Ir para o conteúdo
Casa Saúde Recusas chegam a 61% e afetam doações de órgãos no DF
Saúde

Recusas chegam a 61% e afetam doações de órgãos no DF

Compartilhar
Compartilhar

O Distrito Federal enfrenta uma queda preocupante na oferta. Dados da Secretaria de Saúde mostram que a negação de familiares atingiu o maior índice desde 2020. Infelizmente a fila de espera por transplantes só aumentou

Mesmo com avanços no número de transplantes, o Distrito Federal enfrenta um cenário preocupante quando se trata da doação de órgãos. Em 2024, a taxa de recusa familiar para autorizar a doação chegou a 61%, o maior índice dos últimos cinco anos. A crescente negativa tem impacto direto sobre o desempenho da capital federal no cenário nacional: o DF caiu da 8ª posição, em 2023, para a 13ª, em 2024, no ranking de doadores efetivos por milhão de habitantes, segundo dados da Secretaria de Saúde.

Os números evidenciam o desafio. Em 2023, o DF teve 64 doações de órgãos. Mas em 2024, houve queda expressiva. Foram apenas 45. A baixa representa quase 30% a menos em relação ao ano anterior. A situação se agrava diante da alta demanda. No mesmo período, houve um aumento de 20% na fila de espera para transplantes, saindo de 1.410 pessoas à espera de um órgão, em 2023, para 1.698, em 2024.

Os dados também mostram que boa parte dos transplantes realizados na capital do país no ano passado teve órgãos vindos de outros estados. Entre janeiro e agosto de 2024, o DF recebeu órgãos de doadores provenientes de 23 unidades da Federação, segundo o 4º Relatório Bimestral da Central Estadual de Transplantes do DF. O maior número de doações veio de Goiás, com 49 órgãos captados e encaminhados à capital federal. Em segundo lugar, aparece Rondônia, com 23 órgãos enviados; seguido por Mato Grosso do Sul, com 12.

Barreiras

A recusa na doação de órgãos se coloca como um entrave que acentua um cenário marcado por constantes desafios. A diretora da Central Estadual de Transplantes do DF, Gabriella Ribeiro Christmann, destaca que as justificativas são as mais variadas. “Temos uma cultura que precisa mudar. Muitas famílias recusam porque acreditam que o corpo precisa permanecer íntegro, ou relatam que o falecido manifestou em vida que não queria doar — mesmo sem registro. Há também quem recuse por achar que o processo é demorado, mas é importante lembrar que cada minuto é crucial para quem está na fila”, alerta.

Gabriella, porém, ressalta que a Secretaria de Saúde trabalha em campanhas de conscientização para reverter esse quadro. “Reiniciamos as cartas de agradecimento, e muitas famílias relatam que se sentem confortadas ao saber que uma parte do seu ente querido continua viva em outra pessoa. Isso traz um sentido para a perda”, relata. “O processo é totalmente seguro, e a família pode acompanhar tudo, e nosso apelo é por empatia. A vida acabou para um, mas pode continuar para outro”.

Novas vidas

É justamente o gesto de doar que proporciona a muitos a experiência de um verdadeiro renascimento. Foi essa a emoção sentida por Allana Saldanha, 25 anos, mãe do pequeno Samuel, que, aos 3 meses de vida, foi diagnosticado com uma cardiopatia que exigia o transplante de coração. Ela se emociona ao lembrar do momento mais difícil da jornada. “Teve um dia que os médicos disseram que não havia mais o que fazer. Me deitei do lado dele e falei: ‘Se você não aguentar mais, tudo bem, mamãe entende'”, conta.

A previsão era de esperar cerca de um ano, mas o órgão chegou com três meses e meio. E a alegria foi tanta, que ela não acreditou de imediato. Atualmente, o pós-transplante de Samuel é um recomeço. “Hoje, sou grata até pelo choro e pela energia dele”, conta alegre sobre o filho de 1 ano e 2 meses. Mãe de três filhos, ela reforça a importância da doação de órgãos. “Quando alguém diz ‘não’, está negando a chance de outro viver. Falta informação e empatia. A doação é um gesto de amor”, afirma. 

Foi uma ação de amor que também salvou a vida de Haroldo Costa, 59, que tinha uma vida ativa quando foi surpreendido pelo diagnóstico de insuficiência renal. De uma hora para outra, sonhos e planos foram colocados em risco. “A impossibilidade de levar uma vida saudável, praticar esportes, viajar. Foi um momento de muita frustração”, lembra.

O renascimento dele começou com um gesto da irmã, Salete Silva, 71. “Venho de uma família grande, com oito irmãos. Quando perdi meus rins, todos se prontificaram a doar. Foi quase uma competição. A Salete foi a compatível e me deu a vida de novo”, relembra.

Nessa nova oportunidade, ele aproveitou para descobrir novas paixões. Então surgiu o amor pelo tênis, esporte que Haroldo pratica até hoje. “Virou parte do meu tratamento. Me ajuda no corpo, na mente e na alma”, comenta. A escolha levou Haroldo a medalhas em jogos mundiais de transplantados, como a conquista na Suécia, que descreve como “o bronze mais dourado da história”. “Ali, percebi que não era só uma vitória nas quadras, era uma vitória da vida”, finaliza.

Impacto 

O cirurgião cardiovascular Fernando Atik, diretor da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), destaca que o momento da perda de um ente querido é sempre traumático e, por isso, compreensivelmente difícil para que familiares autorizem a doação de órgãos. Entretanto, o especialista enfatiza que o processo de transplante conta com uma estrutura robusta de profissionais que fazem o acompanhamento contínuo dos pacientes. “Consultas e exames monitoram a função do órgão transplantado e possíveis complicações causadas pelos medicamentos imunossupressores”, explica.

Apesar dos desafios, Atik enxerga cada paciente como único. “Todos são especiais. Cada paciente tem uma história singular, uma família, amigos”, diz. Ele reconhece que nem todos têm finais felizes, mas ressalta que a emoção e a responsabilidade estão sempre presentes no seu trabalho. Por isso, reforça a importância da doação: “Doar é um ato de amor ao próximo. Quem doa está beneficiando muitas pessoas desconhecidas, oferecendo uma nova oportunidade de saúde e de nova vida. Doar órgãos salva vidas”, conclui. 

 Lista de espera de transplantes 2025

Coração 34

Fígado 21

Córnea 750

Rim 898

Como ser um doador?

Embora não haja a necessidade de um documento formal, para se tornar um doador de órgãos no Brasil, o primeiro e mais crucial passo é comunicar claramente o seu desejo à sua família, pois a decisão final sobre a doação de órgãos de um doador falecido é dos parentes. Além disso, para ser um doador vivo, é necessário ser maior de 18 anos, gozar de boa saúde e passar por uma avaliação médica para verificar a compatibilidade e garantir que a doação não prejudicará sua saúde. Aqueles que ainda em vida decidirem doar, podem também contar com a Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO), um formulário online que permite autorizar a doação de órgãos.

Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.

Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604.

Compartilhar
Escrito por
Jeová Rodrigues

Jornalista

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos Relacionados

Dia Mundial do Lúpus chama a atenção para a conscientização sobre a doença

Pacientes com suspeita ou diagnóstico da doença têm prioridade no atendimento na...

7 respostas para se proteger contra o sarampo, que volta a preocupar

Até o momento, cinco casos esporádicos da doença foram confirmados no país;...

Especialista em dislexia no Sarah: “Criança precisa treinar para ler”

Em conferência realizada no Hospital Sarah, o neurocientista francês Stanislas Dehaene explicou...

Covid em 2025: veja as novas cepas e quais são os sintomas mais comuns

Cenário atual da Covid-19 inclui novas variantes em circulação, sintomas distintos e...