Na comemoração dos 60 anos, a Globo tem mulheres como titulares das três faixas de novelas no ar: Alessandra Poggi (Garota do momento), Cláudia Souto (Volta por cima passou o bastão para Dona de mim, de Rosane Svartman) e Manuela Dias (Vale tudo)
Pela primeira vez na história da TV Globo, as três faixas de novelas — 18h, 19h e 21h — estão ocupadas simultaneamente por autoras mulheres. Desde 31 de março de 2025, a dramaturgia da emissora é conduzida por Alessandra Poggi (com Garota do momento), Cláudia Souto — com Volta por cima, que passou o bastão para Rosane Svartman com sua Dona de mim, em 28 de abril — e Manuela Dias (Vale tudo). O marco, inédito em mais de 50 anos de novelas diárias na emissora sexagenária, é simbólico: em um espaço historicamente dominado por homens, três vozes femininas comandam o horário nobre, refletindo temas, protagonistas e pontos de vista cada vez mais diversos e contemporâneos.
Para Alessandra Poggi, o momento representa um privilégio. “É um privilégio imenso dividir a grade do ano em que a TV Globo comemora 60 anos com tantas mulheres talentosas”, comemora. “Que alegria estarmos juntas nesse lugar tão importante que é conversar com o Brasil através do nosso texto, do nosso olhar feminino. Sinto-me honrando o trabalho de tantas autoras que já estiveram e ainda estão à frente da nossa teledramaturgia.”
Essa conquista quase se concretizou em outras ocasiões. Em 2023, entre março e maio, Amor perfeito, de Duca Rachid, dividia a grade com Vai na fé, de Rosane Svartman, e Travessia, de Glória Perez. No entanto, a presença de Júlio Fischer como coautor de Amor perfeito “impediu” que o feito fosse inteiramente feminino. Outro caso próximo ocorreu entre julho de 2019 e janeiro de 2020, com Éramos seis, remake assinado por Ângela Chaves; Amor de mãe, estreia de Manuela Dias no horário das 21h; e Bom sucesso, de Rosane Svartman, que assinou a autoria ao lado de Paulo Halm.
Agora, em 2025, o feito se concretiza. E mais do que um dado estatístico, ele traduz o avanço — ainda desigual, mas firme — da presença de mulheres em posições criativas centrais, levando ao público histórias com mais pluralidade, sensibilidade e representatividade.
“São todas autoras que admiro e com quem troco muito”, afirma Rosane Svartman. “Vejo semelhanças na construção de protagonistas femininas complexas, ao mesmo tempo que cada uma traz sua singularidade no que diz respeito à trama e à construção do arco dramático.”
A antecessora de Rosane no horário, Claudia Souto, que está completando 32 anos na Globo, ressalta o sentimento de conquista. “É uma conquista de uma geração de mulheres autoras que está há muito tempo na tevê, buscando esse espaço de protagonismo na escrita, na autoria”, destaca. “Esse espaço da autoria da novela, que é o produto premium da casa, o mais importante, foi ocupado por homens em sua maioria e poucas mulheres que corajosamente e com muitíssimo talento conseguiam furar essa barreira. É o resultado de um trabalho de longo prazo, muito árduo e com muita paixão”.
“Tenho essa sorte de estar tão bem acompanhada no ar, é um luxo. São mulheres que estão na minha vida há muito tempo. Eu fui colaboradora da Cláudia Souto, uma pessoa com quem aprendi muito, então é um prazer”, acrescenta Manuela Dias.
De olho nelas

Alessandra Poggi
Autora titular de Garota do momento, na faixa das 18h, Alessandra Poggi vem consolidando uma trajetória marcada por delicadeza, consistência e atenção aos sentimentos humanos. Sua estreia como autora principal veio com Além da ilusão (2022), drama romântico ambientado em dois períodos distintos, que reafirmou a força dos melodramas clássicos com apuro visual.

Rosane Svartman
De volta à faixa das 19h com Dona de mim, Rosane Svartman se firmou como uma das vozes mais potentes da dramaturgia atual ao unir agilidade narrativa, humor e forte apelo emocional. Seu grande sucesso recente, Vai na fé, conquistou público e crítica ao abordar fé, racismo estrutural, juventude periférica e o poder da transformação pela arte e pela educação. Antes disso, coassinou Totalmente demais (2015) e Bom sucesso (2019), ambas sucessos de audiência e crítica.

Cláudia Souto
Cláudia Souto imprime sua marca em tramas que equilibram leveza, mistério e um forte senso de justiça. Sua estreia como autora principal foi em Pega pega (2017), uma comédia policial centrada no roubo de um hotel de luxo. Em seguida, escreveu Cara e coragem (2022), novela que abordou o universo dos dublês, espionagem corporativa e ética científica — sempre com ritmo dinâmico e personagens carismáticos.

Manuela Dias
Atual autora da novela das 21h, Manuela Dias estreou na teledramaturgia como autora titular com Amor de mãe (2019), após o sucesso de suas séries Justiça (2016/2024) e Ligações perigosas (2016). Reconhecida pela linguagem sofisticada e temática densa, Manuela tem como marca a construção de tramas fragmentadas, com múltiplos protagonistas e forte crítica social.
Foram elas que abriram caminho
Muito antes desse marco histórico em 2025, as mulheres já escreveram capítulos decisivos na teledramaturgia brasileira. Nos anos 1960, a cubana Gloria Magadan foi uma das primeiras responsáveis por estabelecer o formato da novela diária na Globo, com tramas folhetinescas como O Sheik de Agadir e A rainha louca. Mas foi Janete Clair quem consolidou o gênero como fenômeno nacional. Entre sucessos como Irmãos Coragem (1970), Selva de pedra (1972) e Pecado capital (1975), ela transformou a novela em espelho do Brasil.
Ivani Ribeiro, outra gigante do gênero, assinou obras icônicas como A gata comeu (1985), Mulheres de areia (1993) e A viagem (1994), que será reprisada pela sétima vez a partir desta segunda-feira (12/5) no Vale a pena ver de novo. Com seu enredo espiritualista e personagens marcantes, a novela transcende gerações e prova a força de uma autora em conexão direta com o público. Na mesma linha, Elizabeth Jhin também fez da espiritualidade sua marca registrada em tramas como Eterna magia (2007), Escrito nas estrelas (2010), Amor eterno amor (2012), Além do tempo (2015) e Espelho da vida (2018).
Por sua vez, Maria Adelaide Amaral renovou o tom e a linguagem da teledramaturgia com novelas como os remakes de Anjo mau (1997) e Tititi (2010) e as originais Sangue bom (2013) e A lei do amor (2016), todas em parceria com Vincent Villari, sempre trazendo densidade psicológica às personagens femininas.
Entre os nomes contemporâneos, Duca Rachid e Thelma Guedes também se destacam não só pela solidez de suas narrativas, mas pelo reconhecimento internacional já que, juntas, conquistaram dois prêmios Emmy Internacional com Joia rara (2013) e Órfãos da terra (2019), provando que histórias sensíveis e bem contadas ultrapassam fronteiras. Lícia Manzo é uma autora conhecida por suas tramas intimistas, realistas e profundamente humanas, como é o caso de seu trabalho mais emblemático, A vida da gente (2011), que marcou uma virada na abordagem das novelas das seis, ao tratar de temas como relações familiares, maternidade e escolhas difíceis com uma sensibilidade rara.
À frente do tempo
Glória Perez é outro nome incontornável. Suas novelas inovadoras, iniciadas com Barriga de aluguel (1990), merecem um capítulo à parte na história da televisão brasileira. Visionária, ousada e profundamente conectada com as transformações sociais, ela revolucionou o gênero ao expandir os limites da telenovela para além do entretenimento. Suas tramas, como Explode coração (1995), O clone (2001), Caminho das Índias (2009, vencedora do Emmy Internacional), Salve Jorge (2012) e A força do querer (2017), não apenas alcançaram grandes audiências, mas também impulsionaram debates nacionais sobre temas como dependência química, tráfico humano, autismo, identidade de gênero, clonagem e intolerância religiosa.
Além disso, Glória tem um talento raro para apresentar culturas de outros países — como Marrocos, Índia, Turquia e Síria — sem abrir mão do olhar brasileiro e popular. Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, construiu uma obra autoral, corajosa e socialmente engajada. Sua próxima novela, Rosa dos ventos, infelizmente engavetada pela emissora, era aguardada com grande expectativa.
Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.
Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604.
- Leão XIV apela aos líderes mundiais: “Guerras nunca mais!”
- Guerra na Ucrânia: Putin propõe iniciar ‘negociações sérias’ para tratar das ‘raízes’ da guerra e Zelensky diz estar pronto para se reunir
- Mães solo enfrentam barreiras na garantia de direitos aos filhos
- “Começou lá atrás, mas vai terminar”, diz Alckmin sobre fraude no INSS
- Governo Lula se manifesta sobre cessar-fogo entre Paquistão e Índia
Deixe um comentário