Taguatinga, Samambaia e Ceilândia serão beneficiadas com mudança no Centrad
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Promessa de campanha do governador Ibaneis Rocha (MDB), a abertura do Centro Administrativo de Brasília (Centrad) deve acontecer em breve, segundo perspectivas do Executivo. No fim de fevereiro, o consórcio responsável pelo complexo de 182 mil metros quadrados e os bancos financiadores do projeto propuseram ao GDF a ocupação imediata do local. A possível inauguração é vista com otimismo por moradores da região e por representantes do setor econômico, que será beneficiado pelo fluxo maior de pessoas em regiões como Taguatinga, Ceilândia e Samambaia.
A expectativa, segundo especialistas, é de que a abertura do Centrad promova uma economia mais dinâmica, com geração de empregos e menos dependência da área central de Brasília. A concentração das atividades em um espaço do próprio governo deve resultar, ainda, em menos gastos com aluguel de imóveis pelo Executivo local. O fluxo de pessoas no sentido contrário ao Plano Piloto, no entanto, demandará incremento no sistema de transporte público, especialmente para servidores transferidos que morarem na parte norte do DF.
De acordo com o economista Jusçanio Umbelino de Souza, a transferência de órgãos do setor público para o Centrad favorecerá o desenvolvimento das cidades adjacentes. “Ceilândia, Samambaia e Taguatinga configuram um centro de atividade econômica, mas você potencializa ainda mais esse polo empreendedor, criando uma área concorrencial para o Produto Interno Bruto (PIB) fora do Plano Piloto”, avalia.
A mudança deverá se refletir, também, em regiões administrativas mais afastadas, como Riacho Fundo, Recanto das Emas e Brazlândia. “Essa nova dinâmica pode propiciar a geração de novos postos de trabalho, especialmente em serviços, tecnologia, comércio e no setor imobiliário. Sem falar dos benefícios para a mobilidade”, completa.
Moradora do Riacho Fundo e gerente de uma loja de cosméticos em Samambaia Sul, Carmen Gomes, 29 anos, acredita que os efeitos serão percebidos no segmento comercial como um todo. “Esperamos melhorias e temos meios para ampliar nosso atendimento”, opina. Ela reforça a necessidade de atenção a outros pontos: “Precisamos de mais lazer nas cidades próximas (ao Centrad), e o trânsito deve piorar, mas acho que há bastantes imóveis para atender quem se mudar.”
Vitalidade
Construído por meio de parceria público-privada (PPP) para abrigar o funcionalismo público do GDF, o complexo tem capacidade para receber 13 mil dos 130 mil servidores. Inaugurado no último dia de gestão de Agnelo Queiroz (PT) sem móveis, telefone ou internet, o centro nunca chegou a funcionar. Em fevereiro de 2015, devido a irregularidades, como a ausência de estudos de impacto sobre o trânsito, a Justiça cassou o habite-se do Centrad, concedido pela Administração Regional de Taguatinga.
Professor da área de inovação e transferência de tecnologia da Universidade de Brasília (UnB), Luís Afonso Bermúdez acredita que a abertura do Centro impulsionará atividades de pequenos e microempresários. Segundo ele, o fortalecimento não será apenas no âmbito governamental, mas também para serviços em torno do complexo. “É positivo que se dê uma utilidade para aquele templo. Isso deve gerar uma vitalidade econômica significativa na a região. Há uma série de serviços que poderão ser oferecidos de forma mais otimizada”, destaca Luiz Afonso. Ele acrescenta que, para atender ao novo fluxo, mais pessoas devem ser contratadas e a assistência prestada será mais eficiente.
O superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-DF), Valdir Oliveira, concorda que o movimento atenderá um grande anseio do setor produtivo. “Descentralizar o eixo de desenvolvimento é o segredo. Quando você o concentra no Plano Piloto, você limita oportunidades e estrangula a mobilidade”, analisa. “Temos um comércio pungente em Taguatinga e, com a movimentação de pessoas, teremos novas formas de consumo. Além disso, você coloca essa região na vitrine para Brasília e para o Brasil. Não vejo pontos negativos nesta ida. Vejo a consolidação de um novo estilo de desenvolvimento”, diz.
Gerente de um supermercado em Ceilândia Sul, Carlos Palácio, 57, tem dúvidas sobre a melhora dos negócios no estabelecimento, pois acredita que a maioria dos servidores transferidos continuará em áreas longes do Centrad. Ainda assim, ele conta que o local onde trabalha estará preparado para receber mais consumidores se o público aumentar. “Com certeza, sentiremos os efeitos, se mais pessoas vierem morar aqui. Ainda precisamos ter uma noção do montante de funcionários transferidos. Se houver necessidade, atenderemos mais, claro. Quanto mais gente, melhor”, pondera.
Os responsáveis por uma padaria próxima à Avenida Elmo Serejo têm planos para atrair mais clientes. A ideia envolve reformas no estabelecimento e a oferta de refeições completas no almoço. Segundo o subgerente da loja, Paulo Henrique Costa, a expectativa é receber 100 consumidores a mais por dia. “Por aqui, passam, diariamente, cerca de 300 pessoas. A inauguração vai beneficiar todo mundo. O comércio precisa de mais gente e estar onde o povo está”, comenta Paulo Henrique.
Imóveis
As expectativas para os setores imobiliário e da construção civil também são positivas. Segundo João Carlos Pimenta, presidente do sindicato da indústria do setor no Distrito Federal (Sinduscon-DF), a maior parte dos funcionários deslocados para o Centrad tentará morar na região. “Ali, há muitas áreas que podem ser ocupadas por construções novas. Essa expectativa é antiga. Surgiu desde a construção do Centro. Como a abertura não se concretizou, isso acabou frustrando o setor”, lembra João Carlos. Ele também presume que o mercado da construção será beneficiado, principalmente, pela demanda por imóveis.
Para o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-DF), Ovídio Maia, o mercado deve apresentar um aquecimento significativo. No entanto, a entidade não tem estimativas sobre os efeitos de mudança de parte do GDF para o Centrad, uma vez que não há confirmação de quantos funcionários serão, de fato, transferidos. “O governo disse algo em torno de 13 mil. Claro que teremos uma procura por apartamentos e casas, mas Taguatinga, Ceilândia e Samambaia ainda têm oferta suficiente para atender a demanda. Houve muitos lançamentos recentes, e Águas Claras também tem muita oferta”, ressalta.