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Preços altos de moradia no DF alavancam mercado imobiliário no Entorno

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Conhecida pelo alto custo de suas moradias, Brasília é a sexta capital com os imóveis mais caros do país. Foi o que apontou o Índice Fipe ZAP, divulgado pelo DataZAP , em fevereiro. Segundo o relatório, que inclui regiões administrativas no levantamento, o preço médio de venda de lançamentos residenciais custa R$ 9.028 o metro quadrado, mas pode chegar a mais de R$ 11 mil, dependendo da região.

Especialista em gestão e desenvolvimento de empreendimentos imobiliários, Cleberson Marques explica que o alto preço está ligado à grande procura, por se tratar da capital federal, associada à disponibilidade de terrenos para incorporação — uma vez que a maioria deles pertence ao Governo do Distrito Federal (GDF) e depende de liberação para receber projetos.

“Todas as áreas de Brasília são controladas pela Terracap. São desenvolvidos os estudos, com base no plano diretor, de verticalização e ocupação das áreas. Conforme esses projetos vão sendo implementados, as áreas que compõem o portfólio da Terracap vão acabando”, ressalta. “Como tem pouca oferta, muita demanda e o brasiliense tem uma renda maior, tudo isso acaba puxando para cima, chegando aonde está hoje”, afirma Marques.

Como consequência, cidades do Entorno estão sendo procuradas por brasilienses. O Correio apurou com corretores que trabalham com imóveis da região, que, em relação a imóveis de médio e alto padrão, em Luziânia e Valparaíso de Goiás, o valor do metro quadrado fica em torno de R$ 6 mil. Na Cidade Ocidental, esse número cai cerca de 10%, podendo chegar a 20%.

Confira preços do m² no DF

Sudoeste: R$ 11.833
Asa Norte: R$ 10.298
Asa Sul: R$ 9.315
Águas Claras: R$ 8.519
Guará Norte: R$ 6.174
Taguatinga Sul: R$ 5.749
Taguatinga Norte: R$ 5.212
Gama: R$ 5.146
Ceilândia Sul: R$ 4.084
Sobradinho: R$ 3.934

*fevereiro de 2024
Fonte: Índice FipeZAP

Outras opções

Valparaíso, por exemplo, aumentou sua população em 51,68% entre 2010 e 2022, apontou o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto que o crescimento de Brasília, no mesmo período, foi inferior a 10%. “Como opção, as pessoas começam a procurar locais mais baratos”, aponta o especialista imobiliário.

É a situação do casal Renato Ribeiro, 42 anos, analista de segurança da informação, e Rafaela Rocha, 39, empresária — que compraram um imóvel em Valparaíso de Goiás. Eles moravam em Águas Claras, chegando a viver em dois endereços diferentes. “Inicialmente, em um apartamento de um quarto e depois, já com uma filha pequena (Renata Ribeiro, 5), num de dois quartos”, descreve Ribeiro. “Só que a gente viu a necessidade de buscar um lugar melhor para a gente viver nosso dia a dia e, obviamente, com uma metragem mais econômica”, acrescenta.

Antes de investir no imóvel, o casal fez uma análise de mercado e constatou que o custo de um lançamento na cidade em que fizeram a compra é bem inferior em relação ao de outras localidades do DF. “Colocamos no papel e percebemos que teríamos uma economia em torno de 30%”, lembra o analista. “Em Águas Claras, por exemplo, a gente percebeu que o metro quadrado, hoje, está girando em torno de R$ 9 mil para empreendimentos de médio e alto padrão. No caso de Valparaíso, onde compramos, vimos que o custo do metro quadrado fica em torno de R$ 6 mil”, compara.

A economia também influenciou a família do auxiliar de serviços gerais Igor Vinicius Sousa, 19, a comprar uma casa em Águas Lindas de Goiás. Eles mudaram de Samambaia Sul, onde moravam de aluguel, para a cidade do Entorno em 2021. “A escolha foi fácil, nem pesquisamos preços em outros lugares do DF para saber que em Águas Lindas seria mais em conta. Isso porque já moramos aqui em outras oportunidades, então, tínhamos noção do preço dos imóveis”, comenta.

Igor confessa que a mudança alterou muito a rotina da família. “Para morar no Entorno, tem que ter um meio de locomoção próprio, porque depender do transporte público daqui, não dá”, lamenta. “Mesmo de carro, a gente pega trânsito e temos outros empecilhos no dia a dia”, constata. Só que o fato de economizar na moradia compensa esses obstáculos, segundo o jovem. “Por isso, o nosso pensamento é ficar em Águas Lindas por um bom tempo, pois a economia com o imóvel pesa mais na hora de tomar essa decisão”, avalia.

Comportamento

Coordenador de graduação em economia, gestão pública e financeira do Centro Universitário Iesb, Riezo Almeida destaca que o preço dos imóveis no DF, tanto para locação quanto para venda, está forçando parte da população a direcionar sua demanda para regiões do Entorno. “O Plano Piloto, em especial, experimenta preços mais elevados devido à escassez de oferta e à alta demanda, resultante do acesso facilitado ao trabalho e ao lazer”, observa.

Para o especialista, os fatores econômicos, sociais e geográficos, indicados pela pesquisa, estão impulsionando a busca por propriedades no Entorno da capital. “Tradicionalmente, a demanda por moradias, principalmente no centro do DF, era motivada pela presença de oportunidades de emprego, centros comerciais, serviços e infraestrutura”, afirma. “Contudo, essa dinâmica está mudando, pois há restrições nas projeções imobiliárias no Plano Piloto. Lembrando que há a inflação dos produtos ligados à construção civil, que também impacta a oferta no mercado imobiliário, elevando os preços dos imóveis”, avalia Almeida.

Para o economista, essa limitação nas projeções imobiliárias reflete a necessidade de explorar alternativas fora do DF, onde a oferta de imóveis é mais ampla, e os preços mais competitivos. “Nessa mudança de foco para outras regiões, destaca a busca crescente por um equilíbrio entre custo, qualidade de vida e acesso a oportunidades, impulsionando a dinâmica do mercado imobiliário”, conclui.

Legislação

Presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Roberto Botelho destaca que, atualmente, é muito difícil ter uma região na capital do país com viabilidade econômica para que as empresas possam ofertar lotes condizentes às faixas de renda que ocupam o Entorno do DF. “Somente com aprovação da nova lei de parcelamento do solo é que as empresas poderão fazê-lo por aqui”, afirma. “Ela vai abrir um novo caminho para que haja a opção da pessoa ficar no Distrito Federal e não ter que ir para o Entorno”, avalia o presidente da Ademi-DF.

Roberto Botelho acredita que o detalhamento da lei e a publicação das portarias que vão normatizar a legislação devam entrar em vigor neste mês. “Só assim as empresas do DF conseguirão ofertar esses lotes, dentro do Distrito Federal”, comenta. “A partir dessa normatização, elas poderão concorrer de igual para igual com as empresas que oferecem esses imóveis em Goiás”, observa o presidente. Ele aponta que essa lei é um divisor de águas para empresas que atuam na legalidade, arcando com todos os custos associados à observância das leis e exigências do poder público para a incorporação imobiliária, pois haverá um aumento da oferta de lotes regulares para o setor.

Com informações do Correio Braziliense

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