Figura importante da ala progressista democrata, Newsom fez da Califórnia o principal bastião de oposição às políticas de Trump.
“É um passo inequívoco em direção ao autoritarismo.”
Foi assim que o governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, definiu a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de enviar tropas federais a Los Angeles sem sua autorização.
Diante dos crescentes protestos contra as operações migratórias, o governo Trump enviou 700 fuzileiros da Marinha e dobrou para 4.000 o número de membros da Guarda Nacional na área de Los Angeles, o que provocou uma forte reação do governador do Estado.
Para Newsom, a ação representa a realização da “fantasia insana de um presidente ditatorial” e anunciou que vai processar a Casa Branca por violar a soberania da Califórnia.
Na terça-feira (10/06), o político foi além e fez um discurso televisionado acusando Donald Trump de “colocar mais fogo” nos protestos no estado.
“Esse descarado abuso de poder por parte de um presidente em exercício agravou a situação, pondo em risco nossa gente, nossos oficiais e até mesmo nossa Guarda Nacional”, declarou.
E acrescentou que o governo dos Estados Unidos deveria focar em deter migrantes em situação irregular que cometeram crimes graves, e não famílias trabalhadoras.
“Trump está conduzindo uma operação militar por toda Los Angeles, indo muito além do seu objetivo declarado de perseguir criminosos violentos e perigosos. Seus agentes estão prendendo pessoas que lavam pratos, jardineiros, diaristas e costureiras”, comentou.
“Isso é fraqueza, fraqueza disfarçada de força. O governo de Donald Trump não está protegendo nossas comunidades. Está as traumatizando.”
Trump, por sua vez, alegou que a cidade estaria mergulhada no caos se não fosse pela intervenção militar, e sugeriu que o governador deveria ser preso por obstruir suas políticas migratórias.

Em um discurso para comemorar os 250 anos do exército dos Estados Unidos, o presidente chamou de “animais” e “inimigos estrangeiros” os manifestantes de Los Angeles.
“Não permitiremos que uma cidade americana seja invadida e conquistada por um inimigo estrangeiro. É isso que eles são”, afirmou Trump.
Os protestos, que começaram após uma série de abordagens agressivas conduzidas pelo Serviço de Imigração de Controle de Alfândegas (ICE, na sigla em inglês) em bairros latinos, se espalharam por outras cidades, resultando em prisões, deportações e confrontos com as autoridades.
Além disso, o episódio também desencadeou um embate tenso entre Newsom, o governador do estado mais rico e populoso dos Estados Unidos — e um dos mais progressistas — e Trump, o presidente responsável pelas políticas migratórias mais rígidas da história recente dos Estados Unidos.
Mas, quem é Gavin Newsom, o democrata que lidera a Califórnia e um dos rostos mais proeminentes do progressismo norte-americano?
Início e ascensão na Califórnia

Pai de quatro filhos, frutos de seus dois casamentos, Gavin Newsom é um político criado nas elites de poder na Califórnia.
Nascido em São Francisco, em 1967, vem de uma família com conexões em círculos influentes no estado: seu pai foi juiz e advogado da extinta petrolífera Getty Oil.
O próprio Newsom recebeu apoio financeiro do magnata Gordon Getty para fundar seu primeiro negócio, uma loja de vinhos chamada PlumpJack, que se transformou em um grupo com mais de 700 funcionários.
Sua carreira política começou em 1996, quando o então prefeito de São Francisco, Willie Brown, o nomeou comissário de Trânsito e Estacionamento.
No ano seguinte, foi indicado para ocupar uma cadeira no Conselho de Supervisores de São Francisco, onde se consolidou como um centrista com perfil empresarial e defensor de iniciativas voltadas ao transporte público, moradia e assistência a pessoas sem teto.
Sua proposta mais emblemática, Care, not Cash (“Assistência, não dinheiro”, na tradução literal para o português), substituiu o repasse direto de dinheiro por serviços e tratamentos para pessoas em situação de rua, o que reduziu o número de beneficiários da assistência direta.

Em 2004, foi eleito prefeito de São Francisco e ganhou notoriedade ao autorizar, em clara afronta à legislação estadual da época, o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Esse gesto fez dele uma das principais figuras da ala progressista do Partido Democrata.
Foi vice-governador da Califórnia de 2011 a 2019, quando assumiu o governo após vencer as eleições meses antes.
Seu perfil combina uma narrativa pessoal de superação — quando criança, foi diagnosticado com dislexia — com um ativismo político voltado à defesa dos direitos civis, da inclusão e de políticas públicas de esquerda.
Sua gestão como governador
Ao tomar posse em 2019 como governador da Califórnia, Gavin Newsom passou a liderar um estado que, se fosse um país independente, ostentaria a quarta economia do mundo, com um PIB que hoje supera os US$ 4,1 bilhões (R$ 22,7 bi na conversão atual).
Sua administração tem sido marcada por reformas intensas na saúde, justiça, meio ambiente e direitos civis, assim como controvérsias que geraram críticas tanto dentro quanto fora de seu partido.
No âmbito migratório, sua postura é abertamente favorável aos imigrantes: concedeu perdão a diversos estrangeiros com antecedentes criminais para evitar sua deportação e tem denunciado publicamente as políticas federais de detenção e deportação em massa.
Durante seu mandato, também promoveu medidas como a expansão da cobertura médica estadual a imigrantes sem documentos com mais de 50 anos e, mais recentemente, apresentou um plano para garantir atendimento médico a todos os adultos de baixa renda, independentemente de sua situação migratória.

Para além das políticas migratórias, Gavin Newsom também se destacou por decretar uma moratória à pena de morte, que suspendeu as execuções no estado e levou ao fechamento da câmara de injeção letal em San Quentin.
Ele também promoveu reformas nas forças policiais, como a proibição de técnicas de estrangulamento, aumento da idade mínima para ingressar na corporação, além de leis que obrigam os agentes a intervir em casos de uso de força excessiva.
Na área ambiental, Newsom decretou que todos os veículos novos vendidos na Califórnia deverão ser de emissão zero a partir de 2035, e aprovou regulações para frear a extração de petróleo e fomentar o desenvolvimento de energias limpas.
Sua gestão, no entanto, tem enfrentado críticas pela crise habitacional e o aumento de pessoas em situação de rua que, em 2023, superou 181 mil no Estado, além da crescente insegurança nas principais ruas das cidades da Califórnia.
Newsom também foi alvo de críticas pela lentidão na vacinação contra a covid-19, por uma fraude bilionária no sistema de seguro-desemprego durante a pandemia, e por acusações de favorecimento a doadores em decisões legislativas.
Em 2021, ele superou uma tentativa de destituição.
O governador voltou ao centro das críticas no início deste ano, após uma uma onda de incêndios florestais que atingiu áreas densamente povoadas da Califórnia entre janeiro e fevereiro.
Os incêndios deixaram mais de 30 mortos e forçaram a evacuação de ao menos 200 mil pessoas.
Embora tenha decretado estado de emergência e anunciado um fundo de recuperação de US$ 2,5 bilhões, moradores afetados e líderes republicanos questionaram a lentidão no envio de recursos para combater as chamas e a falta de preparo diante da crise.
O governador defendeu sua atuação e respondeu endurecendo as regras para novas construções em áreas de alto risco, além de eliminar trâmites burocráticos para agilizar a reconstrução.
“Não estou aqui para fazer jogo político”, declarou Newsom diante das acusações.
Possível candidato presidencial?
Sob a liderança de Gavin Newsom, a Califórnia se consolidou como o principal contraponto político ao trumpismo nos Estados Unidos.
Desde a volta de Trump à Casa Branca, o governador tem reforçado o papel do estado como um bastião progressista diante das políticas federais conservadoras.
“Não se trata de segurança. Trata-se de alimentar o ego de um presidente perigoso”, escreveu Newsom sobre Trump na rede social X após o envio de tropas federais a Los Angeles.

A Califórnia também tem sido o epicentro da resistência das decisões do governo federal em temas como imigração, mudanças climáticas, aborto, cannabis e controle de armas.
O próprio Newsom já declarou que seu objetivo é proteger as políticas progressistas da Califórnia diante do que considera “retrocessos promovidos por Washington”.
Após a vitória de Trump nas eleições de 2024, ele anunciou que convocaria os legisladores estaduais “para blindar as leis da Califórnia”.
Apesar de Newsom ter dito publicamente que não disputaria as eleições para presidente dos Estados Unidos em 2024 — e declarado apoiado tanto Joe Biden quanto Kamala Harris —, seu nome aparece com frequência entre os possíveis candidatos democratas para 2028.
Em julho de 2024, ele lançou o podcast Politickin’ e, em novembro, participou de um debate com o governador da Flórida, Ron DeSantis, em um encontro moderado pela Fox News.
Embora vários analistas o apontem como um possível candidato presidencial em 2028, por enquanto Newsom afirma que sua prioridade é governar a Califórnia.

Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.
Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604.
- “DF precisa de menos concreto e mais saúde”
- Veja como ajudar o companheiro Viridiano Custódio a enfrentar o câncer; doações podem ser feitas via Pix: (61) 9 9685-5852
- Minha Casa, Minha Vida: governo autoriza quase 8 mil moradias para famílias do campo
- Irã ataca Israel, diz exército; explosões são ouvidas em Tel Aviv
- Após depor por mais de 3 horas, Cid deixa sede da PF sem falar com a imprensa
Deixe um comentário