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Jovens brasileiros tocam pela paz, no Vaticano

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Maestro da Orquestra Criança Cidadã, José Renato Accioly destaca os benefícios de um projeto social que já dura 17 anos. Jovens pernambucanos, russos e ucranianos farão um concerto para o Papa Francisco

o maestro José Renato Accioly falou sobre o evento, o repertório dos shows e as transformações possíveis por meio de um projeto social que já dura 17 anos e atende 250 jovens -  (crédito: Divulgação)

o maestro José Renato Accioly falou sobre o evento, o repertório dos shows e as transformações possíveis por meio de um projeto social que já dura 17 anos e atende 250 jovens – (crédito: Divulgação)

Amanhã e sábado, um grupo de 25 jovens da periferia de Recife vai fazer dois concertos na capital italiana, um deles com a presença do Papa Francisco, no Vaticano. O evento Concertos pela Paz, concebido para sensibilizar a comunidade internacional contra as guerras, é uma iniciativa da Charis Internacional com a Comunidade Obra de Maria, que convidou o Correio para acompanhar as apresentações.

Os jovens se juntarão a russos, ucranianos e italianos numa celebração pela paz. Nesta entrevista, o maestro José Renato Accioly falou sobre o evento, o repertório dos shows e as transformações possíveis por meio de um projeto social que já dura 17 anos e atende 250 jovens.

 01/11/2023. Orquestra Criança ? ensaio em Roma.

Um grupo de 25 crianças e adolescentes da periferia do Recife participa do evento Concertos pela Paz(foto: Ana Dubeux/CB)

“A principal mudança que se constata nesses jovens são alguns valores, como a disciplina, a solidariedade e a consciência de que sozinho a gente não faz um trabalho que tenha expressividade, que tenha consistência. Então, é esse trabalho em grupo e essa consciência de que o conjunto da sociedade é que faz a melhoria da qualidade de vida, tanto nos valores materiais como nos emocionais”, diz.

Para Accioly, a arte tem um poder forte de sensibilizar, de humanizar e de sociabilizar. “Na prática de orquestra, tem ainda um componente que se torna mais forte. Dentro de uma orquestra, não há uma competição, para ver qual subgrupo é melhor. Na verdade, é um trabalho em equipe na qual todos contribuem para que a gente possa ter a melhor performance possível”, acrescenta.

Entrevista / José Renato Accioly

Em que medida a arte e, mais especificamente, a música, é capaz de contribuir para formar cidadãos e seres humanos melhores?

A música, especificamente, mas a arte em geral, tem uma um poder forte de sensibilizar, de humanizar e de sociabilizar. E, principalmente, a música que a gente faz. A formação por meio da prática de orquestra, tem ainda um componente que se torna mais forte, pois dentro de uma orquestra não há uma competição, para ver qual subgrupo, qual naipe é melhor. Na verdade, é um trabalho em equipe, em que todos contribuem para que a gente possa ter a melhor performance possível individual e em conjunto. Então, a prática de orquestra da Criança Cidadã tem esse espírito: de humanizar, de sensibilizar e de sociabilizar os jovens por intermédio da música de orquestra.

Que tipo de mudança se constata nos valores e no comportamento das crianças, depois do contato e da aprendizagem com a música?

A principal mudança são alguns valores, como a disciplina, a solidariedade e a consciência de que sozinho a gente não faz um trabalho que tenha expressividade, que tenha consistência. Então, é esse trabalho em conjunto e essa consciência de que é o conjunto da sociedade que faz a melhoria da qualidade de vida, tanto material como emocional. Acho que essa prática de orquestra, que a Criança Cidadã desenvolve, tem esses valores bastante evidenciados.

A música deveria fazer parte de uma revolução espiritual em busca da paz?

A música é a arte que mais rápido e profundo toca o coração das pessoas. E a música chamada música de concerto, ou música clássica, tem essa força artística de trazer uma sensação, uma experiência de paz. A gente sabe que um concerto não traz a paz, mas um concerto pode e tem a força de evidenciar a necessidade da esperança, e com a esperança a gente busca a paz. Então, a Orquestra Criança Cidadã, nesses Concertos pela Paz, no Vaticano, vai com um espírito de esperança e de acolhimento ao se juntar com italianos, ucranianos e russos.

A escolha do repertório do Concerto pela Paz no Vaticano foi inspirado em quê?

O repertório que a gente escolheu foi em conjunto com os entes que estão participando desse projeto. A gente conversou com o pessoal da Fondazione Cavalsassi e fizemos uma pesquisa sobre música russa e música ucraniana. O concerto tem fortes expressões da música clássica, como, por exemplo, Vivaldi, Händel e Johann Sebastian Bach. Mas também tem música das nacionalidades ucraniana, russa e italiana, claro, com Vivaldi, e brasileira, especificamente pernambucana. No repertório teremos Erbarme dich, mein Gott, que é uma canção que faz parte de uma obra maior de Johann Sebastian Bach — a Paixão segundo São Mateus — e é exatamente essa música que vai ter como solistas um russo e um ucraniano. Nessa canção, a gente vai expressar nossa esperança, o resumo do nosso desejo de esperança, de fraternidade e de comunhão entre os povos.

Além dos músicos, o que diferencia a orquestra de hoje da que tocou no Vaticano em 2014?

Um projeto assim, tão longevo, quanto o Criança Cidadã, que tem 17 anos, não é fácil, principalmente no Nordeste do Brasil, é evidente que dos músicos que foram e tocaram para o Papa pela primeira vez, não há ninguém. É como se fosse uma outra safra de jovens. Que terão essa experiência magnífica e sagrada de tocar para o Papa. Eu acho que o que une a orquestra que tocou a primeira vez e essa é exatamente o espírito de juventude, que é um espírito sonhador, porque a esperança precisa ter uma forte pitada de sonho.

Quantos músicos compõem a orquestra, hoje, e qual o desafio de manter uma estrutura como essa?

Na verdade, a Orquestra Criança Cidadã do Coque é comporta por três orquestras. Somos 250 estudantes da escola de música,  fora os conjuntos de câmara para os iniciantes, o que a gente chama de Grupão. Então somos 50 músicos na Orquestra Infantil, 70 músicos na Orquestra Infantojuvenil, e 70 músicos na Orquestra Jovem, que é essa que, dos 70, 25 foram para Roma. Acho que vale a pena ressaltar que nessa orquestra que está em Roma, temos 12 italianos, oito russos, oito ucranianos e 25 brasileiros — 25 pernambucanos.

Maestro, qual o maior desafio à frente desse projeto?

O desafio é o da estrutura. A gente precisa de uma infraestrutura. São muitos professores, uma equipe de maestros, uma equipe administrativa, psicólogos, toda a parte de professores e inspetores que cuidam também da disciplina do projeto dirigido pela Associação Orquestra Criança Cidadã. 

Fale um pouco da sua trajetória como maestro titular da orquestra…

Estou na Orquestra Criança Cidadã há exatamente dois anos. Entrei em outubro de 2021 e, antes, fiz um trabalho para o aniversário de 15 anos. Eu participei do aniversário de 15 anos, de 16 e agora do 17. E aprendi a conhecer o projeto. Esses dois anos foram dois anos de adaptação. Não tinha a noção da grandeza e da profundidade do projeto, da importância tanto social e cultural. Eu me sinto muito honrado, e gratificado em ser coordenador musical desse projeto e maestro titular da Orquestra Jovem Criança Cidadã.

E antes de assumir esse projeto, o que o senhor fazia?

Bom, trabalhei junto ao Baile do Menino Deus, onde eu trabalhei 14 anos, até o ano passado, inclusive. E participei de montagens de ópera durante muitos anos. Realizamos cinco óperas em Recife, depois de quase 50 anos que não se fazia ópera com pernambucanos. Isso foi de 2004 a 2014… .  

O seu é pernambucano raiz?

Eu nasci em Fortaleza, cheguei em Recife com 5 anos. Estudei no Centro de Música do Colégio São Bento de Olinda e lá foi quando comecei a reger também, aos 17 anos, como assistente do coro Bento de Núrsia, que é o coro que iniciei minhas atividades no Colégio São Bento. Lá tinha um centro de música, que foi onde aprendi também violão e piano. E depois fiz universidade, no curso de licenciatura em música, sempre estudando regência por fora. Fui maestro do coral São Pedro Mártir, em Olinda. E, desde 1987 até o ano passado, fui professor do Conservatório Pernambucano de Música, onde desenvolvi intensa atividade como professor e maestro.

Com informações do Correio Braziliense

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