O Hospital e Centro de Reabilitação da Fauna Silvestre (Hfaus), em Taguatinga, é o primeiro do país que acolhe, trata e devolve os animais à natureza. Em 2024, foram mais de 2,5 mil atendimentos
Basta a campainha do Hospital e Centro de Reabilitação da Fauna Silvestre (Hfaus) tocar para veterinários, biólogos e tratadores se mobilizarem. É hora de mais um atendimento. E a triagem começa ainda na recepção, por onde já passaram tamanduás, gaviões, jiboias, lobos-guará e até onças. Na maioria das vezes, os atendimentos são uma corrida contra o tempo. “Já recebemos animais que chegaram com pouquíssimas chances de vida e, hoje, estão livres e muito bem em seus ambientes naturais. Isso nos traz uma satisfação imensa”, declara o biólogo Thiago Marques de Lima, coordenador do espaço.
Acolher, tratar e devolver animais silvestres à natureza é o objetivo do Hfaus, em Taguatinga, primeiro espaço do país com essa finalidade. Inaugurado em março de 2024, o local fechou o ano com 2.511 animais acolhidos e tratados. E a demanda só aumenta. Pensado, inicialmente, para atender 60 pacientes por mês, o lugar chegou a receber, no auge da seca do ano passado, 40 bichos por dia.
A equipe flagrou momento em que um bicho-preguiça resgatado pelo BPMA chega ao HfausMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
Filhote de tamanduá-bandeira sendo alimentado com leiteMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
Gavião-da-cauda-curta vítima de um tiroMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
Lobo-guará teve a pata dilacerada após cair em uma armadilhaMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
Macaco-prego se esbalda com a refeição servidaMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
Filhote de sagui órfãoMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
Brenda Garcia, tratadora e veterinária, alimenta uma capivara filhoteFotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
“Para resgatar um bicho silvestre, ele (o animal), provavelmente, já está bastante debilitado, senão conseguiria fugir. Então, corremos para fazer esse atendimento ser o mais rápido possível”, pontua Thiago, que trabalha há mais de dez anos com animais silvestres. No espaço, os pacientes passam por uma avaliação completa, que inclui exames laboratoriais, ultrassonografia, raio-X e até tomografia. Em uma das cirurgias mais complexas, a equipe inseriu uma placa metálica na pata de um lobo-guará, hoje, em vida livre.
O Hfaus, vinculado ao Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e gerida pela Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV), é fruto de uma parceria entre o setor público e a iniciativa privada, com forte atuação conjunta de órgãos como o próprio Ibram, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), o Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA) — que realiza a maioria dos resgates —, a Secretaria de Meio Ambiente (Sema-DF) e o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF).
Os perigos da seca
Mamíferos, répteis e, principalmente, aves são os pacientes atendidos no espaço. A média de permanências dos animais atendidos varia de oito a vinte dias — com exceção dos mamíferos que tendem a ficar cerca de dois meses — e altas são dadas semanalmente. “Nessa semana, foram duas altas, mas, na época da seca, eram quase 200”, compara o biólogo. O período de estiagem, inclusive, inicia neste mês e deve durar até outubro, acendendo um alerta na equipe, que prevê o aumento da demanda.
Questionado sobre a alta na quantidade de ocorrência durante os graves incêndios de 2024, Thiago faz uma ressalva importante. “Não necessariamente devido às queimadas o animal vai chegar aqui queimado. Quando pegou fogo no Parque Nacional, recebemos umas 40 ligações do Noroeste, informando que os bichos saíam voando, cruzavam a pista, batiam nas janelas de apartamentos e carros e caíam. Muitos fugiam do fogo e eram atropelados. Outros ficavam sem habitat e sem alimento. Isso sem contar os deslocamentos, que geravam conflitos entre bichos de espécies diferentes”, detalha.
De forma geral, as situações que mais levam os animais ao Hfaus são a desidratação, a falta de alimentação e a temperatura, que, muito alta ou muito baixa, pode resultar em consequências graves aos bichos. Há, também, situações de maus-tratos. Um gavião-de-cauda-curta, internado há cerca de duas semanas, chegou ao hospital com uma bala alojada próxima à asa esquerda. Em outro caso, um lobo-guará, desde outubro na unidade, caiu em uma armadilha, possivelmente feita por humanos, e ficou com a pata dilacerada. Mesmo debilitado, o mamífero tem respondido bem à cirurgia.
Solturas e conservação
Quando realizam as solturas, os órgãos ambientais sempre tentam deixar o animal no lugar mais próximo àquele em que ele foi capturado, a fim de não gerar desequilíbrio ambiental. Os bichos que não podem retornar à natureza (como aves que tiveram as asas cortadas) são encaminhados ao Zoológico, ao Cetas ou a centros de conservação.
E, apesar da simpatia e fofura de muitos dos animais, a equipe do Hfaus é orientada a não dar nomes nem fazer carinhos, para que os bichos não se acostumem com essa presença. “A ideia é que, quando eles forem soltos, fiquem o mais longe possível de humanos. Afinal, eles só vieram parar aqui porque se aproximaram de gente”, explica Thiago.
“Mesmo assim, tem gente da equipe que chora quando o bicho recebe alta. Ficam com saudade”, comenta o coordenador do hospital. Um dos casos mais marcantes envolveu um tamanduá-bandeira, gravemente atacado por cães domésticos. “Conseguíamos ver as vértebras dele e achávamos que a cauda iria cair. Ele ficou quase sete meses internado aqui para se recuperar, mas, na última semana, foi solto. Uma vitória”, conta o biólogo.
Outro caso emocionante foi de um lobo-guará reintroduzido na natureza após 3 meses de acompanhamento médico e uma cirurgia. Vítima de um atropelamento, o bicho foi resgatado pelo BPMA e recebeu uma placa ortopédica sob medida em sua pata, que havia sido quebrada. “Ele (lobo-guará) chegou aqui quase morto. Tivemos muito orgulho de conseguir reintroduzi-lo na natureza e temos notícias de que ele está muito bem”, compartilha.
Thiago explica que, com o crescimento populacional, há uma pressão nas áreas de conservação, provocando o aumento na quantidade de acidentes. “Para remediar, é preciso investir em passagens de fauna, cercamento de rodovias, pontes e, claro, conscientização da população”. O Hfaus recebe animais oriundos apenas de resgates feitos por órgãos públicos.
Em caso de avistamento ou resgate de animal silvestre, a orientação é nunca intervir diretamente. O ideal é acionar os órgãos ambientais pelo 190 (BPMA) ou 193 (CBMDF). Fazer a contenção de forma inadequada pode, muitas vezes, agravar a situação do bicho.
Raio-X do Hfaus
2.511 animais silvestres tratados em 2024, incluindo 1.554 são aves, 882 mamíferos e 75 répteis.
Os animais mais atendidos são, respectivamente, aves (perequito-de-encontro-amarelo, arara, coruja-do-mato), mamíferos (saruês) e répteis (cágados).
RA’s com a maior procedência de pacientes: Jardim Botânico, Sobradinho e Ceilândia.
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