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A fé deve se sobrepor ao dinheiro e ao status, alerta o papa Leão XIV

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Na primeira homilia, durante missa para cardeais na Capela Sistina, Leão XIV defende que a Igreja deve ser o “farol que ilumina as noites do mundo” e lamenta visão de Jesus Cristo como um super-homem ou líder carismático

Enviado Especial 

Cidade do Vaticano – Dezesseis horas depois de ser eleito o 267º pontífice da história da Igreja Católica, Robert Francis Prevost – agora papa Leão XIV – retornou à Capela Sistina, na manhã desta sexta-feira, para a sua primeira missa, na presença de todos os cardeais. Na homilia, criticou a falta da fé em uma sociedade que privilegia o dinheiro e o status. “Ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela  preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”, declarou. Segundo ele, a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação — sob as mais dramáticas formas — da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das quais a nossa sociedade sofre, e não pouco.” O pontífice advertiu que a Igreja deve ser “arca de salvação que navega sobre as ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo”. 

A escolha do papa por um altar voltado para os cardeais e, não de costas para eles, simboliza o tratamento que pretende dar aos religiosos. Claramente, buscará uma relação mais próxima e dispensando alguns protocolos. O novo líder da Igreja também lamentou que Jesus, “embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem”. “Isso não apenas entre os crentes, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático”, disse. 

Leão XIV oficialmente passará a comandar 1,4 bilhão de fiéis católicos do mundo. A cerimônia de entronização será celebrada em 18 de maio, diante de líderes políticos e religiosos de todo o mundo. Três dias depois, ele celebrará a primeira audiência geral das quartas-feiras. Antes, amanhã, na Praça de São Pedro, o pontífice concederá a bênção Regina Coeli. Na segunda-feira, receberá os jornalistas credenciados que trabalharam na cobertura dos funerais do papa Francisco e no conclave.

Na noite de quinta-feira, pouco depois de saudar a multidão do balcão da Basílica de São Pedro, Leão XIV visitou o Palácio do Pontificado, local onde viveu por alguns anos enquanto cardeal. Cumprimentou funcionários, tirou selfies e autografou a Bíblia para uma menina. Um sinal de que tenta imprimir seu carisma misturado à simplicidade, característica destacada por cardeais brasileiros. Outra prova de simplicidade ocorreu quando ele vestiu a estola papal, mas se recusou a usar os tradicionais calçados do pontífice e preferiu sapatos pretos comuns. 

Em entrevista ao Correio, Tomas Reese, vaticanista norte-americano e analista do site Religion News Service, disse acreditar que a eleição de Prevost traz uma mensagem de continuidade e uma certeza de que a Igreja manterá o legado de Francisco, ao pregar os Evangelhos, falar sobre os pobres e a necessidade de justiça, ao trabalhar pela paz e pela harmonia entre as religiões. Na Sala de Imprensa da Santa Sé, ao ser questionado sobre se o novo papa seguirá uma linha mais ortodoxa ou mais progressistas, ele respondeu que ainda é preciso esperar para uma avaliação.

“Como cardeal, ele foi muito leal a Francisco. Mas Jorge Mario Bergoglio não está mais aqui, e surpresas acontecem. Além disso, papas podem nos surpreender João XXIII surpreendeu por ter sido eleito durante o Concilio Vaticano II. Francisco surpreendeu a todos, porque pensava-se que ele seria conservador. Acho que temos que esperar entre seis meses e um ano para sabermos realmente quem este homem é.”

Surpresa

Reese reconhece que a escolha por Prevost no conclave foi uma “grande surpresa”. “Para mim, o que contribuu para a sua eleição foi o fato de os bispos latino-americanos gostarem deles. Os cardeais da América Latina não o viam como um ‘gringo’. Provavelmente, os cardeais sobre o qual todos falavam não obtiveram tantos votos. Expectativa superadas podem ter profundo impacto numa eleição papal”, concluiu.

O cardeal brasileiro Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), assegurou ao Correio que Deus capacita aquele a quem escolhe. “Inspirados pelo espírito de Deus, todos os cardeais do conclave decidiram pela eleição dele. Na pessoa do cardeal Prevost, eu destacarioa a simplicidade, a proximidade, eu diria quase que uma certa timidez, mas não por medo das pessoas, é por respeito”, disse Spengler, no dia seguinte ao voto. O presidente da CNBB avalia Leão XIV como “extremamente acolhedor e simples”. “Na presença dele, a gente sempre se sentia à vontade”, observou o cardeal, que conhece Prevost há dois anos.

Entre os fiéis, a esperança é de um bom pontificado. A espanhola María Luisa Dávila, 62 anos, disse ao Correio que, por ser religiosa, confia muito na ação do Espírito Santo. “Esperamos um papa concreto. E o papa que o Nosso Senhor quis pra a Igreja foi ele”, declarou, na tarde de quinta-feira, na Praça de São Pedro, enquanto ao fundo era possível escutar a voz de Leão XIV fazendo o seu primeiro discurso ao mundo. Natural de Guaxupé (MG), Thamy Aguiar sublinhou o desejo do papa de ter uma Igreja de portas abertas. “Achei importante ele conservar esse pensamento de abertura da Igreja.”

Cardeais brasileiros elogiam Leão XIV

Cerca de duas horas depois de deixarem a clausura na Casa Santa Marta e retornarem ao Colégio Pio Brasileiro, seis dos sete cardeais brasileiros que votaram no conclave concederam uma entrevista coletiva em que elogiaram a escolha de Robert Francis Prevosyt como papa Leão XIV e falaram sobre a responsabilidade de eleger o líder da Igreja Católica. Dom Paulo Cezar Costa, cardeal arcebispo de Brasília, relatou ao Correio que, depois que Prevost disse “sim”, pareceia um “homem muito sereno”.

“Percebe-se que o papa Leão XIV é um homem muito espiritualizado, um homem que tem uma profunda base espiritual que o sustenta. Isso fez com que ele mantivesse a tranquilidade”, acrescentou Dom Paulo Cézar Costa. Ele disse esperar que Leão XIV, “com o seu jeito de ser, sua formação e sua bagagem espiritual, seja um bom pastor para a Igreja”.

“Que também seja um papa que continue o grande diálogo com o mundo, feito pelos grandes papas desde o Concílio Vaticano II. Que conduza a Igreja com tranquilidade e serenidade e que seja capaz de dialogar com os grandes problemas do mundo. O papa reúne todas as condições para fazer isso”, afirmou o cardeal.

Segundo Dom Paulo Cezar, Leão XIV tem formação sólida e um rico caminho espiritual. “Ele tem um grande conhecimento do mundo e da América Latina”, destacou. O arcebispo de Brasília lembrou que Prevost visitou o Brasil e viria ao país pregar em um retiro espiritual para a Assembleia dos Bispos, que deveria estar encerrando hoje (ontem) e não ocorreu por causa da morte do papa Francisco. “Leão XVI é um pontífice que tem ligação com o Brasil, um homem que conhece a Igreja do Brasil, pois ele era prefeito do Dicastério para Nomeação de Bispos. As alegrias e os problemas da Igreja do Brasil seguramente chegavam à mesa dele.”

Para Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, participar de um conclave sempre é um “privilégio”. “Ter participado de dois conclaves, para mim, realmente foi muito gratificante. Também senti o peso da grande responsabilidade, pois trata-se de eleger aquele que deve estar à frente da Igreja para confirmar a fé dos irmãos e para indicar os caminhos da Igreja, mantendo-a unida”, disse ao Correio, poucas horas depois de deixarem a Casa Santa Marta e voltarem para o Pio Brasileiro. Ele afirmou que os 133 cardeais eleitores precisam refletir muito e tentar perceber quem é essa pessoa, quem é esse homem que Deus escolheu”, comentou. 

Arcebispo de Manaus, o cardeal Dom Leonardo Steiner disse ter sentido “gratidão” ao fazer parte de um momento tão importante da Igreja. “Outro sentimento que vivi foi uma profunda comunhão, não só entre nós, cardeais, mas a Igreja toda. Tantas mensagens de pessoas que rezavam e acompanhavam, recebidas antes de eu entrar no conclave. Tivemos um momento muito bonito da invocação de todos os santos. Quer dizer, não estávamos sozinho”, disse à reportagem.

Dom Steiner contou que, quando Prevost foi eleito, todos os cardeais se levantaram e saudaram o novo papa. Ele prevê que, até certo ponto, o pontificado de Leão XIV será uma continuidade. “Se formos olhar João XXIII, Paulo VI foi uma continuidade. Por sua vez, João Paulo II foi uma continuidade dele e assim sucessivamente com Bento XVI e Francisco. Leão XIV será uma continuidade também, mas com acentos diferentes, com modos diferentes. Essa insistência, por exemplo, de construir pontes.”

Eu acho….

“Participar de meu primeiro conclave envolve, antes de tudio, um sentimento de profunda responsabilidade. Porque um dos papéis dos cardeais é o de, quando a Sé de Pedro fica vacante, dar um papa à Igreja. Então, primeiro é um sentimento de profunda responsabilidade. Depois, é claro, também de emoção, de participar desse momento único da vida da Igreja, que acontece de tempo em tempo. Tenho certeza de que a emoção me acompanhou antes, né? E que acompanha a vida de qualquer cardeal.”

Dom Paulo Cezar Costa, cardeal arcebispo de Brasília e eleitor no conclave

“O que se pode esperar do pontificado de Leão XIV é o que vamos esperar. Está começando apenas. Ele vai continuar a missão de papa, que é cuidar da Igreja em todos os sentidos. O papa não inventa a Igreja, é um servidor dela. Ele cuidará da Igreja naquilo que hoje é o mais necessário. Ele vai olhar situações da Igreja do mundo para perceber o que ele precisa mais destacar a sua atuação enquanto pontífice, palavra que significa ‘construtor de pontes’, quem ajudará a comunidade humana a encontrar a paz er a resolver os seus problemas. Além de ser um homem da fé e dos caminhos de Deus, ele deve ajudar a humanidade a encontrar os caminhos humanos para viver em paz e construir um mundo onde todos possam ter lugar.”

Dom Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo e eleitor no conclave

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Escrito por
Jeová Rodrigues

Jornalista

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