Descoberto complô do Irã para assassinar Donald Trump na campanha
Departamento de Justiça dos Estados Unidos revela plano encomendado pela Guarda Revolucionária Islâmica contra o presidente eleito e contra ativista de direitos humanos. Duas pessoas estão presas e uma é considerada foragida
O plano revelado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos teria como origem o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. Os alvos iniciais seriam cidadãos iranianos residentes nos EUA, incluindo Masih Alinejad, uma ativista de direitos humanos exilada em Nova York. Em 7 de outubro passado, o foco teria mudado para Donald Trump. O atentado ocorreria poucas semanas antes da eleição de 5 de novembro. Os detalhes foram divulgados por Merrick Garland, procurador-geral, e por Christopher Wray, diretor do FBI (a polícia federal americana). O iraniano Farhad Shakeri, 51; e os norte-americanos Carlisle Rivera, 49, conhecido como “Pop”, e Johnathon Loadhoalt, 36. Rivera e Loadholt foram presos em Nova York. Shakeri, um agente da Guarda Revolucionária, está foragido. O FBI acredita que ele resida no Irã.
Sob a promessa de US$ 100 mil, Shakeri teria recrutado os dois outros acusados em uma rede de criminosos. Ele migrou para os EUA quando criança e foi deportado por volta de 2008, depois de cumprir uma sentença de 14 anos por roubo. Na prisão, Shakeri conheceu Rivera e Loadhoalt. Trump sofreu um atentado durante comício na cidade de Butler, no estado da Pensilvânia, em 13 de julho passado. Dois meses depois, em 15 de setembro, um homem foi preso após apontar um fuzil contra o republicano, enquanto ele jogava golfe em seu clube particular, em West Palm Beach. Os dois incidentes não teriam ligação com o plano descoberto. Isso porque Shakeri teria recebido ordens de matar Trump em um prazo de uma semana — até 24 de outubro.
“Existem poucos atores no mundo que representam uma ameaça tão grave à segurança nacional dos Estados Unidos como o Irã. Não apoiaremos as tentativas do regime iraniano de pôr em perigo o povo americano e a segurança nacional da América”, declarou Garland. “As acusações anunciadas hoje (ontem) expõem tentativas reiteradas e descaradas do Irã de alvejar cidadãos dos EUA, incluindo o presidente eleito Donald Trump, outros líderes do governo e dissidentes que criticam o regime em Teerã”, afirmou, por sua vez, Wray.
Segundo ele, o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica é uma organização terrorista que tem conspirado com criminosos e assassinos para alvejar e eliminar americanos nos EUA. “Isso não será tolerado. Graças ao duro trabalho do FBI, seus esquemas mortíferos foram interrompidos. Estamos empenhados em utilizar todos os recursos do FBI para proteger os nossos cidadãos do Irã ou de qualquer outro adversário que tenha como alvo os americanos”, acrescentou.
Em vídeo divulgado na rede social X, Masih Alinejad contou que estava em Berlim, para uma cerimônia alusiva ao 35º aniversário da queda do Muro de Berlim, quando recebeu um telefonema do FBI. “Eles me disseram que prenderam dois indivíduos, contratados pelo regime iraniano, para me matar e para assassinar o presidente Trump. Esses caras foram à minha casa para me matar. Eu tinha sido convidada para ir à Universidade Fairfield, onde daria uma palestra, e o FBI me aconselhou a não ir. Não me disseram o motivo, mas admitiram uma ameaça iminente”, relatou. “Agora, sei o motivo pelo qual não poderia ir à universidade. Estou em choque. Conheço a natureza da República Islâmica. Ela mata qualquer um que se oponha ou critique sua ideologia.”
Para Majid Rafizadeh, cientista politico iraniano-americano e especialista em Oriente Médio pela Universidade de Harvard, o fato de o Departamento de Justiça ter tornado públicas as queixas sobre um suposto complô iraniano para assassinar o presidente eleito sinalziaria uma grave violação diplomática e de segurança. “Isso sugere que o Irã possa estar disposto a tomar medidas drásticas para influenciar ou responder à política externa dos Estados Unidos. Tal queixa deverá atrair intenso escrutínio público e político, especialmente dada a natureza de grande visibilidade do alvo e as implicações para as relações entre Washington e Teerã”, afirmou ao Correio.
Rafizadeh acredita que a divulgação do plano faça parte de uma estratégia mais ampla de segurança nacional, cujo objetivo seja dissuadir mais ações do Irã ou reforçar sanções econômicas, além de outras contramedidas diretas. Questionado sobre as motivações do regime teocrático islâmico para matar Trump, o especialista cita o papel do presidente eleito no restabelecimento e na intensificação das sanções, que tiveram um impacto econômico “devastador” sobre o Irã.
Ainda segundo Rafizadeh, o governo Trump (2016-2020) encampou políticas percebidas pelo Irã como antagônicas, como o assassinato do general Qassem Soleimani, um dos chefes da Guarda Revolucionária Islâmica, em 3 de janeiro de 2020, e uma campanha de pressão máxima sobre Teerã. “Essas ações foram vistas pelo Irã como ameças à sua segurança e à sua influência regional. A retaliação poderia ser motivada pelo desejo de reafirmar o próprio poder ou de alertar futuras lideranças sobre os riscos de adotarem políticas agressivas silmilares contra o regime”, acrescentou o professor de Harvard.
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