Irmãs acolhidas em centro de convivência do GDF conquistam vaga na UnB
Espaço para troca de experiências, diálogo e acolhimento. É assim que as irmãs Naiara Lopes Mendes Ferreira, 21 anos, e Tainara Lopes Ferreira, 18, definem o Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (Cecon) de São Sebastião. O equipamento do Governo do Distrito Federal (GDF), gerido pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal (Sedes), foi essencial para o desenvolvimento das duas e para a conquista da tão sonhada vaga na Universidade de Brasília (UnB).
Naiara iniciou o curso de serviços sociais em 2023 e Tainara se prepara para começar a graduação em enfermagem no segundo semestre deste ano. A caçula também está na lista de espera para o curso de medicina na universidade pública. “Se não fosse pelo Cecon, não estaria onde estou hoje. Eu pensava que não conseguiria entrar para a faculdade”, relata Naiara, que começou a participar do grupo de jovens aos 14 anos por indicação do Cras da região administrativa.
No espaço, Naiara encontrou pessoas que passavam pelos mesmos desafios e dilemas que ela, além de ter tido a oportunidade de desenvolver habilidades artísticas. “Quando entrei, os jovens que participavam do coletivo eram todos muito juntos. A gente conversava sobre tudo e se acolhia”, lembra. Os quadros pintados por ela estão expostos no Cecon de São Sebastião e retratam a visão de uma jovem negra que está descobrindo o mundo.
Para o futuro, a estudante imagina estar do outro lado da mesa: ajudando crianças e adolescentes a se desenvolverem por meio do diálogo e do acolhimento. “O Cecon me ajudou muito na escolha por serviço social, tanto me incentivando a estudar quanto me mostrando que eu me encaixava nessa área. Sempre estive à frente das coisas aqui, incentivando os jovens a fazerem atividades e é com isso que quero trabalhar”, afirma.
Foco e determinação
Em meio à uma rotina exaustiva conciliando as aulas regulares do ensino médio e o cursinho para o vestibular, foi no Cecon de São Sebastião que Tainara encontrou um lugar de descanso. Ela começou a frequentar o equipamento da Sedes aos 10 anos, acompanhando a irmã mais velha em passeios, e aos 15 passou a frequentar um grupo com outros jovens.
Pouco depois, teve que interromper a participação nos encontros devido aos estudos, mas voltou no ano passado, quando percebeu a necessidade de ter um lugar seguro para conversar. “Teve uma época do terceiro ano que a minha vida era muito ruim. Acordava às 5h, ia para a escola, depois para o cursinho, voltava e fazia tudo de novo no dia seguinte. Chegou uma hora que eu já não estava bem”, relata Tainara.
Ao revelar a situação para a chefe do Cecon de São Sebastião, Simone Correa, a jovem teve a oportunidade de participar de um novo grupo, formado por ela e mais duas meninas uma vez por semana. “É bom conversar com outras pessoas da sua idade porque, às vezes, elas podem estar passando pelas mesmas coisas que você na escola ou dentro de casa. Coisas que você não fala com outras pessoas, mas que se sente bem para compartilhar com quem pode te entender”, comenta.
O acolhimento do espaço do GDF motivou Tainara a estudar com ainda mais afinco, resultando na vaga para enfermagem e na lista de espera para medicina na UnB. “As atividades me ajudaram muito. Eu sempre quis fazer medicina, sempre, e às vezes eu não acreditava em mim, mas a Simone acreditou e falava que ia dar certo. E hoje vejo que é possível mesmo”, afirma.
Espaço de acolhimento
Localizado na Quadra 102 do Bairro Residencial Oeste, o Cecon de São Sebastião conta com 16 grupos de convivência, voltados a idosos, pessoas com deficiência, mulheres vítimas de violência, entre outros públicos. São usadas metodologias envolvendo linguagens de arte, exercícios físicos e outras atividades, como produção de florais. Os jovens são reunidos às quintas-feiras, das 15h às 17h, no grupo O Mundo é Bão, Sebastião.
“Atualmente, recebemos pessoas de 14 a 20 anos. Trabalhamos muito as linguagens artísticas, sempre dentro de três eixos temáticos – eu comigo, eu com o outro e eu com a comunidade”, salienta a chefe da unidade, Simone Correa. “O serviço de convivência atua propiciando a troca de experiências, leva a informação para que o jovem possa trabalhar a autoestima, o autorrespeito, o autoconhecimento e as metas de vida, sempre valorizando a educação como forma conseguir evoluir e sair desse estado de vulnerabilidade.”
Em maio, a unidade entrou para a estrutura da Sedes – até então, era vinculado ao centro de referência de assistência social (Cras) da região administrativa. Atualmente, há 243 cidadãos inscritos nos grupos. Para participar, basta ir até o local e demonstrar interesse nas atividades. Os cidadãos encaminhados pelos Cras, centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) ou pela Secretaria de Saúde (SES) também são atendidos.
Atendimento
O Distrito Federal conta com 16 unidades do equipamento público, locais destinados a atendimentos em grupo a pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social. Os Cecons proporcionam, além do acolhimento, trocas de experiências entre os participantes e um fortalecimento dos vínculos com a família e a comunidade, promovendo dinâmicas e oferecendo atividades culturais, artísticas e esportivas.
“Histórias como a de Naiara e Tainara mostram, na prática, o papel dos Cecons: fortalecer vínculos familiares”, declara a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra. “Nessas unidades, as famílias participam de atividades que desenvolvem potencialidades, estimulam o pertencimento comunitário e refletem sobre questões importantes conforme a idade dos participantes”.
Veja neste link os endereços de todos os Cecons do DF.
Com informações da Agência Brasília
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