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Dengue avança e lota unidades de saúde em todo o Distrito Federal

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UPAs e tendas registram longa espera dos pacientes para atendimento. O Distrito Federal tem o maior coeficiente de infecção do Brasil. Um bebê de 5 meses pode ter sido a sétima morte da doença este ano

Levantamento atualizado, nesta sexta-feira (2/2), pelo Ministério da Saúde, destaca que o Distrito Federal é a unidade da Federação com maior coeficiente de incidência de casos prováveis de dengue, com 1.147,8 casos a cada 100 mil habitantes. Bem atrás, vem o Acre, com 458,8 casos. Enquanto isso, UPAs de várias regiões administrativas do DF continuam lotadas e, segundo relatos de pacientes ouvidos pelo Correio, muitas unidades estão recusando atendimento por falta de estrutura.

Em 2024, até 27 de janeiro, foram notificados 29.492 casos prováveis de dengue, um número 920% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 2.890 casos prováveis. Dos casos prováveis de dengue, 55% da população infectada é formada por mulheres, e 44,7% são homens. Um hospital de campanha será erguido em Sol Nascente para atender aos pacientes (confira na página 14). O GDF está em situação de emergência para combater a dengue.

O Correio esteve na UPA de Ceilândia II e acompanhou pacientes com sintomas de dengue em busca de atendimento. O estudante Alex Pereira, 18 anos, tentou ser atendido na unidade na última quinta-feira e, após desistir de esperar, foi até uma farmácia onde fez o teste rápido de dengue e constatou estar infectado com a doença. Retornou à UPA ontem e seguiu sem conseguir ser atendido. “Quinta-feira, fiquei aqui das 17h às 23h. Estava com superlotação e não consegui ser atendido, porque o meu caso é dos verdes (baixo risco)”, relatou.

Para Alex, seu próprio estado de saúde não o preocupa tanto quanto o de sua mãe, Marileuza Pereira, 44, que também está com sintomas de dengue. Segundo o estudante, ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e, desde que os sintomas da dengue começaram a se manifestar, em 25 de janeiro, ela ainda não se recuperou, por isso, segue retornando à UPA. “Ela tinha voltado aqui duas vezes antes de hoje”, afirmou. “Eu me preocupo se a minha mãe for internada. Ela está até com falta de ar”, desabafou.

Enquanto Marileuza passa por novos exames, Alex observa o movimento da UPA. “Um colega meu está aqui dentro, desde ontem, tomando medicação, mas não conseguiu ser transferido. Os hospitais estão lotados”, completou.

As longas filas parecem atípicas até para quem trabalha na UPA Ceilândia II, inaugurada em setembro de 2021. “Está pior do que na (pandemia) da covid-19”, apontou uma recepcionista da unidade, que não quis se identificar. Ela disse que o local fica sobrecarregado porque a outra UPA, de Ceilândia Norte, com frequência, fica superlotada e só permite a entrada de pacientes em estado grave, deixando os demais casos sem atendimento. “É corriqueiro a UPA Norte fechar, restringem só para os casos vermelhos e pronto. Aqui, se tem espaço, nós atendemos”, alegou.

As reclamações refletem a gravidade da epidemia de dengue no Distrito Federal. Segundo a Secretaria de Saúde (SES-DF), a capital registrou, neste ano, um aumento de 920% nos casos da doença, em relação ao mesmo período do ano passado.

Atendimentos

Segurando uma bola de algodão no antebraço, onde estava o acesso dos fármacos intravenosos, o metalúrgico Noelton de Farias, 35, disse ter conhecido uma paciente que está constantemente indo à unidade de saúde. “Tem uma mulher que está com dengue e vem aqui há sete dias, porque está sentindo muita dor abdominal. Os médicos aconselham que, mesmo com a demanda grande, é para voltar se os sintomas não diminuírem”, lembrou.

Noelton teve de sair do trabalho devido a uma forte dor no corpo, fadiga, náusea e dor de cabeça. Depois de duas horas de espera, o teste constatou a dengue. “Me deram cinco dias de atestado médico, e a receita de soro e dipirona para a dor. Agora, é me cuidar”, disse.

Jéssica Nayara Souza Alencar, 27, é funcionária do Vida UTI-Móvel, serviço contratado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF para transferir pacientes graves à unidade de terapia intensiva. “Vejo as UPAs lotadas quando chego. Acho que já passou aquela ideia de que só pessoas idosas morrem de dengue. Tem muita gente jovem sendo levada para o hospital”, apontou. “A dengue hemorrágica é o que mais aciona os transportes (de pacientes) agora”, completou.

De acordo com a Secretaria de Saúde, o número de atendimentos realizados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) após chamadas realizadas pelo 192 aumentou em torno de 420% de dezembro de 2023 para janeiro de 2024, em função da dengue.

O serviço orienta a população sobre qual unidade de saúde buscar atendimento, de acordo com os sintomas apresentados, e cuidados gerais com sintomas comuns da doença, sem sinais de gravidade. Havendo necessidade, o Samu, que concentra seus esforços no atendimento pré-hospitalar de urgência e emergência, também permanece acionando recursos para intervenção domiciliar em casos de maior gravidade, seguido de remoção dos pacientes para os hospitais referenciados da Rede SES-DF.

O Serviço também apoia o atendimento da atenção primária, com o fornecimento de tendas instaladas nas regiões administrativas para acolhimento dos casos mais leves.

Mortes

Uma bebê de cinco meses morreu, na última quinta-feira, vítima de dengue grave no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). A informação foi confirmada pelo Correio por fontes do hospital. Mas a  Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) não havia confirmado até o fechamento desta edição.  Segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela SES-DF, também na quinta, há 30 óbitos suspeitos em residentes da capital federal. Destes, 24 estão em investigação, e seis foram confirmados.

Das mortes confirmadas, cinco são do sexo masculino e uma do sexo feminino, sendo que uma vítima era uma criança entre 5 e 9 anos; duas de pessoas entre 70 e 79 anos; e as demais tinham entre 20 e 49 anos. A morte do bebê no Hmib não foi contabilizada ainda.

A pasta informou que todas as mortes suspeitas de dengue são notificadas à pasta. “A área técnica da SES realiza a investigação, que tem o prazo de 60 dias. Somente após a confirmação, são inseridos no boletim”, disse, em nota.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) recebeu denúncias sobre falta de insumos como soro de hidratação e superlotação na UPA de Samambaia, com relatos de pacientes que foram para casa com sintomas da dengue e sem atendimento. O presidente da comissão, deputado distrital Fábio Felix (PSol), visitou, ontem, o local com objetivo de verificar as condições de atendimento a pacientes com dengue.

Com informações do Correio Braziliense

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Jornalista

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