Famílias de luto à espera de respostas
IML de São Paulo começou o trabalho de identificação das vítimas. As caixas-pretas foram abertas pelo Cenipa, em Brasília
Dois dias após a sexta pior tragédia da história da aviação civil brasileira, há muito mais perguntas do que respostas sobre os motivos que levaram o piloto Danilo Santos Romano e o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva a perder o controle da aeronave ART-72, da Voepass, que saiu de Cascavel (PR), na manhã de ontem, em direção ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. “Não existe ainda uma previsão de término dos trabalhos”, disse o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Marcelo Moreno, que passou o sábado no local do acidente.
“Em função da importância das informações, estamos priorizando a qualidade em vez da celeridade”, ressalvou o comandante, ao ser perguntado pelos jornalistas sobre o tempo que pode levar as investigações. Equipes das polícias Civil e Militar e da Defesa Civil de São Paulo atuam na área onde o avião caiu, dentro do Condomínio Residencial Recanto Florido, no bairro Capela, em Vinhedo, a 89km da capital paulista. Também participam dos trabalhos equipes da Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC) e do Instituto Médico Legal (IML), responsáveis pelo traslado dos corpos para São Paulo.
Na entrevista, o diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Tiago Pereira, ressaltou que tanto o governo federal quanto o estadual buscam encaminhar rapidamente as informações colhidas no local da tragédia. Pereira reforçou ainda que a Anac acompanha a Voepass na assistência aos parentes das vítimas. “Temos servidores tanto em Guarulhos quanto no hotel em que a companhia está recebendo os familiares dessas vítimas e, por enquanto, a informação que eu tenho é que está correndo de maneira satisfatória. Obviamente que, em um contexto de muita tristeza dessa tragédia, a companhia aérea tem dado a resposta que a regulação exige”, frisou.
No fim da tarde, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou, por meio do Cenipa, que os dois gravadores de voo — conhecidos popularmente como caixas-pretas — foram transferidos ainda pela manhã para o Laboratório de Leitura e Análise de Dados de Gravadores de Voo (Labdata) do Cenipa, no Lago Sul (Leia ao lado).
Ontem de manhã, a companhia aérea atualizou a estatística e informou que havia quatro tripulantes e 58 passageiros no avião que decolou de Cascavel — e não 57, como divulgou na sexta-feira. O nome do representante comercial Constantino Thé Maia, do Rio Grande do Norte, não constava na lista de passageiros embarcados. Segundo a Voepass, o erro foi devido a uma “questão técnica identificada pela companhia referente às validações de check-in, validação do ‘boarding’ e contagem de passageiros embarcados”.
Entre as 62 vítimas da tragédia estavam oito médicos. Eles foram identificados pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), que manifestou, em nota, o luto pelas perdas trágicas. “Nossos mais profundos sentimentos a todos os familiares e amigos neste momento de infinita dor”, disse o presidente da autarquia, Romualdo José Ribeiro Gama.
Drama das famílias
O último boletim divulgado pela Secretaria de Comunicação do Estado de São Paulo, no início da noite de ontem, que as equipes de resgate conseguiram retirar do interior da aeronave os corpos de todas as 62 vítimas do acidente — 34 homens e 28 mulheres —, que foram levados para o IML Central. Até o fechamento desta edição, apenas dois corpos foram identificados por meio de exame datiloscópico (análise das impressões digitais).
A unidade central do IML, no bairro Cerqueira César, na capital paulista, segue com atendimento ininterrupto e exclusivo às vítimas do acidente aéreo. Uma equipe com 40 profissionais, entre médicos legistas e equipes de odontologia legal, antropologia forense e radiologia atuam na unidade. O IML-SP informou que outras ocorrências estão sendo direcionadas, provisoriamente, para unidades nas zonas Leste e Oeste da cidade, que passaram a funcionar 24 horas por dia.
A Voepass Linhas Aéreas, empresa parceira da Latam, e que operava o voo que terminou em tragédia, disponibilizou funcionários para acolher as famílias das vítimas. Também atuam nesse atendimento agentes da Defesa Civil de São Paulo. A tenente-coronel Cláudia Andreia Bemi, diretora Estadual de Proteção e Defesa Civil, informou que dois hotéis foram reservados para os parentes dos passageiros mortos. As equipes também acompanham os familiares ao Instituto Oscar Freire, onde passam por entrevistas de técnicos do IML para facilitar a identificação das vítimas.
“A partir dessa identificação, eles voltam novamente para os seus hotéis. Eles têm todo o apoio, tanto de médicos, de psicólogos, do estado, da empresa, de advogados, e do auxílio-funeral. Tudo isso está sendo feito pelo governo do estado e com o apoio da empresa Voepass. Nós estamos disponíveis desde ontem e ficaremos até o final desse processo, obviamente, sempre a apoiar todos os parentes das vítimas”, disse a diretora.
O comandante da PM de São Paulo, Cássio Araújo de Freitas, destacou que há cerca de 200 policiais atuando na operação. “Alguns estão desde o início, temos o caso de uma perita que chegou no início do incidente e está aqui até agora”, disse. Ele fez uma recomendação para que ninguém se desloque ao local do acidente para pedir informações sobre vítimas.
Ao longo de todo o sábado, 17 famílias de vítimas do acidente foram acolhidas no auditório do Instituto Oscar Freire, que fica próximo à unidade central do IML. O atendimento foi concluído às 17h e será retomado hoje, a partir das 9h, pelas equipes da Defesa Civil e do instituto.
“Os familiares foram orientados sobre a entrega de documentações médicas que possam auxiliar na identificação dos corpos, além da coleta de materiais biológicos para a realização de exames genéticos, quando necessário”, destacou, em nota, o governo estadual. Essa coleta de materiais genéticos segue uma ordem para a seleção das famílias.
Com informações do Correio Braziliense
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