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Cid solto e delação mantida: entenda detalhes da decisão de Moraes

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Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro retorna à liberdade provisória no mesmo dia em que foi preso pela primeira vez, em 2023. Ele tinha sido detido pela segunda vez em março, depois de fazer graves acusações à PF e a Moraes

ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou, ontem, que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, retorne à liberdade provisória. A determinação do magistrado veio depois de análise do depoimento prestado pelo militar ao próprio STF. Além de soltar o oficial do Exército, Moraes também manteve válida a colaboração premiada firmada por Cid com a Polícia Federal (PF) e a Corte.

O militar, porém, terá de seguir restrições — como usar tornozeleira eletrônica e mantê-la funcionando plenamente; não ter contato com outros investigados; e se apresentar periodicamente à Justiça. Cid retornou à liberdade provisória no mesmo dia em que foi preso pela primeira vez — em 3 de maio de 2023.

Mas, na detenção de março passado, o acordo de delação correu o risco de ser cancelado depois que áudios de conversas entre Cid e um interlocutor foram divulgados. Neles, fez graves acusações ao inquérito no qual está arrolado — o que incluiu suspeitas sobre a inidoneidade das investigações da PF e a respeito da condução de Moraes (veja na linha do tempo as principais datas que culminaram na ida do tenente-coronel para a cadeia).

O militar relata na gravação que os investigadores estariam a pressioná-lo para que desse informações atendendo a supostos interesses. E que Moraes teria tomado a decisão de condenar qualquer um que esteja nos inquéritos relacionados a Bolsonaro.

“Eles (os policiais) queriam que eu falasse coisa que não sei, que não aconteceu. Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não querem saber a verdade, só queriam que eu confirmasse a narrativa dele. E todas vezes eles falam: ‘A sua colaboração está muito boa'”, acusou Cid.

A delação do tenente-coronel expôs detalhes da trama golpista, articulada pelo ex-presidente com um grupo de militares próximos, para impedir que Luiz Inácio Lula da Silva assumisse a Presidência da República. O tenente-coronel ainda deu detalhes de operações cujo ápice foi em 8 de janeiro de 2023, quando vândalos invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.

Minuta golpista

Cid também expôs, na delação, a elaboração de uma minuta golpista e forneceu relatos sobre a venda, nos Estados Unidos, de joias que estavam sob guarda da Presidência. Também entregou informações sobre o envolvimento de Bolsonaro com tentativas de descredibilizar e alterar o resultado das eleições.

Para Moraes, diante do novo depoimento e das diligências realizadas, a delação de Cid pôde ser mantida. No despacho, o ministro afirma que o militar confirmou “a higidez” dos depoimentos válidos pelo acordo de colaboração. “Consideradas as informações prestadas em audiência nesta Suprema Corte, bem como os elementos de prova obtidos a partir da realização de busca e apreensão, não se verifica a existência de qualquer óbice à manutenção do acordo de colaboração”, salientou o ministro.

O advogado de Cid, Cezar Bitencourt, afirmou, ontem, que o cliente “pisou na bola” com os comentários no áudio que o levaram de volta à prisão e puseram em risco a colaboração premiada. Segundo o defensor, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não sofreu qualquer pressão da PF.

“Lógico que pisou (na bola). É um sujeito inteligente. O celular é um mundo, um universo que ninguém controla”, afirmou Bitencourt.

Seis passos até a prisão

22 de novembro de 2021 — Cid pede ajuda de um sargento para conseguir um certificado de vacinação falso para a mulher, Gabriela. O documento fraudulento foi emitido e enviado para o celular do tenente-coronel nesta data, mas a Polícia Federal descobriu que não há qualquer registro de aplicação do imunizante em Gabriela nas Unidades Básicas de Saúde do município de Cabeceiras (GO).

21 de dezembro de 2022 — Os sistemas do Ministério da Saúde indicam que duas doses de vacinas contra a covid teriam sido aplicadas no ex-presidente Jair Bolsonaro — que garante jamais ter sido imunizado contra o coronavírus, apesar das duas doses da Pfizer indicadas na Rede Nacional de Dados em Saúde.

27 de dezembro de 2022 — Nesta data, as informações relacionadas à vacinação do ex-presidente foram excluídas do sistema por Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, sob alegação de “erro”.

3 de maio de 2023 — Cid é preso e tem o celular apreendido por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em operação da PF dentro do inquérito das “milícias digitais”. O tenente-coronel é figura central na trama de falsificação de dados de vacinação, conforme as datas anteriores.

21 de setembro de 2023 — O tenente-coronel fecha acordo de delação premiada e dá detalhes da reunião de Bolsonaro em que reuniu a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, depois do resultado das eleições de 2022, para discutir um golpe de Estado e se manter no poder.

22 de março de 2024 — O ex-ajudante de ordem de Bolsonaro é novamente preso depois que áudios de uma suposta conversa com um interlocutor foram divulgados pela imprensa. Neles, acusa o processo que está respondendo de estar viciado e ataca Alexandre de Moraes. “Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu?”, disse Cid, nas gravações.

Com informações do Correio Braziliense

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Jornalista

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