Em meio à disputa global, a capital federal busca entender como o conflito tributário entre China e EUA pode impactar seu comércio exterior, com foco nas exportações de soja e carnes e nas importações diversificadas
Com a guerra tarifária mundial, travada entre China e Estados Unidos, a relação do Distrito Federal com o mercado exterior pode sofrer alterações. De acordo com o ComexStat, sistema oficial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) que disponibiliza estatísticas sobre o comércio exterior no Brasil, no primeiro trimestre de 2025, as exportações do Distrito Federal totalizaram US$ 72,118 milhões, enquanto as importações somaram US$ 557,413 milhões — um desempenho superior ao registrado no primeiro trimestre de 2024, quando as exportações e importações somaram US$ 49,373 milhões e US$ 335,114 milhões, respectivamente.
No ano passado, os principais destinos das exportações do DF foram a China, com US$ 81,747 milhões (responsável por adquirir 79,7% da soja comercializada pelo DF), seguida pela Arábia Saudita, com US$ 64,340 milhões (incluindo carnes, pedaços e miudezas de galos/galinhas).
As importações, em 2024, totalizaram US$ 1,634 bilhão, tendo como principais países de origem a Alemanha (US$ 372,032 milhões), os Estados Unidos (US$ 312,578 milhões), a Irlanda (US$ 164,864 milhões) e a Itália (US$ 124,133 milhões).
César Bergo, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), explica o motivo da grande diferença entre os valores de importação e exportação no DF. “Brasília tem essa característica não só pela questão geográfica e por ser uma cidade administrativa, mas também por não ter indústrias suficientes para um grande volume de exportação”, afirma.
“Além disso, Brasília centraliza as compras do governo federal, mesmo que destinadas a outras unidades da Federação. Portanto, é normal que a importação seja maior do que a exportação”, comenta, ressaltando que Brasília está tentando incentivar o crescimento das exportações.
Cenário
Segundo Francisca Lucena, diretora de estatística e pesquisas socioeconômicas do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), a perspectiva de cenário em relação à balança comercial é otimista. “Temos um mercado e um bom volume de exportações de produtos agroindustriais como soja para a China, e também de carnes de aves e seus derivados, para os países do Oriente Médio”, ressalta.
Quando se analisa a questão das importações, de acordo com Francisca, apesar de o DF importar diversos insumos dos Estados Unidos, principalmente da área de saúde, eles também vêm de países da Europa. “Portanto, em função desse cenário de guerra tarifária entre os Estados Unidos e a China, a gente espera, inclusive, algum aumento na procura de produtos brasileiros por parte de países asiáticos”, avalia.
O economista César Bergo observa que a guerra comercial, provocada pelo governo americano, pode ser benéfica para o Distrito Federal, sobretudo porque, além de vender muito para a China, os produtos que exportamos para lá são exatamente os que, de alguma forma, os Estados Unidos estão taxando. Em relação aos produtos agropecuários, o especialista afirma que eles são os principais no comércio exterior do DF.
“Essa crise internacional pode ser benéfica, num primeiro momento, para nós, sobretudo no que tange à exportação de soja e de produtos agropecuários, mas, no médio e longo prazo, não é boa para ninguém”, alerta. “Já se sentem alguns impactos e, provavelmente, a China deverá buscar alternativas aos produtos americanos”, acrescenta. Bergo pondera que é preciso se preparar para um segundo momento, em que essas altas tarifas não existam mais. “A tendência é que haja uma negociação entre os países. Elas serão negociadas e temos que observar como vai funcionar o mercado”, comenta.
Impactos
O presidente da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF), José Guilherme Brenner, diz que, por enquanto, o setor ainda não sentiu nenhum reflexo da guerra tarifária. “Não sabemos qual deve ser o alcance, mas havia uma certa perspectiva de aumento das exportações, tanto para a China quanto para outros países que tivessem um embate maior com os EUA. No entanto, até o momento, ainda não foi possível perceber qualquer alteração no mercado”, observa.
Brenner destaca o papel de grande comprador que a China tem. “Talvez até aumente a busca do país por matéria-prima. Mas as coisas são muito incertas e pode ser que amanhã tudo mude, seja pela questão da safra ou pelo possível fim dessa guerra tarifária”, aponta. Segundo o presidente da Coopa-DF, a postura do produtor, durante este momento de tensão, tem que ser conservadora nas negociações, mas mantendo uma boa produtividade. “Ele tem que saber os melhores momentos para vender e o melhor preço a ser praticado, para que o lucro se mantenha alto”, opina.
Presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Jamal Jorge Bittar afirma que é cedo para falar sobre possíveis efeitos positivos da guerra tarifária para o Brasil e, consequentemente, para o DF. “O quadro de tarifas, como se apresenta agora, pode favorecer a entrada de produtos brasileiros de alguns setores nos EUA, mas entendo que, em curto e médio prazo, Estados Unidos e China devem estabelecer um acordo comercial que trará a situação para um nível mais próximo da normalidade”, comenta.
De acordo com o presidente da Fibra, é praticamente impossível vencer uma guerra comercial contra a China. “E os Estados Unidos sentem a forte pressão global sobre o dólar e a queda de credibilidade quanto à economia. Esse quadro será um dos fatores que forçará um acordo entre os países”, ressalta.
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