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Alta dos casos de dengue ligam sinal de alerta na saúde pública

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Ocorrências prováveis na capital do país chegaram a 64.776 até outubro. No mesmo período do ano passado, o número de registros foi de 21.082 casos. Neste ano, 11 óbitos pela doença foram notificados

A dengue no Distrito Federal cresceu 394,5% este ano em relação ao mesmo período de 2021. Os casos prováveis na capital do país chegaram a 64.776 registros, um aumento exponencial quando comparado de janeiro a outubro do ano passado, que notificou 21.082 ocorrências suspeitas. No que diz respeito às mortes, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) afirma que, em 2022, 11 óbitos foram constatados. A faixa etária que apresenta maior índice da doença está entre 70 e 79 anos. O predomínio, no entanto, concentra-se nas mulheres, que ilustram 55,3% dos testes positivos, enquanto os homens, apenas 44,6%.

Febre alta, indisposição, falta de apetite e fortes coceiras. Carlos Almeida (nome fictício), 48 anos, descreve que as dores eram intensas. Infectado com dengue em julho deste ano, ele acredita que pode ter se contaminado em casa ou no ambiente de trabalho. Os dois lugares, segundo ele, têm jardins que acumulam vários mosquitos.

Morador do Lago Norte, o técnico em informática descreve que, nas proximidades de sua residência, existem vários focos do aedes aegypti. Mesmo tentando ao máximo se prevenir da doença, relata que acabou se contaminando. “Aqui (em casa) limpamos, jogamos inseticida e evitamos água parada. Mas alguma área pode ter escapado. Também não temos como garantir que os vizinhos estejam fazendo as mesmas coisas”, destaca.

Nos primeiros dias, os sintomas vieram fortes. Ele descreve que os alimentos tinham “gosto de papelão” e a indisposição, atrelada a essa dificuldade, o levou para uma unidade de saúde. No local, foi diagnosticado com desidratação e precisou de uma dose de soro intravenosa para melhorar. O médico recomendou para o morador do Lago Norte a ingestão de um litro de água por dia para que não precisasse ser internado. Seguindo à risca a orientação, as dores e o cansaço passaram ao longo dos dias. Hoje, ele não sente nenhuma sequela, mas não deseja reviver os quase 30 dias em que esteve com dengue.

Fatores

Para o professor de epidemiologia na Universidade de Brasília (UnB) Wildo Navegantes, a retomada das atividades cotidianas por parte da população pode ter levado a um maior acúmulo de reservatórios nos ambientes urbanos da capital do país, o que favorece a proliferação dos mosquitos da dengue. Além disso, o especialista analisa que ações governamentais, como obras de saneamento, não foram ofertadas para a mitigação dos casos. “Isso, principalmente nas regiões mais periféricas, bem como parece não ter havido atividades educacionais e subsequentemente preventivas para evitar o aumento nesses locais”, explica o professor.

Com a chegada do período pluvial, Wildo vê para o futuro uma possibilidade de que o contexto geral das ocorrências piore até o início de 2023. Ele diz que, se o tempo se mantiver desta forma, os mosquitos podem se proliferar mais facilmente e o cenário para o ano que vem pode acabar piorando.

Semanas difíceis

Matheus Del Rosso, 22 anos, é morador do Lago Norte e se infectou com a doença em março deste ano. Segundo ele, os sintomas duraram cerca de duas semanas. “Tive dor no corpo, na cabeça, nos olhos, febre e enjoo. Perdi totalmente a fome e tinha muito sono”, relembra o corretor de imóveis. O jovem conta que as dores passaram rápido, entre três ou quatro dias.

No entanto, a dificuldade para comer e o cansaço no corpo foram as sensações que perduraram por mais tempo. Matheus acredita que, muito possivelmente, tenha se infectado dentro de casa. “No Lago Norte, tem muitos jardins, lugares com muita água parada”, detalha.

Além do corretor imobiliário, outros familiares chegaram a se infectar com a dengue. Depois de tantos parentes passarem por momentos difíceis, o cuidado no lar passou a ser mais intenso em relação a possíveis focos do mosquito.

Ação conjunta

Na visão de Mauro Niskier Sanchez, epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da UnB, o controle da dengue é uma responsabilidade compartilhada entre o poder público e a população. Diante disso, é importante que as duas partes trabalhem juntas para conter o avanço da doença. “O governo disponibiliza recursos humanos, em especial os agentes de vigilância ambiental, que visitam residências e comércio, conduzindo ações educativas e de controle do mosquito”, ressalta.

Em relação à comunidade geral, Mauro orienta que cada indivíduo tem o dever cívico de receber as equipes de vigilância e de exercer as ações de prevenção necessárias para que a dengue não se agrave como problema de saúde pública. “A educação em saúde e as ações de controle só surtem efeito se governo e sociedade agem em sinergia, incorporando atitudes que impedem a proliferação do vetor e como consequência a transmissão da doença”, finaliza o professor.

Trabalhos

A Secretaria de Saúde afirma que as ações de combate no Distrito Federal são realizadas de segunda a sexta-feira, com auxílio da Vigilância Ambiental, que divide várias equipes nas quadras de cada região e realiza inspeções nos quintais das casas. Outro foco importante, segundo a pasta, é em locais abandonados, e precisam ser vistoriados e monitorados constantemente.

Além da Secretaria, órgãos como Corpo de Bombeiros (CBMDF), DF Legal, Defesa Civil, Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e a Secretaria de Segurança Pública (SSP) estão envolvidos no trabalho. Conforme os dados da pasta, de janeiro até setembro de 2022, mais de 2,1 milhões de lares foram inspecionados. E, no mesmo período, cerca de 531 mil possíveis depósitos do mosquito aedes aegypti foram eliminados.

*Estagiários sob a supervisão de Patrick Selvatti

Fonte: Correio Braziliense

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Jornalista

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