Templos religiosos do DF encantam pela arquitetura e rituais antigos
A magnitude da arquitetura de Brasília não se resume aos pontos turísticos do Plano Piloto. Igrejas e capelas do DF atraem fiéis e apreciadores de obras sacras
Marco da arquitetura e urbanismo modernista, reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, a capital é um destino sempre presente na lista dos entusiastas por viagens. Por meio da singularidade dos formatos dos pontos turísticos, as obras de arte em concreto cativam os olhares de todos que as veem. Muito além da Torre de TV, da Ponte JK e do formato de meia esfera do Museu da República, igrejas, santuários, paróquias e capelas esbanjam charme e beleza no Distrito Federal.
O Correio visitou três templos: o Santuário Dom Bosco, uma das mais conhecidas igrejas de Brasília, a Capela Nossa Senhora das Dores, com arquitetura rica em mármore e madeira, e o Santuário da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt, conhecido por ser um lugar de paz e edificação espiritual.
Projetado pelo arquiteto mineiro Carlos Alberto Naves, o Santuário São João Bosco, localizado na Quadra 702 Sul, foi inaugurado em 1970. Composto por 80 colunas de 16 metros, é decorado por vitrais em 12 tonalidades de azul, que representam o céu. O templo foi construído por iniciativa da Congregação Salesiana com o apoio do Governo Federal, em homenagem ao copadroeiro de Brasília, São João Belchior Bosco — o sacerdote italiano que profetizou a existência de uma terra prometida, à beira de um lago, entre os paralelos 15 e 16, coordenadas onde está Brasília.
Os detalhes do templo passeiam entre a arquitetura moderna e gótica, que, para além da sofisticação, transmitem mensagens religiosas. Padre João Carlos André explicou que a apresentação do local deve ser iniciada logo pelas 12 portas que, produzidas em ferro e bronze, expõem baixos-relevos que contam a história do sonho de São João Bosco.
No teto do santuário, um lustre de 3,5 m de altura, formado por 7.400 peças de vidro murano, captam imediatamente a atenção de quem adentra ao local. Ele simboliza Jesus, a luz do mundo. “A beleza do templo advém de diversos artistas e arquitetos que com suas contribuições fizeram com que hoje pudéssemos ter esse vislumbre.”
A cripta de São João Dom Bosco é responsável por fomentar o turismo no local. Recebida em 2017, a relíquia de 1° grau é uma das três que há no mundo, as demais ficam no Panamá e em Turim, na Itália, onde estão os restos mortais do santo. Em 2008, o santuário foi eleito, pelo Bureau Internacional de Capitais Culturais (IBOCC), uma das sete maravilhas de Brasília. Após conquistar o título, foi incluído pelo GDF na rota turística da capital. O local recebe diariamente visitas guiadas de grupos vindos do mundo inteiro.
Durante a visita, o Correio encontrou Clélia Lopes, 54 anos, Júlia Lopes, 24, e Gabriel Lopes, 21. A família mineira saiu de Patrocínio (MG) para resolver burocracias na capital. No hotel, receberam o convite para fazer a visita guiada nos pontos turísticos. “Nós somos católicos, mas não conhecíamos o santuário. Estamos sem palavras, eu fico até emocionada porque é a igreja mais bonita que eu já vi na minha vida”, declarou Júlia. Clélia completou que os vitrais representando o céu são, com certeza, a parte mais bela da construção.
Madeira e mármore
Entre as quadras do Jardim Botânico está a capela Nossa Senhora das Dores, gerida pelo Instituto do Bom Pastor (IBP). No santuário, as missas mantêm os ritos antigos da igreja católica, conhecidos como tridentinos. Diariamente, recebe fiéis de todas as regiões administrativas do DF. Os encontros no local, que comporta cerca de 300 fiéis sentados, tem por objetivo rezar, admirar o templo ou conhecer o rito tradicional.
Francisco Sávio Pinheiro, fiel da capela que auxilia na organização do local, recebeu a equipe para mostrar os detalhes da construção. Inaugurada em 2014, a capela tem formato de cruz e foi pensada pelo padre Daniel Pinheiro, que ainda atua na igreja. Na fachada, uma grande escultura de Nossa Senhora das Dores, esculpida no cimento por Ponciano I, artista conhecido em Brasília, anuncia, à primeira vista, a elegância do lugar.
Na parte de dentro, o mármore e a madeira compõem o cenário. As esculturas dos santos e o altar são feitos em madeira antiga, assinadas por um artista de São João del-Rei. O piso é forrado por dois mármores diferentes, de material sofisticado na parte de dentro e mais singelo do lado de fora. O teto, revestido inteiramente por cubos em madeira, combina com os três lustres de cristal e é um dos pontos altos da decoração.
Sobre os materiais usados na construção, o fiel explicou que a obra foi plenamente pensada de forma religiosa. “A ideia é que as coisas que são feitas para Deus sejam bonitas e de qualidade, então, foi isso que nós tentamos fazer ao longo do tempo”, completou. A magnitude do templo atrai não somente católicos. Francisco contou que a igreja permanece fechada nos horários que não têm missa, mas frequentemente, recebe pessoas que vão ao local para tirar fotos.
Um lugar de paz
Localizado ao lado da Torre Digital, o encanto da paisagem no Santuário da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt é indescritível. Inaugurado em 19 de março de 2000, com espaço físico limitado a apenas 30 pessoas, o templo é repleto de pinturas e imagens exatamente iguais às que compõem a capela original, inaugurada em 1914, na Alemanha. O local recebe peregrinos diariamente para apreciar a arquitetura, que é igual a todos os santuários espalhados pelo mundo.
A equipe de reportagem foi recebida pela irmã Isabel Machado, que prontamente sanou a maior dúvida de todos os visitantes: “Schoenstatt é o nome de um bairro localizado na Alemanha, essa é uma palavra dupla, que significa lugar bonito”. Isabel explicou que foi lá que nasceu o primeiro santuário, quando uma estrutura, que era até então um depósito de ferramentas, foi transformada em uma capela pelo Padre Kentenich.
“No mundo inteiro são quase 200 santuários de Schoenstatt, iguaizinhos, justamente para lembrar a aliança de amor que foi feita com Nossa Senhora, em 1914, no santuário original”, disse Isabel. Por ter sido fundado em um país de clima frio, o santuário foi construído com parede dupla. Ainda que estejamos em um país tropical, toda a estrutura deve ser exatamente como a do pioneiro. A trepadeira que cobre a frente da capela também é uma reprodução fiel. Alguns santuários têm, inclusive, ramos trazidos do país europeu. “Esse tipo de construção é muito típica de lá, não é assim somente por ser uma capela”, ensinou.
O santuário recebe devotos de todas as regiões do DF. Neste mês, muitas pessoas peregrinam até o local. Isabel contou que há poucas semanas um grupo saiu de Sobradinho II, por volta de neia-noite, para seguir a pé até ao santuário, chegando às 6h da manhã. Os fiéis do grupo fazem a caminhada tradicionalmente todos os anos, no dia 1° de maio. “Como o santuário é pequeno e, normalmente, nas missas, a gente recebe de 400 a 500 pessoas, nós montamos uma tenda para que as missas sejam celebradas”, informou
Com informações do Correio Braziliense
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