COOPTAÇÃO OU SOBREVIVÊNCIA?
Não li toda a entrevista de Lula ao jornal (sic) goebbels, na série de entrevistas sobre os atos terroristas que culminaram no 8 de janeiro. Mas duas passagens divulgadas com destaque chamam a atenção: Lula disse que não foi corretamente avisado por josé múcio sobre os riscos dos acampamentos; acusou um conluio (o presidente falou em “pacto”) entre o genocida, o bozofascista governador do DF, ibaneis, as forças de segurança (exército, pf, pm) para deixar que os atentados (como as bombas na véspera do Natal) ocorressem, sem ação nenhuma da polícia.
Essas falas do presidente revelam que ele está muitíssimo ciente do que ocorreu, de quem são os golpistas, incluindo o papel central das forças armadas. Ao contrário do que se especulava, Lula não foi “enganado” ou não tinha a dimensão da orquestração dos atores responsáveis pelo golpe que culminou no 8 de janeiro.
O fato de ele não ter ido para cima dos golpistas de coturno, de não ter demitido josé múcio diz muito sobre a gravidade da conjuntura e da percepção do presidente de que não havia base sólida para ele partir para o confronto com as forças armadas e garantir que o país não entrasse em uma guerra civil.
Interpreto que Lula optou por um caminho da ambiguidade, digamos assim. De um lado, a condenação veemente do golpismo, de outro a busca de uma certa “pacificação”, mantendo alguém que tinha interlocução nas forças armadas como ministro da defesa. Lula determinou uma e outra medida que barrou a continuação da estrutura militar miliciana do genocida, como impedir que mauro cid assumisse o comando das forças especiais, em batalhão em Goiânia. Afastou milicos do nomeados pelo genocida no GSI. Ordenou uma limpa (na medida do possível), retirando parte dos mais de 7 mil milicos nomeados na administração direta pelo genocida.
Por outro lado, manteve um ministro claramente defensor da milicada do alto comando, procurou se aproximar de comandantes, apesar de afirmar seu papel de comandante em chefe. Creio que Lula fez isso porque era essa a estratégia menos traumática para uma sociedade cindida, sendo parte dela armada e pronta para uma guerra civil. Era isso ou a continuidade do golpe, com as forças armadas mantendo um estado paralelo numa sociedade altamente conflagrada.
Lula é um político experiente, enxerga lá na frente. Não é dado a arroubos ou aventuras em que não possa prever e manter minimamente o controle da situação. Agora que está vindo à tona o nível da fúria insana que alimentou (alimenta) o bozofascismo estamos tendo uma noção mais clara do que vivemos e do que escapamos. São aterradores os planos de quem ensejou os ataques terroristas. A ameaça de sequestrar e enforcar Alexandre de Moraes em praça pública, o terror com que atacaram Rosa Weber, mandando uma montagem de uma foto da filha dela assassinada
é brutal demais até para a gente que imaginava o que essa malta era capaz de fazer.
Não se trata só de figura de linguagem dizer que era/é a barbárie em estado bruto se manifestando. Eram/são mesmos bárbaros, pessoas sem nenhum controle de sua insana fúria contra o “inimigo”, no caso, a democracia, a esquerda.
Acho simplista dizer que Lula se deixou cooptar pelo poder dos milicos, que foi uma mera questão de “conciliação” que o caracteriza. Para mim, ele optou pela “redução de danos”, ao tentar controlar quem detém a força das armas contra uma parcela da sociedade que o elegeu e está desarmada. Lula, nas entranhas do poder, tinha mais noção do que aqueles bárbaros eram/são capazes de fazer – completar a destruição do que restou de uma ideia de sociedade e país, resgatada na campanha.
Também penso que, para resgatar a confiança nas “instituições”, o presidente queria passar à população a ideia de que a justiça era o agente adequado para punir os criminosos, dentro do legítimo processo legal.
Além disso, “tem gente com fome”. O presidente desde sempre afirmou que só voltou à presidência para matar a fome do povo. Essa é a missão dele. E, se para conseguir isso, fosse preciso conciliar com o golpismo de coturno, ele faria.
A redemocratização, na década de 80 e 90, foi o momento em que a sociedade brasileira tinha a conjuntura favorável para fazer a justiça de transição, punindo os golpista de coturno. Tinha o apoio massivo da população à democracia, tinha a ojeriza pela farda, tinha o engajamento das pessoas em megamanifestações pela democracia.
Mas isso não foi suficiente para que os políticos da Assembleia Constituinte encaminhassem a punição dos golpistas. Preferiram a anistia, à revelia dos clamores do povo. Também não foi suficiente para que o governo fhc adotasse medidas nesse sentido, mesmo com um Congresso que lhe era favorável.
Agora, não temos essa conjuntura favorável. Metade da população optou pelo conservadorismo mais tacanho, outro tanto aderiu à barbárie fascista. No Congresso, só 54% dos parlamentares são favoráveis à punição dos envolvidos no 8 de janeiro. Um golpe que deveria ter uma oposição esmagadora do Congresso tem uma maioria “raspando”. Na opinião pública, os números não são diferentes.
Por isso, entendo o que Lula leu e lê dessa conjuntura. Infelizmente ainda estaremos debaixo do solado dos coturnos, uma realidade entranhada na nossa história desde sempre, como disse em 86 um grande conhecedor da política brasileira, que ontem faria 126 anos:
Luís Prestes. Por Palas Atena
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