Manifestações contra as detenções e as deportações de imigrantes não documentados mobilizam cidades de diferentes regiões. Donald Trump adverte que não permitirá que um “governo da turba” prevaleça e avisa que utilizará “força pesada”
Os 4,8 mil homens da Guarda Nacional e do corpo de fuzileiros navais dos EUA mobilizados para conter os protestos em Los Angeles superam o contingente militar americano na Síria e no Iraque, juntos. O envio de forças federais na Califórnia não intimidou os ativistas contrários à política migratória do governo Donald Trump e às operações controversas da ICE, a polícia da Imigração. Os protestos se espalham como um rastro de pólvora para mais de 20 cidades do país, entre elas, São Francisco, Chicago, Nova York e Austin (Texas). Na noite desta quarta-feira (11/6), estavam previstas marchas em Nova York, Seattle e Las Vegas. No sábado (14/6), há a expectativa de manifestações durante desfile militar para celebrar o 250º aniversário do Exército, em Washington. No mesmo dia, Trump completará 70 anos.
As autoridades californianas decretaram toque de recolher noturno em Los Angeles por prazo indeterminado. Trump advertiu que suas tropas usarão “força pesada” contra os manifestantes, os quais chamou de “animais”. “O presidente Trump jamais permitirá que o governo da turba prevaleça nos Estados Unidos”, declarou Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca. “Desde 6 de junho, 330 imigrantes ilegais foram presos como parte desses distúrbios em Los Angeles”, dos quais 113 com “condenações criminais prévias”, informou Leavitt. “O dever mais básico do governo é preservar a lei e a ordem”, alertou.

A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, responsabilizou a Casa Branca pelos tumultos e classificou como “desnecessárias” as batidas da ICE “para prender cidadãos comuns em busca de emprego”. “Quando se começa a enviar tropas federalizadas após essas operações, isso é uma escalada drástica e caótica”, admitiu.
Tanto Bass quanto 30 chefes do Executivo de outras cidades da Califórnia pediram o fim da caçada a imigrantes não documentados. “Todos nós representamos cidades nesta região onde os imigrantes são essenciais. E, em alguns casos, não representam a maioria da população”, disse a prefeita de Los Angeles, que pediu para conversar com Trump ao telefone. De acordo com ela, o republicano instila “terror” entre os estrangeiros, ao ordenar operações da ICE em locais de trabalho. Organizações de defesa dos direitos humanos também denunciam detenções de imigrantes diante de tribunais federais. Muitas vezes à paisana, os agentes da ICE costumam surpreender imigrantes dentro ou na saída dos prédios da Justiça.

“Democracia atacada”
No fim da noite de terça-feira, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, subiu o tom, voltou a atacar Trump e advertiu sobre o risco de espalhamento dos confrontos, em pronunciamento transmitido pela televisão. “A democracia está sendo atacada diante dos nossos olhos”, disse. “Pode ser que a Califórnia seja a primeira, mas está claro que isso não vai terminar aqui”, completou o democrata.
Professor de estudos da América Central da Universidade da Califórnia (Ucla, em Los Angeles) e autor de Latin mass mobilization: Immigration, racialization and activism (“Mobilização em massa latina: imigração, racialização e ativismo”), Chris Zepeda-Millán advertiu ao Correio que Trump está tornando a situação muito mais perigosa. Ele lembra que o Departamento de Polícia de Los Angeles tem experiência com protestos massivos, a grande maioria dos quais termina de forma pacífica.
“O presidente tenta provocar a violência deliberada, a fim de desviar a atenção de todos os efeitos negativos que o seu projeto de lei tributária terá sobre a maioria dos americanos e a da alegação de Elon Musk de que o nome de Trump está mencionado nos arquivos de Jeffrey Epstein”, afirmou, ao citar o magnata financista acusado de tráfico sexual e pedofilia.
Para Zepeda-Millán, os agentes federais da ICE — a polícia da Imigração — parecem dispostos a provocar o confronto, por meio da violência das batidas policiais e deportações. “As pessoas que você vê pelas ruas de Los Angeles e de outras cidades do país não são os ativistas imigrantes que historicamente protestaram contra ações estatais nativistas. Muitas delas parecem ser jovens ativistas nascidos nos Estados Unidos, pertencentes à ‘Geração Z’. É o mesmo tipo de jovem que corajosamente enfrentou a polícia durante o movimento Black Lives Matter e as manifestações antigenocídio na Palestina”, observou o estudioso da Ucla.

A socióloga salvadorenha Cecilia Menjívar, especialista em imigração da Ucla, lembrou à reportagem que as manifestações em Los Angeles foram concebidas e organizadas para terem um caráter pacífico. “Em algum momento, houve poucos incidentes de vandalismo, os quais foram repudiados pelos organizadores, que instaram a calma. A polícia local respondeu e controlou esses atos, prendendo cerca de 400 pessoas”, disse.
Menjívar destacou a liderança de Newsom como fundamental para evitar uma situação caótica. Menjívar acrescentou que o número de prisões de manifestantes tende a flutuar de forma significativa. “Há relatos variados de diferentes agências. Mesmo quando os protestos são supostamente pacíficos, é provável que ocorram prisões, especialmente devido à notável presença de agentes da lei.”
EU ACHO…

“Não é de surpreender que milhares de americanos, a maioria jovens, estejam resistindo aos ataques fascistas de Trump contra suas comunidades. No entanto, o público americano jamais apoia a violência em manifestações. Uma preocupação de muitos ativistas veteranos dos direitos dos imigrantes — que sempre apoiaram apenas a desobediência civil não violenta — é de que os poucos atos de vandalismo e violência que começaram a ocorrer em resposta ao envio da Guarda Nacional e dos Fuzileiros Navais de Trump para Los Angeles, na verdade, ajudem Trump a justificar suas ações.”
Chris Zepeda-Millán, professor de Departamento de Política Pública da Universidade da Califórnia (Ucla) e autor de Latin mass mobilization: Immigration, racialization and activism (“Mobilização em massa latina: imigração, racialização e ativismo”)

“O envio da Guarda Nacional e dos fuzileiros navais para Los Angeles energizou os manifestantes que protestam pelos direitos dos imigrantes em outras cidades dos Estados Unidos. Os ativistas estão se organizado e aproveitando o momento. O presidente Donald Trump terminou por galvanizar o movimento pelos direitos dos imigrantes. Não tenho detalhes sobre as prisões. Entretanto, não tenho certeza se as forças militares federais têm autoridade legal para efetuar detenções de civis.”
Kevin R. Johnson, professor de direito de interesse público e em imigração pela Universidade da Califórnia (Ucla)
Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.
Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604.
- Final de semana tem mostra de filmes da América Latina, Expotchê, Feira do Livro, Agitaê e muito mais
- Ataque de Israel mata chefe da Guarda Revolucionária do Irã, diz imprensa local
- Itamaraty confirma retorno de Thiago Ávila ao Brasil
- Embaixador prevê a prisão de Carla Zambelli na Itália a “qualquer momento”
- Trump deu sinais de que EUA sabia do ataque de Israel ao Irã
Deixe um comentário