Ir para o conteúdo
Casa Saúde Trabalhar em excesso prejudica a saúde física e mental, diz estudo
Saúde

Trabalhar em excesso prejudica a saúde física e mental, diz estudo

Compartilhar
Compartilhar

Aqueles que excedem na quantidade de tempo trabalhando sofrem com graves prejuízos de ordem mental, além de cardiopatias e de distúrbios metabólicos. Exames de imagens mostram os impactos no cérebro de quem tem sobrecarga

Trabalhar excessivamente pode prejudicar a saúde mental, causar doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos, pois longas horas sob tensão alteram a estrutura do cérebro, principalmente as áreas associadas à regulação emocional e à função executiva, como a memória e a resolução de problemas. É o que afirmam pesquisadores em um artigo, publicado no periódico Occupational & Environmental Medicine, a partir de exames de imagens de 110 pessoas de distintas idades, gênero e profissões. 

Para Lucas Cruz, neurologista do Hospital Anchieta Taguatinga, é preciso estar em alerta sobre os impactos da sobrecarga no organismo. “O excesso de trabalho compromete a memória de trabalho, a concentração e a tomada de decisões. Isso acontece porque o cérebro depende de períodos de descanso para consolidar informações e restaurar suas funções”, disse. “O córtex pré-frontal, que regula as emoções, pode ser sobrecarregado, resultando em ansiedade, irritabilidade ou até depressão. Além disso, o hipocampo, essencial para memória e aprendizado, pode sofrer com o excesso de cortisol.”

São 800 mil mortes, causadas por problemas por excesso de trabalho, por ano no mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). De acordo com os cientistas envolvidos na pesquisa, o excesso de trabalho pode induzir mudanças neuroadaptativas, que podem afetar a saúde cognitiva e emocional. Foi analisado o volume cerebral estrutural para comparar o impacto do excesso de trabalho em regiões específicas do cérebro em profissionais de saúde, que chegam a cumprir 52 horas semanais.

Os cientistas utilizaram dados a partir de exames de ressonância magnética realizados para um projeto de pesquisa sobre os efeitos das condições de trabalho na estrutura cerebral. Os participantes fizeram uma ressonância magnética adicional, e a análise final incluiu 110 pessoas, excluindo aquelas com dados ausentes ou baixa qualidade da imagem. A maioria era da área de saúde: 32 trabalhavam horas semanais excessivas (28%); 78 trabalhavam em horário padrão.

No artigo, os cientistas ressaltam que “embora os resultados devam ser interpretados com cautela devido à natureza exploratória deste estudo piloto, eles representam um primeiro passo significativo para entender a relação entre excesso de trabalho e saúde cerebral”. “O aumento do volume cerebral observado em indivíduos sobrecarregados pode refletir respostas neuroadaptativas ao estresse ocupacional crônico, embora os mecanismos exatos permaneçam especulativos”, diz o estudo.

Para os pesquisadores, as alterações observadas no volume cerebral podem fornecer uma base biológica para os desafios cognitivos e emocionais frequentemente relatados em indivíduos sobrecarregados. “Os resultados ressaltam a importância de abordar o excesso de trabalho como uma preocupação de saúde ocupacional e destacam a necessidade de políticas no local de trabalho que mitiguem o excesso de horas de trabalho.”

Constatações

O estudo mostra as diferenças entre os profissionais que cumprem longas jornadas e os demais, que têm carga horária considerada normal, inclusive de comportamento. O segundo grupo é mais educado e paciente. No exame de imagem, o volume cerebral é avaliado usando a morfometria baseada em voxel (VBM) — uma técnica de neuroimagem que identifica e compara diferenças regionais em níveis de substância cinzenta — e análise baseada em atlas, que usa referências predefinidas para identificar e rotular estruturas em imagens como tomografias cerebrais.

A análise comparativa das descobertas mostrou que as pessoas que trabalhavam 52 horas ou mais por semana apresentavam mudanças significativas nas regiões do cérebro associadas à função executiva e à regulação emocional, diferentemente dos participantes que trabalhavam horas padrão todas as semanas. Uma análise baseada em atlas revelou um aumento de 19% no volume do giro frontal médio entre aqueles que trabalham longas horas em comparação com aqueles que trabalham em horários padrão.

Essa parte do cérebro desempenha um papel importante em diversas funções cognitivas, particularmente no lobo frontal, que engloba a atenção, a memória de trabalho e o processamento da linguagem. O VBM apresentou picos de aumento em 17 regiões, incluindo o giro frontal médio, o giro frontal superior, que está envolvido na atenção, no planejamento e na tomada de decisões, e a ínsula.

Silvia Marchant Gomes, médica psiquiatra clínica e intervencionista do Hospital Anchieta Ceilândia, destacou a importância de ampliar os estudos sobre o tema. “Necessitaremos de muitos outros artigos e estudos , mas estamos no caminho. É preciso ressaltar que há equipes mais sujeitas ao estresse, como os profissionais de saúde e de segurança, além dos informais — que sofrem com a instabilidade.” O neurologista Lucas Cruz lembrou que: “O cérebro é resiliente, mas precisa de cuidados para prosperar. Com estratégias fundamentadas na neurociência é possível mitigar impactos e alcançar uma vida mais saudável e equilibrada”.

Equilíbrio e autoconhecimento

O cérebro humano é uma órgão extraordinário, mas não é imune aos efeitos do estresse prolongado. Quando você se dedica a longas jornadas de trabalho ou estudo sem pausas adequadas, o sistema nervoso entra em um estado de estresse crônico. Esse processo ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, liberando níveis elevados de cortisol, o principal hormônio do estresse. O Burnout é um estado de esgotamento físico e mental, frequentemente associado a alterações nos níveis de serotonina e dopamina, neurotransmissores que influenciam o humor e a motivação. Há, ainda, a questão da privação de sono, comum em rotinas intensas, impede a reparação neuronal e a eliminação de toxinas cerebrais, criando um ciclo vicioso de fadiga e declínio cognitivo. É importante priorizar o sono, gerenciar o tempo e estabelecer limites, também é importante buscar apoio profissional e definir prioridades.

Lucas Cruz, neurologista do Hospital Anchieta Taguatinga

Pausas necessárias 

Silvia Marchant Gomes, médica psiquiatra clínica e intervencionista do Hospital Anchieta Ceilândia

Como o excesso de trabalho e estudo pode afetar a saúde mental?

Todo excesso pode afetar o cérebro humano. Existe um termo chamado epigenética, que significa que modificamos genes para bem ou para o efeito negativo atuando sobre nossos sistemas de conexão, ligação, neurotransmissores e funcionamento celular de acordo como aceleramos ou freamos o ritmo. Geneticamente somos diferentes e algumas pessoas suportam maiores demandas do que outras , sem apresentar sintomas negativos , sendo mais adaptáveis e outros bem menos.

Quais os conselhos para quem não consegue fugir desse emaranhado?

Autoconhecimento e período de pausas são necessários. Atualmente, existe lei de cuidado com a saúde mental do trabalhador, o que vem de encontro com o reconhecimento dessas diferenças e circunstâncias. Trabalhar à noite exige do organismo de uma forma, trabalhar de dia mantém ritmo circadiano, trabalhar em estresse contínuo é nocivo. “Ser estressado” é nocivo, portanto é uma conta multifatorial que muitas vezes não tem resultados esperado, surgindo adoecimento. Além do labor (trabalho) há que se colocar em análise também o perfil do trabalhador .

É possível conciliar as demandas da vida moderna com qualidade de vida?

Não digo que é possível. Digo que a sociedade hoje reconhece como necessário, portanto o trabalhador deve compreender folga como folga. Há a recomendação de atividade física como necessária, encontrar algo que faça sentido para si, sempre respeitando as diferenças.

Quer ficar por dentro do que acontece em Taguatinga, Ceilândia e região? Siga o perfil do TaguaCei no Instagram, no Facebook, no Youtube, no Twitter, e no Tik Tok.

Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre Ceilândia, Taguatinga, Sol Nascente/Pôr do Sol e região por meio dos nossos números de WhatsApp: (61) 9 9916-4008 / (61) 9 9825-6604.

Compartilhar
Compartilhado por
Jeová Rodrigues

Jornalista

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos Relacionados

Perda gestacional no final da gravidez: o que pode causar óbito fetal e como lidar com o luto

Relatos de Micheli Machado e Tati Machado, ambas vítimas da perda de...

Ambulâncias com pneus carecas, documentos vencidos e maca solta: funcionários denunciam empresa contratada pelo IgesDF

Ambulâncias com pneus furados e carecas, fumaça saindo do motor, portas danificadas,...

Atendimento odontológico gratuito: dentistas voluntários selecionam pacientes no DF

A ONG “A Turma do Bem”, rede de dentistas voluntários especializados, faz...

GDF inicia busca ativa para vacinar recém-nascidos contra doenças respiratórias

De acordo com o secretário de Saúde, Juracy Cavalcante, objetivo é reduzir...