Políticas culturais contemplam artistas LGBTQIA+ do DF
Em junho, as cores do arco-íris tomam conta do mundo para mostrar que a palavra “orgulho” é muito mais que se valorizar como indivíduo. Celebrado nesta segunda-feira (28), o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ tem por objetivo conscientizar a população sobre a importância do combate à homofobia para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e igualitária, independentemente do gênero sexual. E a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) abraça a causa.
Com o intuito de reconhecer o orgulho, a visibilidade, a resistência, a alegria e a carreira cultural dessa linguagem, a Secec lançou, no último dia 17, um edital de premiação da cultura LGBTQA+. O certame, que tem inscrições abertas até 2 de julho, premiará 50 artistas do segmento num aporte de R$ 150 mil para manifestações culturais que enalteçam a promoção da diversidade de gênero, respeito, amor e combate à homofobia.
A iniciativa faz parte de uma série de ações desenvolvidas para criar cada vez mais meios do aprimoramento das políticas públicas na cultura em suas diversas linguagens. Para isto, é necessário entender a necessidade dos segmentos LGBTQI+, assim como todos os outros. “A secretaria trabalha com pilares de democratização, acesso e diversidade”, afirma o titular da pasta, Bartolomeu Rodrigues. “Não podemos deixar fora das políticas públicas nenhum artista, e os nossos criadores LGBTQIA+ estão sendo naturalmente abraçados por ações constantes”.
Além de ser um movimento importante para a evolução da sociedade, os segmentos culturais que abrangem a cultura LGBTQIA+ revelam talentos, geram empregos, capacitações e oportunidades.
Conquistas
Coordenador do projeto Brasília Orgulho, que está estampando os principais pontos de Brasília com as cores do arco-íris, a exemplo do Palácio do Buriti, o produtor cultural Igor Albuquerque considera que as reivindicações da comunidade LGBTQIA+ no Distrito Federal começaram em 1998, na I Parada LGBTQI+ de Brasília.
Igor relembra que não havia uma delegacia específica para o segmento, nem leis contra discriminação ou serviços sociais para essa parte da população. “Hoje, em 2021, chegamos com essas e muitas outras conquistas”, avalia. “Podemos nos mostrar como grandes talentos culturais do país. A inclusão, em 2020, de categorias específicas para LGBTQIA+ e diversidade no FAC [Fundo de Apoio à Cultura] é muito importante para que artistas locais de nossa comunidade aprovem seus projetos”.
A subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural, Sol Montes, ressalta: “A diversidade de gênero, para que tenha voz, precisa contar com a participação popular e virar uma causa de todos, inclusive os mais vulneráveis. O Prêmio LGBTQIA+ é um piloto para que possamos efetivar mais políticas para este e outros segmentos.”
Em diálogo com artistas da cultura LGBTQIA+, a Secec realizou a inclusão da categoria no Cadastro de Entes e Agentes Culturais (Ceac), a partir da publicação da Portaria nº 54/2021, em maio deste ano, o que dá direito à inscrição de projetos segmentados nos editais do FAC e da Lei de Incentivo à Cultura (LIC).
Políticas de acesso
“No caso dos agentes LGBTQIA+, é também uma luta contra o preconceito, a invisibilidade, e todas as formas de exclusão que esses artistas sofrem na sociedade”, ressalta Bartolomeu Rodrigues. “O que estamos fazendo é alinhá-los com a política pública de acesso, sem qualquer distinção”. No edital FAC Brasília Cultura, encerrado no dia 23, havia uma linha para cultura LGBTQIA+ com premiações em torno de R$ 500 mil.
Produtora cultural e jornalista, Carolina Ribeiro é mulher trans e relembra o momento de discriminação após sua transição de gênero e destaca que a cultura se tornou, além de sua principal atividade profissional, o seu principal refúgio contra o preconceito, e descobriu que a arte sempre foi uma porta aberta aos talentos LGBTQIA+.
“Esse setor parece ter feito um esforço maior para abraçar essas pessoas”, comemora ela. “Esse retorno é sentido por toda a sociedade, já que de certa forma nos encontramos como cidadãos com voz e espaço para as nossas expressões.”
Acolhimento à diversidade
Pianista clássica, produtora e arte-educadora, Flor Furacão ingressou aos 9 anos na Escola de Música de Brasília (BEM) mediante processo seletivo – desde então, já aspirava a uma carreira cultural. A artista trans acredita que a maior luta da comunidade é conquistar o acolhimento da sociedade, de modo a conviver com a diversidade de gênero existente na sociedade.
“Quando o convívio existe, as pessoas criam um sentimento pela história e pelas lutas humanas”, diz. “Com tudo que passei na área da cultura, as pessoas tidas como preconceituosas acabam se desconstruindo através da convivência. É necessário colocar artistas LGBTQIA+ em foco e como referência do que é moderno e atual. A comunidade tem muito espaço no carnaval, mas a gente quer ocupar todos os espaços. Somos tão múltiplas, diversas e temos existências tão ricas! Nossa luta é para viver em um ambiente mais seguro e saudável, na política, na cultura e em todos os lugares representativos importantes”.
Formada pela tradicional Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, a atriz, jornalista e produtora cultural Clara Camarano classifica a cultura como um lugar de acolhimento e empatia com todo o tipo de amor, independentemente de gênero ou orientação sexual. O caminho pela arte, revela, foi sua motivação para compreender o verdadeiro sentido das causas LGBTQIA+ e se incluir no movimento.
“O teatro foi fundamental para me assumir como lésbica e sentir orgulho da minha forma de amar”, conta. “Nesse momento, a classe artística evolui junto à sociedade em um trabalho de democratizar, gerar oportunidades, reconhecer talentos, valorizar e remunerar os artistas LGBTQIA+, afinal só pregamos que o amor é sempre amor. Viva os avanços das políticas culturais para a nossa comunidade e feliz dia do orgulho!”
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