Operação Spiderweb, marcada pela destruição de 41 bombardeiros russos por aeronaves não tripuladas “suicidas” ucranianas, destaca como tecnologia barata pode infligir pesados danos ao inimigo. Analistas falam sobre guerra moderna
Baixo custo, alta eficácia e nenhum dano humano no front transformaram os drones (aeronaves não tripuladas) em uma das armas mais letais e preferidas pelos exércitos. No último domingo (1º/6), a Ucrânia realizou a Operação Spiderweb (“Teia de Aranha”), depois de 18 meses de planejamento, e conseguiu infligir um dano bélico sem precedentes à Rússia em 1.196 dias de guerra.
Cento e dezessete drones de Visão na Primeira Pessoa (FPV) carregados de explosivos foram escondidos em caminhões, transportados até o extremo leste da Rússia, na Sibéria, e lançados em direção a cinco bases militares russas. Em duas delas — Murmansk e Irkutsk —, as aeronaves não tripuladas, avaliadas em pouco mais US$ 400, destruíram 41 bombardeiros russos e causaram prejuízos de US$ 7 bilhões para Moscou, ao eliminarem 34% da frota de aviões capazes de carregar mísseis de cruzeiro.

Mykhailo Samus, diretor da Rede de Pesquisas sobre a Nova Geopolítica (em Kiev), afirmou ao Correio que 85% do total de alvos russos foram destruídos por drones da Ucrânia. “Não se trata de artilharia, de morteiros ou aviação, mas de aeronaves não tripuladas. Temos um ramo especial nas nossas Forças Armadas, chamado de Sistemas de Drones, que existe somente na Ucrânia. Ele funciona como uma força doutrinária e geracional de drones em nível tático e operacional”, explicou o estrategista militar. “Também temos unidades orgânicas para ataques com drones em cada uma das 110 brigadas em operação no país. Além disso, brigadas de drones de ataque integram 18 núcleos do Exército ucraniano.”

De acordo com Samur, o componente drone é um dos mais importantes das Forças Armadas da Ucrânia. “Também temos drones marítimos, que representam vantagens estratégicas para Kiev, pois são capazes de deixar a Frota do Mar Negro russo em Novorossisk, distante de Sebastopol, na ocupada Península da Crimeia. Esses aparelhos possuem sistemas de defesa aérea a bordo e podem derrubar aviões”, disse. Em vez de soldados, o Exército ucraniano tem utilizado drones terrestres. “O próximo passo será o uso de inteligência artificial para a criação de ‘enxames de drones’, além de drones ligados a cabos de fibra ótica (uma espécie de ‘pipa mortífera’).”
Mais eficiente
Oleksiy Melnyk, codiretor do Programa de Segurança Internacional e de Relações Exteriores do Centro Razumkov (em Kiev), classificou os drones como “a arma mais eficiente da atualidade”. “O espectro varia desde drones FPV muito pequenos até equipamentos de longo alcance — pequenas aeronaves que se transformam em drones. Cerca de 80% das baixas militares russas são provocadas por ataques de drones”, afirmou ao Correio.
Melnyk admite o risco de uma competição entre as partes beligerantes. “A velocidade da adaptação aos avanços tecnológicos é o que fará a diferença. Se um lado desenvolve um drone eficiente pela manhã, isso não significa que ele será eficaz à noite”, advertiu. “Os drones são um método de custo da guerra. Um drone de US$ 300 ou US$ 400 pode destruir armamentos avaliados de US$ 100 mil a US$ 1 bilhão.” O especialista do Centro Razumkov vê uma “falha épica” no sistema de segurança da Rússia. “Foi um fracasso não apenas da defesa aérea, mas do Serviço Federal de Segurança (FSB, antiga KGB), dos guardas fronteiriços, da inteligência e da polícia.”

Ainda segundo Melnyk, operações assim envolvem avaliação criteriosa dos riscos. “Até agora, vimos reação comedida de autoridades russas. O presidente Vladimir Putin não fez qualquer declaração. Acredito que os perigos de uma retaliação foram cuidadosamente calculados”, admitiu.
Mykhailo Samus explicou que a Operação Spiderweb foi possível graças a uma incursão do serviço secreto. “Os agentes ucranianos contrataram os caminhões em território russo e criaram centros de logística para fabricar as caixas onde os drones foram acondicionados. Os drones foram adquiridos na Rússia. Foi uma operação de espionagem sofisticada. O centro de comando estava na Ucrânia, mas tudo ocorreu na Rússia. Os espiões prepararam tudo na Rússia e cruzaram de volta a fronteira antes da ativação da operação.”
EU ACHO…

“Definitivamente, a Operação Spiderweb terá enorme impacto nas capacidades russas, especialmente as estratégicas e operacionais. A Rússia utiliza bombardeios estratégicos quase que diariamente para disparar mísseis de cruzeiro contra cidades da Ucrânia e a população civil. Os russos também perdem um componente tradicional para o sistema estratégico nuclear. Eles não têm capacidade de construir mais bombardeiros, porque foram fabricados pela União Soviética. Isso significa que Moscou não pode mais produzir bombardeiros estratégicos.”
Mykhailo Samus, diretor da Rede de Pesquisas sobre a Nova Geopolítica (em Kiev)

“Essa operação está sendo chamada de ‘Pearl Harbor’ da Rússia. Dezenas de bombardeiros estratégicos e AWACS (Sistemas Aéreos de Alerta e Controle) foram destruídos. Tais aeronaves não podem ser substituídas. Não se trata somente de uma questão de bilhões de dólares, mas da habilidade da Rússia para produzir esse tipo de bombardeiro estratégico. O ataque de domingo efetivamente afeta a capacidade de combate da Rússia, porque esses aviões eram utilizados para carregar mísseis e ogivas nucleares.”
Oleksiy Melnyk, codiretor do Programa de Segurança Internacional e de Relações Exteriores do Centro Razumkov (em Kiev)
Troca de presos e condição para trégua
O encontro entre representantes dos governos da Ucrânia e da Rússia, em Istambul, terminou sem cessar-fogo, mas com um avanço simbólico. As duas partes acordaram trocar prisioneiros de guerra com menos de 25 anos e feridos, além da devolução de milhares de cadáveres de soldados — 6 mil de cada lado. O Kremlin condicionou a suspensão da guerra à retirada ucraniana das quatro regiões ocupadas pela Rússia — Kerson, Zaporizhizhia, Luhansk e Donetsk. “A parte russa continuou rejeitando a proposta de cessar-fogo incondicional”, declarou à imprensa o negociador ucraniano Sergiy Kyslytsya. Um documento formulado por Moscou e entregue a Kiev também enumera as exigências russas para o fim da guerra, e prevê o “reconhecimento jurídico internacional” dessas regiões e da Crimeia, anexada em 2014, como territórios russos.
O presidente dos EUA, Donald Trump, se disse disposto a mediar uma diálogo entre os presidentes Volodymyr Zelensky (Ucrânia) e Vladimir Putin (Rússia), na Turquia. O ucraniano pediu ao americano que adote sanções contra Moscou para forçar um cessar-fogo total. “Esperamos verdadeiramente que Trump tome medidas fortes. Esperamos que apoie as sanções para forçar a Rússia a pôr fim à guerra ou, ao menos, passar para o cessar-fogo”, disse Zelensky, que visitava Vilnius, capital da Lituânia, a 2.648km de Istambul.
A proposta de Trump recebeu um aceno positivo do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. O anfitrião das negociações de ontem reiterou o desejo de sediar uma cúpula “em Ancara ou em Istambul” entre os três colegas. Kiev apresentou a Moscou uma nova rodada de diálogos entre 20 e 30 de junho.
Professor de política comparada da Universidade de Kyiv-Mohyla, Olexiy Haran disse ao Correio que considera positivo o fato de Ucrânia e Rússia terem decidido trocar prisioneiros de guerra e corpos. “Mas, tenho certeza de que Putin não quer nenhuma negociação séria. Ele gostaria de continuar a bombardear a Ucrânia”, comentou, ao acrescentar que a estratégia é evitar sanções por parte dos EUA por meio de “negociações”. “A Rússia exige a desmilitarização da Ucrânia, o que significa que não poderemos receber armas para nos defender. Isso é loucura.” (RC)
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