Com investimentos atuais de 13 bilhões de dólares australianos, o país insular aposta em pautas comuns, como a transição energética, para o fortalecimento bilateral. Sophie Davies destaca os desafios das nações em relação às mudanças climáticas
Brasil e Austrália guardam muitas semelhanças, que se expressam em aspectos que vão do clima tropical e das dimensões continentais, com sua diversidade étnica, às atividades econômicas. Em entrevista ao Correio, a embaixadora do país, Sophie Davies, aponta que essas semelhanças explicam o interesse mútuo, que fez do Brasil a maior comunidade latino-americana na Austrália. Ela pontua ainda os mesmos desafios e as oportunidades em áreas como meio ambiente, agricultura e mineração. Maior produtora de lítio do mundo, a nação australiana celebra os 80 anos de relações diplomáticas com o Brasil apostando no país como campo favorável para uma mineração sustentável.
Ao celebrar os 80 anos de relações diplomáticas, que balanço a senhora faz e, principalmente, o que espera para o aprofundamento dessas relações?
É importante reconhecer que o Brasil foi nosso primeiro parceiro na América Latina. A nossa primeira Embaixada na América Latina foi aberta aqui. Assinamos uma parceria estratégica, em 2012, além de vários outros acordos que mostram a profundidade da relação. Para mencionar alguns, eu citaria, além da parceria estratégica, um acordo de serviços aéreos, que assinamos antes, em 2010. Temos um tratado de ciência, tecnologia e inovação. Em pesquisa, temos vários acordos. Esses são alguns marcos legais que atestam a nossa parceria. Mas, acima de tudo, temos um intercâmbio muito forte entre brasileiros e australianos. Os brasileiros representam a maior das diásporas da América Latina na Austrália.
Qual é o contingente de brasileiros na Austrália e de australianos no Brasil?
Nosso último censo registrou quase 67 mil brasileiros morando lá. Além disso, temos muitos estudantes brasileiros que escolhem a Austrália para estudar, entre 20.000 e 25.000 estudantes, a cada ano. Isso demonstra o sentimento de união e de identidade entre os dois países. Estimamos que existam entre 5 mil e 10 mil australianos morando no Brasil e, a cada ano, entre 15 mil e 20 mil australianos visitam aqui.
A que a senhora atribui essa identificação entre os povos?
Somos dois países do hemisfério sul, os maiores países do hemisfério sul. Algo muito forte que nos aproxima são as nossas culturas ancestrais, o respeito e os desafios em relação aos povos originários. Temos uma diversidade étnica muito grande. Enfrentamos os mesmos desafios e temos as mesmas vantagens.
Quais os desafios em comum?
Atualmente, eu citaria os efeitos das mudanças climáticas . Como o Brasil, somos um país gigante e temos enfrentado problemas com a mudança climática: as secas, enchentes maiores que antes. Isso está também afetando o setor agrícola, como aqui. Então, podemos buscar soluções conjuntas, falar uma língua comum, na busca de soluções .
Além da agricultura, os dois países se assemelham na área de mineração…
Sim. Somos nações potentes nos setores de mineração e de agricultura. De todas as empresas australianas instaladas no Brasil que, hoje, somam 155 empresas, 81 delas trabalham no setor de mineração ou serviços de mineração.
A Austrália, em relação ao Brasil, é bem mais avançada em termos, por exemplo, de regulação, segurança jurídica e até em relação à pesquisa. A senhora tem essa percepção? Em que podemos aprender com vocês?
É interessante, porque falamos muito com o setor de mineração aqui e vemos que, em alguns setores e em algumas técnicas, a Austrália, talvez esteja mesmo um pouco mais avançada. No setor de lítio, por exemplo, a Austrália está bastante avançada. Mas temos empresas australianas de lítio que estão vendo o Brasil como a maior oportunidade para investimentos.
Que empresas?
A PLS (Pilbara Minerals Limited), por exemplo. Conversamos, e eles explicaram que, para eles, o futuro do Brasil no setor de lítio é muito favorável. O setor de terras raras tem um grande potencial aqui. Essas áreas de minerais críticos são novas para todo mundo. Estamos todos nos adaptando. Temos vantagens nos dois países.
Qual a vantagem de investir no Brasil?
Nossas empresas australianas gostariam de criar uma cadeia de suprimento que tenha bons níveis de padrões de ESG (meio ambiente, social e governança) e estão encontrando isso aqui no Brasil. Então, o que me dizem é que sim, as condições jurídicas e o padrão profissional, aqui, são suficientes para eles.
Qual é, hoje, o investimento australiano na mineração brasileira?
No total, investimos 13 bilhões de dólares australianos, mas não posso especificar em quais setores, porque, além dessas 81 empresas do setor de mineração, temos outras muito importantes. A Macquarie é uma das maiores empresas de asset managers, de bens de infraestrutura do mundo e ela investe aqui no Brasil. A CSL, que é a número três ou quatro da nossa Bolsa de Valores, desenvolve produtos na área de medicina, vacinas, por exemplo, e também está aqui.
O governo australiano lançou o programa Future Made in Australia, que disponibiliza 23 bilhões de dólares australianos, especialmente, para a transição energética. Esta é outra pauta que coincide com a brasileira. É possível que parte desses recursos se convertam em parceria com o Brasil?
Esse é um programa muito importante e busca, como o Brasil tem buscado, desenvolver tecnologias de baixo carbono. Estamos investindo em hidrogênio verde. Existem várias iniciativas. Não posso dizer que este programa específico prevê parceria com o Brasil. Mas temos outros, como o Global Science and Technology Diplomacy Fund, para pesquisas científicas e tecnológicas nesta área. Esse fundo envolve nove países e o Brasil é o único país fora do Pacífico que está incluído. Cito áreas como hidrogênio verde, inteligência artificial e vacinas, que tem forte potencial com o Brasil.
Que projetos existem na área de hidrogênio verde com o Brasil?
Temos uma empresa forte na Austrália que se chama Fortescue, que está começando a fazer um projeto de hidrogênio verde no Ceará, no porto de Pecém. Esse projeto tem sido considerado um dos melhores do mundo para a Fortescue.
Para a COP30, qual é a sua expectativa?
Para a Austrália, a COP30 é uma expressão de multilateralismo, que é tão importante para a Austrália quanto para o Brasil. Sempre apoiamos o multilateralismo, sempre apoiamos o Acordo de Paris e vamos insistir nele. Além disso, para nós, a COP30 terá a maior importância por significar uma boa oportunidade, porque temos uma candidatura pendente para sediar o COP31, no próximo ano, junto com as ilhas do Pacífico. Estamos muito empenhados.
A nova ordem trazida pelo presidente Donald Trump pode atrapalhar esses planos?
O multilateralismo vai sobreviver, porque existem regras internacionais claras. Para a Austrália, esse é um tema importantíssimo. Vamos seguir, fortalecendo as regras internacionais, juntamente com outros países, como o Brasil, que creem fortemente na importância do multilateralismo. Vamos atuar pela manutenção de um sistema que funciona muito bem, como a OMC, ONU e a OMS.
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