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Mais de mil casos de câncer de mama registrados no DF em um ano

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A aposentada Joana D’Arc Gomes, 55, sempre teve uma boa saúde, mas algo mudou no ano 2000. Bem perto de onde batia um coração cheio de vida surgiu um caroço do tamanho de uma bola de gude. Era câncer de mama – o segundo tipo de tumor que mais acomete mulheres e atingiu 1.020 delas no DF, no ano passado. Para evitar mais casos, a campanha Outubro Rosa busca levar conscientização e tratamento na tentativa de diminuir ou dar assistência mais rápida às mulheres.

A cada ano, mais e mais mulheres – e até mesmo homens – passam pela desafio de tratar um tumor na mama. Em 2016, dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) informam que foram diagnosticados em todo o Brasil 57.960 novos casos. Em Brasília, no ano passado, foram 67,74 novas ocorrências por 100 mil habitantes, bem maior que a taxa nacional, que ficou em 56,20. O número de mortes mais recente, de 2013, aponta 14.203 naquele ano.
Vontade de viver

Morrer não era um dos receios de Joana D’Arc. Desde o início, ela sabia que aquilo seria apenas um período ruim que teria de passar, e decidiu não deixar a vontade de viver ir embora tão facilmente. Resolveu lutar por ela mesma. Na época em que descobriu o câncer, Joana tinha 38 anos e três filhos ainda crianças. Apesar de sempre fazer o autoexame, a mulher percebeu o tumor de forma acidental.

Ela estava em um churrasco de família quando, sem querer, escorregou o cotovelo da mesa e esbarrou o braço no seio esquerdo. Na hora, sentiu um caroço. Achou estranho e falou com o marido. Depois, conferiu novamente e percebeu que havia algo diferente ali.

Dali em diante, começou a peregrinação por vários médicos. O primeiro que a atendeu disse que aquilo era um nódulo comum e que não seria necessário fazer cirurgia, apenas tomar um remédio por seis meses.

Mas Joana pressentiu que não era algo comum e decidiu ir a outros profissionais, até o momento em que ouviu o diagnóstico: “A senhora tem câncer”. Ela diz que foi tomada por uma paz muito grande e a certeza de que iria se curar. “Eu sabia que não iria morrer. Eu disse para a médica que iria superar”, relembra.

Com receio da reação das pessoas, Joana escondeu a doença de todo mundo, até mesmo do marido, que ficou sabendo sete dias antes da primeira cirurgia. O pai dela só soube no dia da operação. Quando todos descobriram, levaram um susto. Mas, até isso ocorrer, foram mais de seis meses.

Depois que todos souberam, ela diz que a ajuda da família e a fé foram essenciais para atravessar o momento difícil. O processo foi doloroso. Ela passou por uma mastectomia – a retirada da mama –, quimioterapia e radioterapia. Apenas em 2009, a paciente conseguiu a cirurgia de reconstrução do seio.

Para as mulheres que enfrentam o câncer, ela aconselha: “Não desista da vida. Não é porque retiraram o seu seio que você vai perder a feminilidade. Você não perdeu a vida. Ainda é possível lutar”.

Diagnóstico

Uma das finalidades de campanhas como o Outubro Rosa é o diagnóstico e o tratamento precoce. O oncologista da Aliança Instituto de Oncologia, Márcio Almeida Tas, diz que, quando o problema é rapidamente descoberto, o sofrimento e as sequelas são severamente diminuídas. Porém, isso ainda é um grande desafio. “Mesmo entre as populações mais esclarecidas existe a dificuldade de um autodiagnóstico. Tanto que em período de campanhas, quando há maior divulgação, aumenta a descoberta dos casos”, diz.

A indicação do médico é que o autoexame passe a ser feito assim que a mulher comece a menstruar, para que sinta seu corpo e saiba identificar qualquer sinal de mudança. Acima dos 30 anos, já é recomendado que todas façam mamografia para que um especialista acompanhe os problemas que, porventura, surgirem.

Há casos que exigem maior atenção

O câncer de mama pode ser fruto de diversos fatores. O oncologista Márcio Almeida Tas explica que mulheres que tiveram casos de câncer na família precisam prestar muita atenção, pois o risco de se ter a doença pode aumentar. Aquelas que ficaram muito expostas ao hormônio feminino, por começarem a menstruar muito cedo ou pelo uso de anticoncepcional, também precisam ficar atentas.

Além disso, a obesidade ou o sobrepeso podem ser decisivos na incidência da doença. Segundo o especialista da Aliança Instituto de Oncologia, o desequilíbrio na balança, somado a uma vida sedentária, provoca uma grande chance de a pessoa apresentar novamente o tumor.

Foi por isso que a aposentada Joana D’Arc Gomes não quis ficar parada. Ela pratica canoagem toda semana, acompanhada de um grupo de mulheres que sofreram com a enfermidade. E, para passar um pouco mais da experiência vitoriosa que viveu, Joana ajuda outras mulheres por meio da Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília – Recomeçar. A entidade existe desde o ano de 2011 com um trabalho voltado às mulheres que passaram pela cirurgia, além de orientar e acompanhar as que estão à espera de uma reconstrução de mama pelo Sistema Único de Saúde.

Jornalista

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