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País mata ao menos 60 jovens a cada dia, mostra Atlas da Violência

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Quase 22 mil indivíduos, entre 15 e 29 anos, foram mortos em 2023

Apesar da redução nos índices de homicídios no Brasil, nos últimos 10 anos, os jovens continuam sendo os mais vulneráveis à violência. Em 2023, 21.856 indivíduos entre 15 e 29 anos foram assassinados — uma média de 60 por dia. Quase metade dos crimes contra a vida no país nesse ano teve como alvo essa faixa etária.

Atlas da Violência 2025 — divulgado agora, mas fechado em 2024 com um compilado de dados de 2023 — apresenta números que apontam para uma queda de 23,7% na taxa de homicídios de jovens na última década. Mas os números seguem altos: em 2023, foram 45,1 homicídios por 100 mil indivíduos. A situação é ainda mais crítica entre os homens jovens, cuja taxa atingiu 83,3 por 100 mil — quase o dobro da média nacional.

Mas é ao cruzar os recortes de raça e renda que o cenário piora. O binômio desigualdade racial-violência apenas se intensifica. Em 2023, uma pessoa negra teve 2,7 vezes mais chances de ser assassinada do que uma não negra — um aumento de 15,6% em relação a 2013. Apesar da queda geral dos homicídios no país, essa redução foi significativamente maior entre os não negros.

A análise histórica dos dados entre 2013 e 2023 mostra que, além de serem proporcionalmente a principais vítimas, as pessoas pretas tiveram menos acesso a medidas de proteção e enfrentam um risco cada vez maior. Para os pesquisadores que elaboraram o Atlas, essa disparidade é reflexo direto do racismo estrutural, que soma-se à ausência de políticas públicas eficazes e permanentes para a juventude marginalizada.

Segundo o sociólogo e economista Vinícius do Carmo, os dados deixam claro que a violência no Brasil tem cor, classe e CEP. “Jovens, negros e pobres, moradores das periferias e favelas, são as principais vítimas e autores da violência. Não apenas entre os criminosos, mas também nas forças policiais do Estado, encontra-se o mesmo perfil social e semelhante disposição geográfica. Trata-se de uma guerra cotidiana que se desenrola nos territórios vulnerabilizados, longe da narrativa dominante que foca no medo da classe média diante da criminalidade urbana. A violência no Brasil é um fenômeno social marcado por desigualdade estrutural e concentração geográfica”, salienta.

Exclusão

baixa renda atua como fator adicional de vulnerabilidade, agravando a exposição dos jovens negros à violência. Embora os dados não quantifiquem com a mesma precisão o peso da condição socioeconômica em relação à raça, especialistas apontam que esses fatores se entrelaçam: a juventude negra e periférica é a que mais morre e a que menos tem acesso à proteção e à Justiça.

Esse padrão se confirma também regionalmente. Em 2023, estados como Amapá (134,5 homicídios por 100 mil jovens) e Bahia (113,7) apresentaram taxas mais de 12 vezes maiores que a de São Paulo (10,2). No Amapá e na Bahia, jovens negros são a grande maioria das vítimas.

A violência letal é, hoje, a principal causa de morte entre jovens, segundo o Atlas. Entre 2013 e 2023, 312.713 perderam a vida violentamente e muitos sequer chegaram à vida adulta.

Para Vinícius do Carmo, a ação dos governos — inclusive, o federal — tem sindo insuficiente “para que possamos limitar drasticamente a exclusão social que alimenta esse processo de seleção adversa”. “Acho que existe muita verborragia do governo, principalmente em assuntos de desigualdade racial”, lamenta.

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Escrito por
Jeová Rodrigues

Jornalista

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