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Ricardo Nunes e Boulos miram ‘voto evangélico’ a um ano das eleições de 2024

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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) buscam apoio de religiosos, especialmente dos evangélicos, para as eleições municipais de 2024. Enquanto Nunes trabalha para consolidar a sua presença nas grandes denominações, como a Assembleia de Deus, Boulos procura driblar essas igrejas – que são tradicionalmente antiesquerda – ao se aproximar de pastores independentes em bairros das periferias da capital paulista. Ambos são os pré-candidatos à Prefeitura mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto.

Nunes intensificou a sua participação em eventos religiosos no mês passado. Em outubro, ele se reuniu com líderes religiosos em 11 ocasiões, um aumento de sete reuniões em relação ao período anterior. Entre os encontros, ele foi à reunião do Conselho de Pastores do Estado de São Paulo, com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o pastor Silas Malafaia. O prefeito também recebeu André Tsuchita, CEO da Assembleia de Deus Ministério do Belém, em seu gabinete e foi a três cultos evangélicos.

O número de evangélicos tem crescido no Brasil. Em 2010, eles representavam 21,88% da população da cidade de São Paulo, de acordo com Censo divulgado naquele ano. Os dados do novo Censo, revelados em 2023, ainda não trouxeram os números atualizados sobre o perfil religioso dos brasileiros. Uma pesquisa do Datafolha de 2020, porém, apontava que o País já tinha 31% de evangélicos – os católicos são 50%. Mais populosa do País, a cidade de São Paulo tem 11,4 milhões de habitantes, segundo o Censo mais recente.

Interlocutores de Nunes afirmam que as lideranças religiosas têm sido receptivas em relação ao prefeito, principalmente devido ao seu histórico como vereador na Câmara Municipal de São Paulo. Durante o seu tempo no legislativo paulistano (2013-2020), Nunes defendeu que sexualidade e gênero não deveriam ser tema nas aulas das escolas municipais. Além disso, ele deu apoio à anistia das igrejas em situação irregular durante a implementação da lei de zoneamento em 2016.

Entre os possíveis apoiadores de Nunes na comunidade evangélica, aliados do prefeito mencionam o apoio do apóstolo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo, assim como o respaldo do apóstolo César Augusto, da Igreja Fonte da Vida. Segundo um vereador evangélico, este segmento religioso “gosta” de Nunes principalmente pela atuação dele junto à Bancada da Bíblia. Já Boulos, na visão desse parlamentar, “dificilmente” seria convidado para falar em uma igreja mais tradicional.

Católico atuante e de perfil conversador, Nunes já conquistou o apoio do partido de Tarcísio, o Republicanos, que é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo bispo Edir Macedo. No último mês, o prefeito não só se encontrou com membros da comunidade evangélica, mas também teve reuniões com padres católicos. No total, foram seis encontros com evangélicos e cinco com católicos.

Procurado pelo Estadão, o prefeito Ricardo Nunes informou, por meio de nota, que as agendas com lideranças religiosas no mês de outubro “foram compromissos institucionais para os quais o prefeito foi convidado em função de atividades sociais desenvolvidas em parceria entre a gestão municipal e as organizações religiosas”. Ele também lembrou “que sua proximidade com os religiosos vem de amizade pessoal, uma vez que ele apoia e participa de ações vinculadas às igrejas há muitos anos”.

Boulos mira igrejas menores

Sem o respaldo das grandes denominações evangélicas, o deputado Guilherme Boulos busca se aproximar da comunidade evangélica por meio de pastores de igrejas menores. Desde setembro, o pré-candidato do PSOL realiza caravanas em bairros da capital. O objeto da ação batizada de “Salve São Paulo” é percorrer todas as 32 subprefeituras da cidade até o fim deste ano. Cada caravana inclui sessões de diálogo com comerciantes locais, líderes comunitários e, também, lideranças religiosas.

Estamos construindo um amplo processo de diálogo com toda a sociedade. Esse diálogo tem se dado regularmente com religiosos de todas as denominações.”

Até o momento, Boulos se reuniu com pastores nas regiões de São Mateus, Perus, Jabaquara e Butantã. Os encontros ocorrem em áreas onde tanto o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) como o PT, que apoia a candidatura de Boulos à Prefeitura, realizam trabalhos sociais. Geralmente, o contato com os líderes religiosos é intermediado por líderes comunitários que já têm afinidade com a esquerda. Assim, a atuação de membros do PT tem sido fundamental para a estratégia do psolista.

“Estamos construindo um amplo processo de diálogo com toda a sociedade. Esse diálogo tem se dado regularmente com religiosos de todas as denominações, que muitas vezes lidam diretamente, na ponta, com os problemas que afligem os paulistanos”, disse Boulos em nota enviada ao Estadão. “É fundamental que eles sejam ouvidos para que possamos construir soluções conjuntas para os problemas da nossa cidade”.

Em coletiva de imprensa, no dia 16 de outubro, Boulos destacou que superar a barreira com os evangélicos é uma de suas preocupações. Segundo ele, uma parte significativa dos evangélicos mora em bairros periféricos e enfrenta desafios no acesso aos serviços públicos. O pré-candidato do PSOL acredita que, ao abordar questões concretas, como os serviços oferecidos pela Prefeitura, será possível estabelecer um bom diálogo com esse segmento da população, que, segundo estimativas, representa até um terço do eleitorado.

Aproximação com evangélicos faz parte de jogo eleitoral

Para Vinicius do Valle, diretor do Observatório Evangélico e doutor em Ciência Política pela USP, a aproximação dos pré-candidatos com a comunidade evangélica foi um movimento previsível. Segundo ele, não há como concorrer à Prefeitura de São Paulo sem estabelecer laços com esse segmento da população. Entretanto, ele observa que essas ações ainda estão em estágios iniciais e que o panorama político pode mudar até o início das eleições. Ele cita, por exemplo, que outras candidaturas, como a da deputada federal Tabata Amaral (PSB), podem ganhar tração até lá.

Como mostrou o Estadãoo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tem ajudado Tabata a construir sua pré-campanha desde o início do ano e tem a introduzido em segmentos nos quais angariou simpatia ao longo dos 13 anos em que foi governador do Estado. Ele é próximo de representantes de associações comerciais, de líderes católicos e evangélicos e também de entidades sociais, que também mantêm relação com sua mulher, Lu Alckmin, ex-presidente do Fundo Social de São Paulo.

“(Na eleição de 2022), O Boulos viu que esse eleitorado foi muito difícil para o Lula. Por isso, ele faz esse movimento de aproximação. Mas os evangélicos são muito heterogêneos […] para começar esse movimento faz sentido ele procurar as igrejas menores e independentes, que estão localizadas em regiões onde o MTST está presente, o que facilita o contato dele com esses pastores”, diz Valle.

De acordo com o pesquisador, as grandes denominações são naturalmente avessas a Boulos, uma vez que já possuem uma relação histórica com a direita e, mais recentemente, com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele afirma ainda que a comunidade evangélica, de forma geral, demonstra preocupações relacionadas às questões de moralidade e da família, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o papel da mulher na sociedade e a descriminalização do aborto. Segundo Valle, os pastores progressistas são uma minoria dentro desse contexto, o que representa um desafio para Boulos.

Quando se trata de Ricardo Nunes, Valle avalia que o desafio do prefeito será se estabelecer como o “herdeiro legítimo do bolsonarismo”, uma vez que o ex-presidente mantém uma forte influência nesse segmento do eleitorado. Até o momento, Bolsonaro não declarou apoio a Nunes, e a relação entre os dois é caracterizada por idas e vindas, com declarações do prefeito que desagradaram os apoiadores do ex-presidente.

Com informações do Estadão

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