Roteiro turístico do Congresso aborda ataques golpistas
Quase um ano depois dos atos extremistas, obras danificadas por vândalos são incorporadas nas visitas ao Parlamento
A aproximação do 8 de janeiro aguçou a curiosidade dos turistas e mesmo moradores de Brasília a conhecerem de perto um dos alvos dos ataques de vândalos de um ano atrás. No Congresso Nacional, visitantes formavam filas para conhecerem as instalação da Câmara e do Senado, interessados também em saber como se deram aqueles atos, o que foi ou não destruído e o que está de pé, as obras de arte e os objetos expostos nos salões das duas casas.
Pelo menos 500 pessoas visitaram o Congresso nesta terça-feira (2/1), a grande maioria de fora de Brasília. Muitas estão pela primeira vez na capital. Em silêncio, ouviam as informações dos guias e eram apresentadas às obras de arte que foram alvo de ataques dos vândalos. Elas também se mostraram curiosas para entender como tudo ocorreu.
O 8 de janeiro colocou o Parlamento brasileiro na rota turística também por esse prisma, o do prédio que entrou para a história — ao lado do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto — como o espaço da tentativa de um golpe, numa sequência de atos premeditados.
Até hoje, os dois lados do Congresso seguem em reformas. O tapete do Salão Verde da Câmara, por exemplo, guarda sinais da destruição, como a marca do disparo de uma esfera pesada contra o Muro Escultórico, um painel na cor verde, histórico, do artista Athos Bulcão, de 1976. Há marcas no carpete, que ainda não foi completamente substituído.
Somente na Câmara, o prejuízo ficou, no mínimo, em R$ 3 milhões. Foram destruídos 400 computadores e duas viaturas da Polícia Legislativa; o tapete sofreu queimaduras, áreas foram inundadas, além de danos e destruição de obras de arte e desaparecimento de presentes protocolares ao presidente da Câmara, expostos no Salão Verde.
Pela primeira vez no Congresso, a servidora federal Mona Lisa Marangoni teve noção da grandiosidade do espaço, da relevância das obras e do tamanho do risco a que a democracia foi submetida.
“É muito emocionante circular aqui, conhecer, ver de perto e saber que agora está tudo normal. Acho que a força das instituições foi fundamental para o restabelecimento de tudo isso”, disse Mona Lisa. Ela acredita que se reduziu muito a chance de algo parecido voltar a acontecer.
“As pessoas agora também estão mais preparadas, e quem arriscar sabe que não ficará impune. Como amante do patrimônio histórico e cultural do país, valorizo tudo isso. Vejo a grandiosidade da obra no espaço. Mas quem não valoriza não liga muito”, completou a servidora, que foi estagiária de pós-graduação na Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente e Patrimônio Histórico e Cultural de Belo Horizonte.
Linha de frente
Em outubro, a Câmara reuniu oito servidores que atuaram na linha de frente do 8 de janeiro, de chefe da segurança à responsável pela recuperação do patrimônio. Gilcy Rodrigues Azevedo coordenou os trabalhos de restauração e recuperação dos objetos e bens culturais destruídos pelos vândalos. Ela se emocionou algumas vezes durante uma roda de conversa com o público.
A servidora chegou ao prédio às 6h30 de 9 de janeiro e jamais se esquecerá do que encontrou. “Era muita coisa para fazer, não deu nem tempo para chorar”, contou.
Especialista em gestão de risco, Gilcy afirmou que foi preciso agir rápido para salvar todas as peças atingidas pelos golpistas. Os produtos químicos e outras substâncias atirados contra as obras exigiam pressa para impedir a deterioração do acervo.
“Você não quer chegar na sua casa e ver as coisas fora do lugar, principalmente quando você trabalha com esses bens, que são a história e a memória do povo brasileiro. Vendo a memória sendo danificada, vilipendiada e retirada de mim foi uma dor muito grande”, relatou.
Evento
Os Três Poderes preparam um ato para o próximo dia 8. Nesta terça-feira, servidores da segurança e do cerimonial da Câmara e do Senado se reuniram no Salão Verde e começaram a definir a logística.
É esperado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), subam a rampa do Congresso.
Está prevista também a exposição, no Salão Verde, de bens que foram para restauro e que ainda não voltaram a ser disponibilizados aos visitantes, como itens ofertados a presidentes da Câmara, casos de uma bola de futebol autografada pelo jogador Neymar e de uma pérola do Catar, um presente do ministro das Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro do Estado do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, ao então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em 8 de setembro de 2019.
Com informações do Correio Braziliense
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