Escapamentos irregulares instalados em veículos na mira da fiscalização
As ruas do Distrito Federal estão mais barulhentas. Isso porque, de acordo com dados do Departamento de Trânsito (Detran-DF), a quantidade de autuações em veículos com escapamento irregular dobrou entre 2022 e 2023. Na comparação entre janeiro e maio de 2024 e o mesmo período do ano passado, o aumento das infrações foi de 62,4%.
Sobre o aumento das autuações, o diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do Detran-DF, Clever de Farias Silva, aponta duas situações. “Criamos operações específicas para coibir essa prática. Além disso, o aumento da frota de motos impacta bastante nesses números. Essa combinação tende a levar ao crescimento das autuações”, avalia.
Águas Claras e Plano Piloto são as regiões com maior demanda. “Geralmente, os locais com maior concentração populacional são os que mais sofrem com veículos barulhentos”, explica Clever, ressaltando que, além das fiscalizações, o Detran-DF também faz campanhas de educação, principalmente para os motociclistas, para mostrar a forma segura de pilotar, sem precisar da adulteração do escapamento.
O aposentado Jaime Fonseca, 59 anos, mora em Águas Claras e conta que, por lá, os motociclistas desrespeitam de todas as formas. “Além do barulho, que é insuportável, eles andam em vários locais que são proibidos, como calçadas e até ciclovias”, reclama. Segundo o aposentado, o problema se agravou depois da pandemia. “O barulho triplicou. Não tem dia e nem horário. De madrugada, os cortes de giro também são constantes. Todos os moradores reclamam”, afirma. Para Jaime, Águas Claras virou uma região grande e bastante fechada pelos edifícios altos. “Com isso, o barulho de escapamentos fica ainda pior. Nem quem mora em andares mais altos consegue escapar do tormento”, conclui.
Moradora da 115 Sul há oito anos, Neuza Siqueira, 46, comenta que seu bloco fica de frente para a via e, constantemente, principalmente de madrugada, são muitas motos que passam fazendo barulho de descarga irregular. “É um ruído estridente, que incomoda muito. Tenho um filho adolescente, que precisa acordar cedo para ir à escola e, às vezes, não consegue dormir”, ressalta.
Para a servidora pública, o que mais chateia é o fato de ser algo totalmente evitável. “Todo mundo da vizinhança reclama. Além do incômodo, causa um estresse pelo fato de não conseguir dormir ou se concentrar direito em alguma tarefa”, detalha. “Temos o barulho regular, pelo fato de morarmos de frente para uma via, e ainda ter que aguentar esses barulhos de escapamento? É muito difícil”, desabafa.
Danos irreversíveis
A audiologista Ariane Gonçalves comenta que escapamentos irregulares em veículos podem causar danos à audição. “Eles produzem ruídos excessivamente altos, especialmente se houver vazamentos ou problemas no sistema de escapamento, que podem atingir níveis prejudiciais para a audição se forem altos o suficiente e se a exposição for prolongada”, explica. De acordo com a médica, a exposição a ruídos intensos por períodos prolongados pode levar a danos auditivos permanentes.
Além dos prejuízos ao dono do veículo, a especialista alerta que o barulho também afeta quem está em volta. “O ruído excessivo dos escapamentos irregulares pode causar estresse, irritação e desconforto tanto para quem está dentro do veículo quanto para quem está ao redor, tendo impactos negativos na saúde mental e no bem-estar geral das pessoas expostas ao barulho”, completa.
De acordo com a especialista, a reversibilidade desses efeitos adversos, depende de vários fatores, incluindo a gravidade dos danos auditivos, a duração e intensidade da exposição ao ruído e a prontidão com que a pessoa busca tratamento. “Em muitos casos, os danos auditivos causados pelo ruído excessivo são irreversíveis”, diagnostica Ariane.
O engenheiro mecânico Leonardo Rocha comenta que os escapamentos regulares, tanto o original quanto os esportivos, são dimensionados e fabricados para atender as normas ambientais e de trânsito vigentes no país. “Já os irregulares, podem não ter controle de qualidade para atender essas normas, causando danos ao meio ambiente e ao veículo — como desgaste prematuro do motor, falhas na marcha lenta e maior consumo de combustível”, alerta.
De acordo com o engenheiro, a utilização de escapamentos adulterados em veículos automotores afeta tanto a quantidade quanto a qualidade dos gases expelidos. “Ou seja, aumentam os gases poluentes de péssima qualidade e mais tóxicos na atmosfera”, finaliza.
Falsa segurança
Carlos (nome fictício), 27, é motoboy há cinco anos e trocou o escapamento da moto há três anos, por sugestão de alguns colegas. “Sei que é irregular, mas é algo que faz com que eu me sinta mais seguro. Querendo ou não, os motoristas enxergam mais a gente, na minha opinião, e abrem o corredor”, defende.
O motoboy conta que a presença do acessório o salvou de sofrer uma queda. “Estava andando em um corredor, com o trânsito pesado, quando um motorista começou a trocar de faixa, sem sinalizar. Nem precisei buzinar, só dei uma pequena acelerada e ele voltou para a faixa. Ainda pediu desculpas depois. Se ele entrasse, a queda seria feia e poderia ter me machucado bastante”, detalha.
Carlos admite que a situação é chata, mas garante que respeita as regiões residenciais. “Fui parado em blitze algumas vezes. Não cheguei a ser multado, mas fui orientado a colocar o original. Não troco, pois é algo que me salva sempre no trânsito”, pondera.
O diretor do Detran-DF Clever de Farias Silva destaca que os veículos mais comuns de serem abordados nas fiscalizações da Operação Sossego são motociclistas. “Principalmente aqueles que estão começando agora na categoria. Quem utiliza, acha que está fazendo isso para segurança, mas isso pode acabar assustando outros condutores e causando acidentes graves”, conclui.
Com informações do Correio Braziliense
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