Movimento Popular por uma Ceilândia Melhor, o Mopocem, há 12 anos luta por melhores condições de vida para a população da maior cidade do DF
O movimento foi responsável por conquistas importantes na cidade, como a implantação da Escola Parque Anísio Teixeira e da permanência do projeto social Ruas, na Praça do Cidadão; entre outras pautas, o movimento agora empenha-se na retomada da construção do Centro Cultural de Ceilândia e por um segundo hospital regional
Discutir os verdadeiros problemas da região administrativa de Ceilândia e, para isso, começar pela escolha de seu administrador – que ele fosse, de preferência, morador da cidade – foi o que motivou um grupo de moradores, em 11 de novembro de 2010, a criar o Movimento Popular por uma Ceilândia Melhor (Mopocem). Desde então, sempre nos primeiros sábados do mês, o grupo se reúne em alguma escola pública de Ceilândia para discutir junto à população as suas principais demandas, sejam elas relacionadas às áreas sociais, econômicas e ou culturais.
“A ideia de criarmos o movimento surgiu para que nós conseguíssemos reunir os movimentos, ouvir a todos, fazer um relatório e encaminhar as demandas ao poder público. Temos encaminhado as demandas à Câmara Legislativa, a administração regional. A ideia é ficar de olho na cidade, Ceilândia é uma grande cidade, mas acaba sendo tratada como uma cidade dormitório”, disse, em entrevista ao TaguaCei, um dos atuais dirigentes do Mopocem, Edmilson de Melo e Silva.
Além de ser um polo agregador de todas as lutas de interesse coletivo da população de Ceilândia, uma vez que o movimento está em diálogo com todos os outros movimentos populares que representam a cidade por segmentos, como o pessoal da cultura, da economia criativa, dos direitos humanos e outros, o Mopocem tem como pauta central a defesa da tese de que a Administração Regional de Ceilândia precisa ser gerida por uma pessoa que seja moradora da cidade ou que realmente conheça os problemas locais.
“Deveria ter um administrador que fosse de Ceilândia, mesmo que fosse escolhido por meio de uma lista tríplice, onde a sociedade pudesse ser ouvida, e que esse administrador fosse morador de Ceilândia, ou fosse extremamente ligado às questões da cidade”, afirma Edmilson. “Se o administrador está conectado com a comunidade, ele anda na cidade, ele conhece a cidade, e não adianta só eleger o administrador, você tem que eleger o administrador, mas você tem que dar autonomia política, administrativa e financeira para as administrações poderem propor equipamentos urbanos que possam melhorar a vida de todos”, complementa.
No começo de abril deste ano, o Mopocem foi um dos responsáveis por pautar o debate durante a sessão itinerante da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), quando os deputados realizaram, por dois dias, sessões ordinárias em uma estrutura montada na Praça dos Eucaliptos. Na ocasião, o movimento foi representado por uma de suas fundadoras, a senhora Madalena Torres. (Ver abaixo as demandas apresentadas aos distritais durante o evento)
Conquistas
Quem estuda e conhece a história de Ceilândia, como é o caso dos membros mais atuantes do Mopocem, sabe que a cidade foi construída na luta. Primeiro, com a remoção, que colocou a população em um local, até então, sem nenhuma infraestrutura, jogada à própria sorte. Mas não bastando a luta pela implantação de infraestrutura na cidade, depois, a população começou uma nova luta, desta vez, pela defesa de suas propriedades, que teve sua representação maior na Associação dos Incansáveis Moradores de Ceilândia (Assimoc).
“A Associação dos Incansáveis surgiu para que os moradores pudessem pagar um valor justo pelos lotes. E conseguiram, os lotes foram pagos. Já naquela época, todos moradores que não concordavam com essa injustiça entraram na associação, inclusive meus pais”, conta Gilberto Ribeiro do Nascimento, que além de ser um dos atuais dirigentes do Mopocem, é também professor e pesquisador da história de Ceilândia.
Inspirados na batalha travada pelos associados da Assimoc, entre os anos de 1971 e 1988, – veja aqui a história da Assimoc –, o Mopocem se propõe a ser uma continuação do trabalho desenvolvido por aquela que é conhecida até os dias atuais, não só como a pioneira na luta pelo direito à cidade, mas porque suas ações resultaram na implantação de políticas públicas concretas para a população.
“O movimento não só toma a frente, mas também soma com outros movimentos. Nós sabemos que, historicamente, as coisas só acontecem quando há pressão popular. Por isso, chama Movimento Popular por uma Ceilândia Melhor, ou seja, todos podem participar. Sabemos que é uma luta muito árdua, mas não deixamos a peteca cair”, afirma Gilberto.
Entre as principais conquistas que o movimento obteve nesta primeira década de lutas, está a construção da Escola Parque Anísio Teixeira – a única construída em uma região administrativa, e que ao lado também abriga sala da Regional de Ensino – e a reintegração de posse do espaço usado pelo Galpão Cultural do Jovem de Expressão, que, pressionaram o administrador de Ceilândia, à época, Fernando Fernandes, a desistir da intenção do governo de desocupar o espaço que é utilizado pelo projeto Jovem de Expressão há mais de 11 anos. A ação teve resultado e o projeto continua a funcionar na Praça do Cidadão.
Desafios
Como o Mopocem acaba desenvolvendo o papel de aglutinador das demandas da cidade, uma das dificuldades que o movimento enfrenta é justamente a falta de apoio, seja por parte do poder público – que por não se sentir pressionado acaba desconsiderando os verdadeiros problemas da sociedade –, ou por parte da própria população, que, muitas vezes, devido à falta de informação ou à correria do dia a dia, acaba distante das reuniões do movimento que acontecem mensalmente em uma unidade escolar de Ceilândia e são abertas à comunidade – a último ocorreu na Escola Classe 45, localizada P Sul. A próxima reunião está marcada para ocorrer no próximo dia 6, às 14h30, no CED 15 (EQNO 17/18) da Expansão do Setor O.
“Nós somos um movimento que recebe as demandas e vamos atrás de soluções. Tanto que recentemente nós tivemos junto com o administrador [de Ceilândia] Dilson Resende apresentados nossas novas propostas. Por isso, digo que para as coisas acontecerem é preciso ter mais vontade política e também mais participação popular. Quanto mais as pessoas entenderem e absorverem a perspectiva de mudança do território, o território vai mudar. Porque quando o povo se une, as coisas as acontecem, porque o poder público teme o povo unido”, explica Ivanete Silva dos Santos, que além de integrar a atual direção do Mopocem, também é a coordenadora socioambiental do movimento.
A coordenadora diz que conheceu o Mopocem em 2013, quando integrava o grupo de ativistas ambientais, intitulados de Amigos do Parque, e que, na época, reivindicavam a demarcação dos parques ambientais, Parque das Corujas, Parque da Lagoinha, Parque do Setor O, Parque Ecológico Metropolitano e Parque da Barragem do Descoberto – todos em Ceilândia. “Estávamos tentando implantar uma nova realidade na hora de pensar em construir uma cidade, que fossem cidades que pensam no meio ambiente, que tenham alternativas. Porque, hoje, se constrói sem pensar como vai ser a rua, o parquinho, para onde vai o esgoto, pensa só na compensação ambiental, aí eles [poder público] plantam duas mil árvores e acham que está resolvido, e não está”, afirma Ivanete.
Atualmente, paralelo ao seu trabalho no Mopocem, Ivanete coordenada uma associação de cunho ambiental – a Casa da Natureza –, que está localizada no Trecho 2, em Sol Nascente. Consciente de que a luta social é uma das mais difíceis de ter seus objetivos alcançados, a coordenadora argumenta que movimentos populares como o Mopocem é um ponto de resistência na história das lutas sociais dentro do DF.
“Hoje eu vejo que o Mopocem como uma alternativa sustentável, porque é uma alternativa de luta. Não adianta eu ficar reclamando dentro de minha casa que a saúde está péssima, e não buscar uma maneira de contribuir. Essa contribuição vem da luta popular. A busca pelo direito à cidade precisa ser cada vez mais intensa, e o Mopocem resgata esse sentido. Mesmo que nós não alcancemos o resultado, mas ganhamos experiência com a troca de saberes”, destaca Ivanete.
Já é de práxis do movimento, fazer, sempre no início do ano, uma audiência com administrador regional de Ceilândia para apresenta a ele um documento contendo as principais demandas da população que foram apresentadas ao movimento durante o ano anterior. “Cabe a ele, junto com a comunidade, estar executando esses pedidos. Muitas vezes demora mesmo para acontecer, mas nem por isso nós vamos desistir e deixar de cobrar”, afirma a coordenadora.
O mesmo pensamento de Ivanete, é defendido pelo dirigente Edmilson de Melo, que também frisou a importância do envolvimento popular para conseguir atingir os resultados. “Se a comunidade tivesse mais participação, se a comunidade entendesse a força dela, se a comunidade de Ceilândia entendesse a força que tem devido à importância que ela tem para o DF, a gente poderia até ter um administrador que até não fosse eleito pela comunidade, mas ele iria falar: eu tenho que ouvir a população, eu não posso ouvir prefeito [comunitário] por si só, tenho que ouvir os grupos sociais, os movimentos populares”, ressalta.
Perspectivas
Agora, neste ano de 2023, com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já disse inúmeras vezes que irá fazer um mandato popular e com extrema participação da sociedade, inclusive, na construção do orçamento que será feito de forma participativa, os dirigentes do Mopocem acreditam que é o momento propício para dar ênfase em pautas que são caras e antigas para a sociedade.
Uma delas é a construção de um segundo hospital regional, que deverá ser construído ao lado da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia 24h, para dar suporte ao atual HRC, que, segundo os dirigentes do Mopocem, não consegue mais atender as necessidades da população de Ceilândia e também das cidades do Entorno, já que os moradores dessas cidades também são atendidos no hospital. Agora, movimento organiza um ato público, que será o segundo “abraço” na região onde será construído o futuro hospital da cidade como forma de dar visibilidade à reivindicação.
A outra pauta que deve estar no calendário de atividades do Mopocem este ano é o apoio ao movimento popular que luta pela retomada das obras do Centro Cultural de Ceilândia (localizado próximo à estação de metrô Ceilândia Norte). “É inconcebível que Ceilândia, com a importância que tem para o DF, não tenha um teatro público, um cinema público, um local onde os movimentos possam se organizar e lutar pelos direitos”, diz Edmilson.
O Mopocem também irá atuar em defesa da regularização e construção do Parque do Setor O. “A Ceilândia só tem um parque, com uma cerca e duas pistas de caminhada, no Setor O. Se Águas Claras, que é recém-criada, já tem um parque, por que Ceilândia, que tem 52 anos, só tem um, e assim mesmo em construção? Precisamos ter mais, precisamos ter um parque no P Sul, precisa ter um parque para compensar a instalação da usina de compostagem que lá está instalada. Ceilândia é uma cidade dentro de cidades, por isso, precisa de uma atenção redobrada por parte do poder público”, resume o dirigente do Mopocem, Gilberto Nascimento.
Para conhecer um pouco mais sobre o Mopocem, acesse aqui.
Veja abaixo as principais demandas apresentadas pelos dirigentes sociais durante as sessões itinerantes da CLDF realizadas no início de abril:
- Construção da infraestrutura do Parque do Setor O (banheiros, bebedouros, guarita dos vigilantes etc.);
- Conclusão do Centro Cultural de Ceilândia (construção do cine teatro);
- Continuidade do Serviço de Convivência do Cantinho do Girassol;
- Revitalização do asfalto em toda a Ceilândia;
- Revitalização do Rio Melchior;
- Melhoria da rede pluvial e drenagem pluvial;
- Revitalização do campo sintético da QNP 26 – P Sul;
- Contratação de mais médicos para o atendimento público em Ceilândia;
- Reforma e revitalização da Praça dos Eucaliptos e de todos os seus equipamentos;
- Construção de creche no Condomínio Privê;
- Cobertura da Quadra QNP 09 (CEF 25), Ginásio Boa Vizinhança.
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