Comunidade critica uso do Centro Cultural de Ceilândia para outros fins
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Um grupo de produtores culturais de Ceilândia está preocupado com o uso do Centro Cultural e Desportivo da cidade. Eles criticam a falta de diálogo entre a administração regional e a comunidade nas decisões que dizem respeito ao uso do espaço, contestação que o administrador da região administrativa, Vilson José de Oliveira, nega.
A polêmica envolvendo o centro começou quando a Secretaria de Estado de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude (Secriança) foi transferida para o local, ainda em 2016, de forma provisória. Desde então, membros da comunidade cultural e a administração da cidade entraram em embate, por discordarem da maneira como o espaço deveria ser utilizado.
Segundo o grupo, a situação ficou ainda pior no começo de julho deste ano, depois de a Administração Regional de Ceilândia baixar a Portaria Conjunta nº 3, colocando parte da Secriança no local. A partir daí, espaços que anteriormente eram utilizados para desenvolver projetos culturais começaram a sediar cursos profissionalizantes e programas da secretaria, como o Bora Vencer, com foco em aulões preparatórios para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Eles afirmam que a administração não os escuta mais e, além disso, promete resoluções e, depois, não as cumpre. Maria Margarete de Souza, conhecida como Margô Oliveira e representante do Conselho Cultural da cidade, afirma que o administrador regional havia se comprometido a retirar a secretaria do prédio na primeira quinzena de julho. “Não que sejamos contra os cursos. Eles são importantes para a sociedade, mas o que não podemos é ocupar o espaço com isso e perder a vocação cultural”, frisa.
rofessor de hip hop voluntário no local há cerca de 12 anos, Alan Jhone Moreira, conhecido como B.Boy Papel, com medo de perder a sala em que dá aulas, comenta que a comunidade cultural sempre teve uma boa relação com as gestões passadas, mas que, agora, não são mais chamados para dialogar sobre o uso do espaço. “Essa situação é assustadora, porque, querendo ou não, a comunidade não foi ouvida”, diz.
O administrador regional, contudo, afirma que a história é outra. Ele assegura que sempre esteve aberto para o diálogo e afirma que, quando recebeu o cargo, ainda em 2015, o centro estava “praticamente fechado” e as salas “praticamente inutilizadas”. Para exemplificar a situação, Vilson conta que uma prefeitura comunitária e o Instituto Federal de Brasília (IFB) usavam algumas salas do prédio como depósito.
O cenário de abandono, segundo ele, coincidiu com a necessidade da Secriança de um local para abrigar parte de sua estrutura, sendo essa a razão que levou a secretaria para o prédio, em 2016. Vilson assume que não cumpriu a promessa que fez ao Conselho Cultural, mas pondera que tentou explicar à comunidade o porquê de isso ter acontecido. “A administração sempre vai estar de portas abertas para fazer a discussão”, defende Vilson.
De acordo com ele, a pasta sairia do Centro no momento em que a Praça da Juventude fosse concluída, mas a obra teve de parar antes do fim, pois a empresa que ganhou a licitação não teve dinheiro para terminar a construção. Vilson ressalta, ainda, que essa obra não é de responsabilidade da regional, mas da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos.
A Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos do DF (Sinesp) informou que as obras da praça foram interrompidas após a empresa que ganhou a licitação atrasar diversas vezes o cronograma. “Neste momento, a Sinesp espera que a empresa que ficou em segunda colocação no pleito licitatório seja convocada, para viabilizar a retomada das obras o mais rápido possível”, explicou.
Problema antigo
Planejado pela comunidade com a intenção de levar cultura para Ceilândia, a construção completa do Centro Cultural e Desportivo da cidade caminha a passos lentos há mais de 30 anos.
O projeto inicial não é mais uma realidade. O local que seria utilizado para os outros dois blocos do Centro agora é o estacionamento da estação do metrô Ceilândia Norte. Já o espaço onde seriam as quadras poliesportivas, a Praça da Juventude, é um grande canteiro de obras vazio.
Os motivos pelos atrasos são diversos, desde problemas decorrentes do plano Cruzado, ainda na década de 1980, a problemas em licitação em 2017. Quem perde com as sucessivas paralisações é a população, que se vê obrigada a ir ao Plano Piloto para ter momentos de lazer.
Professor de história e criador da Casa da Memória Viva da Ceilândia, Manoel Jevan acredita que o problema está na burocracia estatal. “Alguns parlamentares até conseguem emendas federais para terminar o centro, mas o governo não as libera”, explica.
Parte da comunidade, no entanto, não fica apática em face aos atrasos recorrentes. Além dos produtores culturais, o movimento Retomada, fundado em 1995, pressiona frequentemente as gestões distritais pelo fim da obra. Para Luciene dos Santos Velez, mais conhecida como Nina e membro do movimento, o término do Centro é uma prioridade da região.
Uso do espaço
Hoje, das 11 disponíveis salas disponíveis no Centro Cultural, sete estão sendo utilizadas. A sala 1, do Conselho Tutelar; a sala 5, é o almoxarifado; a sala 6, da Gerência de Cultura; e as salas 8, 9, 10 e 11, do Centro da Juventude, projeto da Secriança em parceria com o Instituto de Esporte, Cultura e Artes Populares (Iecap).
Além dessas quatro, a Secriança utiliza um espaço administrativo do primeiro andar e um local onde seria a copa do prédio, também para atividades do projeto Centro da Juventude. Os cursos oferecidos no local incluem aulas de violão, gastronomia, muay-thay e empregabilidade.
Segundo Francisco Rosa, gerente de cultura de Ceilândia, as outras quatro salas são utilizadas parcialmente, tendo espaço na agenda para que outras pessoas que tenham interesse as ocupem. A sala multiúso número 7, por exemplo, é utilizada tanto pelo Centro da Juventude quanto por produtores de cultura. Essa, inclusive, é a sala em que B.Boy Papel ministra aulas de dança.
Completando a lista do uso do espaço, na sala 4 fica o Conselho de Cultura e nas salas 2 e 3 há reuniões dos narcóticos anônimos aos sábados, e, aos domingos, a religião oriental Sochu Nae ocupa uma das salas, das 8h às 11h.