Ir para o conteúdo
Casa Brasil Lula critica “absurdos” de Trump: ‘quase um discurso anarquista’
Brasil

Lula critica “absurdos” de Trump: ‘quase um discurso anarquista’

Compartilhar
Compartilhar

Presidente ainda condena a guerra comercial iniciada pelos EUA: “não é possível acabar com o multilateralismo”

247 – Em entrevista à revista The New Yorker, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou com veemência o comportamento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e alertou para o avanço de uma retórica que ameaça a ordem democrática global. Segundo Lula, os pronunciamentos recentes de Trump no Congresso americano se assemelham a discursos proferidos por anarquistas no início do século XX. “Vi um discurso dele no Congresso americano recentemente, e foi absurdo — aqueles republicanos aplaudindo qualquer besteira que ele falasse. Era quase o mesmo tipo de discurso que anarquistas faziam no início do século, pedindo uma sociedade sem instituições, onde impera o capital”, declarou.

A crítica ocorre em um contexto de crescente tensão entre os EUA e países latino-americanos, especialmente após a imposição, pelo governo Trump, de tarifas sobre o aço brasileiro. Lula lamentou a guinada dos Estados Unidos em direção ao isolacionismo e à imposição de medidas protecionistas que, segundo ele, minam décadas de cooperação internacional. “Temos que convencer o mundo de que não é possível acabar com o multilateralismo”, defendeu. “O multilateralismo era uma forma de civilidade encontrada entre os Estados para coexistirem pacificamente, com regras que todos devem seguir.”Play Video

“O multilateralismo já provou seu valor” – Durante a conversa, Lula enfatizou que a construção de uma ordem global baseada em acordos multilaterais e cooperação entre países foi o que permitiu avanços significativos nas últimas décadas. Para ele, abandonar esse modelo significa colocar em risco a estabilidade planetária. “Está provado que, se não controlarmos o ar, todos seremos vítimas da poluição. Se o mar subir, todos seremos afetados. Ainda não caiu a ficha dos líderes mais importantes de que precisamos de governança global para certas decisões”, disse.

Lula afirmou que a retórica beligerante promovida por Trump e seus aliados, como o vice-presidente J. D. Vance e o empresário Elon Musk, representa uma ameaça real à democracia. “Eles são negacionistas das instituições que garantem a democracia mundial”, declarou. O presidente brasileiro criticou ainda a postura intervencionista de Washington, citando a interferência dos EUA na política de outros países como um “crime”. “O fato de o vice-presidente dos EUA interferir na política da Alemanha já é um crime. Eu nunca fui a outro país interferir em uma eleição!”, reforçou.

Críticas à guerra comercial contra a China – Lula também abordou a crescente hostilidade do Ocidente em relação à China, que segundo ele é motivada por interesses comerciais, não por questões de direitos humanos ou pela disputa sobre Taiwan. “Ainda bem que temos a China, que, do ponto de vista tecnológico, é muito avançada e pode competir no mundo da inteligência artificial, nos dando uma alternativa nesse debate”, afirmou. “A China começou a produzir tudo que era feito nos EUA e na Europa. Copiou com habilidade e aprendeu a produzir tão bem ou melhor. Agora que os chineses ficaram competitivos, viraram inimigos do mundo”, criticou.

Ele relembrou que a ideologia do livre comércio foi promovida justamente por líderes ocidentais como Ronald Reagan e Margaret Thatcher nos anos 1980, e que agora os mesmos países recuam diante da ascensão de novos atores globais. “Eu sou de uma geração que aprendeu que o melhor para o mundo era a globalização e o livre comércio. Produtos deviam circular livremente. O dinheiro devia circular livremente”, disse. Para Lula, o que está em curso é uma tentativa de sabotar as regras do jogo por parte dos que antes as impuseram. “Não aceitamos a ideia de uma segunda Guerra Fria. Aceitamos a ideia de que, quanto mais parecidos forem os países—tecnológica e militarmente—mais eles devem conversar, porque não sei se o planeta aguenta uma Terceira Guerra Mundial.”

Defesa da diplomacia e aviso sobre tarifas – Ao comentar a imposição de tarifas sobre o aço brasileiro, Lula afirmou que o Brasil buscará uma solução diplomática, mas advertiu que poderá adotar medidas de reciprocidade. “Queremos mostrar aos EUA o que significam duzentos anos de relações diplomáticas e comerciais com o Brasil. O que eles importam do Brasil, transformam e exportam de volta. É uma via de mão dupla. Queremos negociar diplomaticamente. Se não for possível, tomaremos medidas”, alertou.

Apesar da tensão, Lula revelou que ainda não teve contato com Trump desde seu retorno ao poder. “Se, como representante do Estado americano, ele quiser falar com o Lula, representante do Estado brasileiro, conversarei com tranquilidade. Mas até agora também não tive interesse em falar com ele. Se um dia tiver um problema e precisar ligar para ele, eu ligo”, afirmou.

Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.

Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604.

Compartilhar
Escrito por
Jeová Rodrigues

Jornalista

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos Relacionados

Pessoas com deficiência podem ter direito ao auxílio-inclusão

O auxílio-inclusão é um benefício assistencial mantido pelo Instituto Nacional do Seguro...

PF expõe esquema ilegal de combustível para garimpos em Terra Yanomami

Investigados forneciam combustível de aviação para aeronaves usadas na mineração ilegal na...

Hugo Motta oficializa suspensão do mandato de Gilvan da Federal

O Conselho de Ética aprovou a suspensão do deputado por três meses...

Câmara com 531 deputados: os 9 estados que poderão aumentar bancadas

Proposta aprovada prevê 18 novos deputados. Pará e Santa Catarina são os...