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Projetos buscam dar dignidade menstrual a mulheres vulneráveis

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A falta de absorventes pode comprometer a saúde, causar constrangimento e estresse emocional. Governos local e federal desenvolvem programas para que mulheres que necessitam tenham acesso ao produto

A pobreza menstrual se caracteriza pela ausência de acesso a itens básicos de higiene durante o período da menstruação. A falta de absorventes é grave, comprometendo a saúde, a educação e a dignidade, principalmente de quem vive em situação de vulnerabilidade. 

Ana Maria, de 44 anos, vive em situação de vulnerabilidade nas proximidades da Universidade de Brasília (UnB) há 10 anos e sofre com a falta de acesso a absorventes. “Quando chega esse período, a gente faz igual à moda antiga”, relata. “A gente vê algum pedaço de pano, rasga, corta e põe”, acrescenta. 

Há quem recorra também a papelão, jornal e miolo de pão, entre outros. A ginecologista Eliana Machado explica que não ter acesso a absorventes traz malefícios à saúde íntima feminina. “Há riscos de infecções ginecológicas, como fungos e bactérias no canal vaginal, além de dermatites e infecções na pele e vulva”, elenca a médica.

Outro aspecto é o impacto psicológico. A falta de acesso à higiene menstrual pode afetar a vida social dessas mulheres, gerando estresse emocional. “O constrangimento causado pela falta de absorventes pode prejudicar a rotina das mulheres, que evitam sair de casa e serem vistas nessa situação. Isso pode levar ao isolamento social e à redução das chances de inserção social dessas mulheres”, expõe Eliana.

Vulnerabilidade

No Distrito Federal, há 271 mil mulheres em situação de vulnerabilidade menstrual — 17,3% da população feminina, de acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF). O governo local desenvolve o programa Absorva o Bem, que tem como objetivo a distribuição gratuita desses itens e a instalação de caixas de acrílico em banheiros públicos. Lançada em parceria com a Secretaria de Atendimento à Comunidade, a campanha conta 41 pontos solidários instalados em 26 órgãos públicos do DF, disponibilizando 1,7 unidades de forma gratuita e imediata. 

Conforme a pasta, como a proposta é baseada na confiança e na solidariedade — “Se precisar, pegue. Se puder, doe” —, não é possível mensurar o número exato de pessoas beneficiadas. “No entanto, com base no volume de reposições realizadas, estimamos que cerca de duas mil pessoas que menstruam foram acolhidas diretamente pela iniciativa”, calcula a pasta.

Os absorventes são doados por órgãos parceiros, incluindo secretarias e administrações regionais, além de instituições como o Tribunal de Justiça (TJDFT) e o Ministério Público (MPDFT). A Secretaria de Saúde também promove distribuição gratuita, por meio do programa Consultório na Rua, voltado para pessoas em situação de rua. 

Em 2023, o governo federal lançou o Programa Dignidade Menstrual, por meio do qual é feita a distribuição gratuita de absorventes. Podem se beneficiar do programa mulheres com idade entre 10 e 49 anos, que sejam de baixa renda e estejam matriculadas em escolas da rede pública de ensino; aquelas que se encontram em situação de rua ou de vulnerabilidade social extrema; mulheres recolhidas em unidades do sistema prisional ou em cumprimento de medidas socioeducativas.

A distribuição ocorre principalmente por meio do Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB). Para retirar os absorventes, a beneficiária deve possuir cadastro no Cadastro Único (CadÚnico) e se dirigir a qualquer farmácia credenciada pelo PFPB. Caso não possua o cadastro, basta ir a um dos postos de atendimento do CadÚnico ou do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) para realização do registro. Cada pessoa tem direito a 40 unidades de absorventes higiênicos para utilizar durante dois ciclos menstruais, ou seja, a cada período de 56 dias.

O problema afeta diversos países e, para chamar atenção, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu 28 de maio como o Dia Internacional da Dignidade Menstrual.

Acesso 

Correio entrou em contato com farmácias cadastradas no Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB) para verificar se está efetivamente ocorrendo a distribuição gratuita dos absorventes. No Sudoeste, no Cruzeiro e em Taguatinga, argumentaram que não estão realizando a entrega porque está sendo feita a atualização cadastral das farmácias. Um estabelecimento localizado em Sobradinho não participa do programa.

De acordo com o Ministério da Saúde, desde abril deste ano, está aberto o prazo para a renovação anual obrigatória do cadastro das farmácias e drogarias participantes do PFPB. Porém, a pasta afirma que esse processo não interfere no funcionamento do sistema de vendas dos estabelecimentos credenciados enquanto o prazo estiver vigente. 

O ministério sugere que, caso uma farmácia não tenha absorventes, a pessoa pode procurar outra unidade credenciada em sua cidade.

*Estagiárias sob a supervisão de Malcia Afonso

Passo a passo

» Para se beneficiar, é preciso estar cadastrada no CadÚnico. Caso não possua cadastro, a mulher pode se dirigir a um dos postos de atendimento do CadÚnico ou do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da cidade.

» Emitir autorização para a retirada dos absorventes. Esse procedimento é feito exclusivamente por meio do aplicativo do Meu SUS Digital. Nele, basta acessar o “Programa Dignidade Menstrual” e clicar no campo “Emitir Autorização”. Esse documento tem validade de 180 dias.

» Ir até um estabelecimento credenciado no Programa Farmácia Popular do Brasil, apresentar a autorização (digital ou impressa), emitida pelo aplicativo Meu SUS Digital. É necessário levar documento de identidade oficial com foto e CPF. 

Distribuição

Mais de 271 mil mulheres vivem em situação de vulnerabilidade menstrual, segundo dados da Secretaria de Saúde (SES-DF).

A nova campanha Absorva o Bem, do governo do Distrito Federal, começou com a distribuição de 1,7 mil absorventes.

Pelo programa do governo federal, entre janeiro e abril de 2025, foram distribuídas 3.240.210 unidades de absorventes no DF, segundo o Ministério da Saúde.

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Jeová Rodrigues

Jornalista

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