muito legais. Você vai pagar aluguel, o aluguel está alto. Vai comprar algo no mercado, o valor está alto”, diz Souza, que afirma ter sido “muito petista no passado”.
“Mas na última eleição votei no [Jair] Bolsonaro. Desanimei no governo Dilma [Rousseff], com o [Michel] Temer. O governo tem ficado bem longinho [dos trabalhadores]”, diz.
Mas o que mais incomoda o operário é a falta de reconhecimento dentro da própria empresa. “Estou disposto a estudar mais, me especializar, mas não vejo a empresa valorizando nada disso”, diz ele, que trabalha na seção de almoxarifado. Fez cursos para operar empilhadeiras e queria ir além, mas não sente que será recompensado. “Crescer dentro da empresa é difícil.”
Quem também se sente desmerecida pelo empregador é a metalúrgica Silvana Santos Lopes, 52. Ela trabalha há dez anos na mesma empresa. “Quem entra agora recebe o mesmo valor que eu. Precisa melhorar, né?”, diz ela, que ganha cerca de R$ 2.000 ao mês.
A colega Joice Nascimento, 48, tem a mesma percepção. “O mercado de trabalho está defasado. A gente merece salário e condições melhores”, afirma. “Às vezes, dependendo da quantidade de trabalho, temos só meia hora de almoço.”
A estudante de estética Nathalia Cordeiro, 26, foi ao evento por sugestão da mãe, que ficou em casa para cuidar da sua filha. Seu maior interesse está no sorteio do carro. Não pensa em ser funcionária com registro em carteira, como a mãe, com um salário que permite comprar pouco. “Quero ser autônoma”, diz ela, que já faz alguns trabalhos como esteticista.
As metalúrgicas Joice e Silvana também foram ao ato pelo carro, mais até do que pelos shows, dizem. Ao longo do dia, se apresentaram Fernando e Sorocaba, Edson e Hudson, Thaeme & Thiago, Grupo Pixote, Sampa Crew, entre outros.
Silvana votou em Lula, mas considera que “o negócio está difícil”. “A gente vai ao mercado e não consegue comprar as coisas. Um absurdo. As coisas só aumentam, aumentam, aumentam. E o salário nada”, diz.
Joice, por sua vez, se diz desacreditada de política. Só votou em Lula em 2002, no primeiro mandato do petista. Anulou o voto nas últimas eleições.
“Eu sou Lula, mas ele está um pouco fraco”, diz o funcionário público aposentado José Carlos Balbino, 75. “Os assessores dele, não sei o que estão fazendo. A gente não tem fé em nenhum deles.
Troca aqui, amanhã troca outro, depois troca outro. Olha o que aconteceu com o INSS”, afirma.
O que mais o incomoda é a redução do poder de compra, corroído pela inflação nos últimos anos.
“Está muito diferente hoje a quantidade de salário e o custo de vida”, diz o viúvo. “Graças a Deus”, afirma, tem casa própria, herdada dos pais.
O metalúrgico Gerson Monteiro, 55, diz que o governo Lula deixou de lutar pelos trabalhadores.
“Espero que redirecione ações para os trabalhadores, cuide da inflação e da segurança pública.”
Coordenador em uma montadora, Eric Macário, 26, também reclama da inflação, que derrubou as vendas da empresa. Para ele e a namorada, Fernanda Volpin, 27, que está desempregada, o mercado exige demais e paga de menos. “O salário mínimo não cobre o básico”, disse Macário, que foi ao evento atraído pelo sorteio.
Flávia da Silva, 38, auxiliar de produção há 12 anos, veio para o ato pela primeira vez e também estava na torcida pelo carro. “Só falta levar quatro”, brincou. A sua crítica vai para o salário mínimo e para a escala 6×1. “Muita gente quer ficar com a família, mas trabalha até no fim de semana.”
Quanto ao presidente Lula, ela avalia que o petista acabou se afastando dos trabalhadores e que está dependendo de muita gente na política.
Thalita Rodrigues, 27, analista de marketing, diz que apoiou Lula por muitos anos e que hoje se arrepende. “Ele usa os trabalhadores”, diz: “O dia deveria ser para curtir, não ouvir discursos.”
Com informações do Jornal de Brasília
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