Covid-19: Brasil corre o risco de enfrentar novo platô
Boletim da Fiocruz identifica uma leve desaceleração da covid-19 no Brasil, mas suposta estabilização ocorre em condições muito mais precárias do que em 2020. Dezesseis estados e o Distrito Federal estão com taxa de ocupação de UTI acima de 90%
SAÚDECovid-19: Brasil corre o risco de enfrentar novo platôBoletim da Fiocruz identifica uma leve desaceleração da covid-19 no Brasil, mas suposta estabilização ocorre em condições muito mais precárias do que em 2020. Dezesseis estados e o Distrito Federal estão com taxa de ocupação de UTI acima de 90%BLBruna LimaMEMaria Eduarda CardimRSRenato Souzapostado em 15/04/2021 06:00Manifestantes exibem cartazes com os dizeres Manifestantes exibem cartazes com os dizeres “cepa Bolsonaro, um perigo global” durante protesto, nesta quarta-feira (14/4), em frente à embaixada brasileira em Buenos Aires: repercussão internacional – (crédito: JUAN MABROMATA)Com mais 3.459 mortes pela covid-19 e 73.513 mil novos casos registrados ontem, o Brasil superou a triste marca das 360 mil vidas perdidas e 13,6 milhões de diagnósticos positivos. Sem um ritmo de vacinação acelerado e uma taxa de ocupação de leitos dos hospitais ainda em níveis críticos, o país continua a ver uma média móvel de óbitos em um alto patamar, acima das três mil mortes diárias. Ao observar a incidência de novos casos, especialistas veem uma estabilização preocupante na última semana epidemiológica, já que, apesar de representar uma desaceleração da pandemia, pode indicar a formação de um alto platô com números bem mais altos do que os vistos no ano passado.Essa é a preocupação do novo boletim extraordinário do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado ontem. Segundo o documento, observa-se uma tendência de estabilização do número de casos a partir de abril. Na última semana epidemiológica concluída, a 14ª, foram notificados uma média de 70.200 casos e 3.020 óbitos diários. “O número de casos aumentou a uma taxa de 0,9% ao dia, enquanto o número de óbitos por covid-19 aumentou 1,1% ao dia, isto é, ligeiramente mais lento que o verificado na semana anterior (1,5%), mostrando uma tendência de desaceleração, mas ainda não de contenção, da epidemia”, ponderou a análise.O grupo atribuiu o resultado das medidas de restrição ao panorama de previsões mais otimistas, que apontaram os pequenos sinais já no fechamento da última semana epidemiológica. Segundo o relatório, as ações “estão produzindo êxitos localizados e podem resultar na redução dos casos graves da doença nas próximas semanas”. Apesar de mostrar uma pequena desaceleração do crescimento da pandemia no país, os especialistas alertam que ainda não houve o alívio necessário no contexto brasileiro das demandas hospitalares. Ao todo, 16 estados e o Distrito Federal têm taxas de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) superiores a 90%.Além disso, os pesquisadores demonstram preocupação, já que o Brasil pode estar observando a formação de um novo platô, como o visto em agosto do ano passado, porém com números bem mais elevados de casos graves e óbito. “A flexibilização de medidas restritivas pode ter como consequência a aceleração do ritmo de transmissão e, portanto, de casos graves de covid-19 nas próximas semanas”, alertam os pesquisadores da Fiocruz.Inação” do governoOutros pesquisas sobre a situação pandêmica do Brasil ressaltam a responsabilidade do governo federal no cenário atual. Um estudo publicado ontem na revista Science concluiu que a “combinação perigosa de inação e irregularidades” da resposta federal colocam o Brasil como um dos piores países em termos de liderança no enfrentamento.A partir dos dados do Ministério da Saúde de fevereiro a outubro de 2020, combinado com outras pesquisas de relevância mundial, o grupo buscou compreender, medir e comparar o padrão de disseminação de casos e óbitos de covid-19 no Brasil em escalas espaciais e temporais. Foram analisados indicadores de aglomeração, trajetórias, velocidade e intensidade de propagação para o interior, contextualizados às decisões do governo federal e repercussões de decisões políticas para se chegar aos resultados.“Embora nenhuma narrativa única explique a diversidade na disseminação, uma falha geral de implementação imediata, coordenada e respostas equitativas em um contexto de fortes desigualdades locais alimentaram a propagação de doenças”, avalia a pesquisa publicada na Science.Abril preocupanteEspecialistas explicam por que o mês de abril ainda será dramático para o Brasil em relação à pandemia.Poucas vacinasO ritmo vacinal começa a ganhar corpo, mas o país enfrenta problemas com importação de matéria-prima, o que atrasa a produção de imunizantes. O Instituto Butantan não conseguirá cumprir com a meta de entrega do mês, e a Fiocruz já havia reduzido as projeções. O Ministério da Saúde, que chegou a divulgar 47 milhões de doses em abril, agora estima 26 milhões de unidades.Alta média móvelMesmo ainda sem bater nenhum recorde do número de mortes e infecções registradas diariamente nesta semana, o país continua a ver uma média móvel de óbitos e casos em um alto patamar. Segundo o cálculo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que leva em conta os números dos últimos sete dias, o país tem média de 3.015 mortes e 68.615 diagnósticos positivosAlta ocupação de UTIsAo todo, 16 estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) superiores a 90%. No levantamento anterior, o percentual era realidade de 20 unidades federativas.Taxa de transmissibilidadeApesar de ter apresentado redução, a taxa de transmissão (Rt) da covid-19 no Brasil ainda é considerada alta. Segundo levantamento do Imperial College de Londres, a taxa do Brasil é de 1,06. Na semana retrasada, o Rt estava em 1,12Casos em alto patamarMesmo com diminuição de novas internações nos estados, houve incremento de casos no fechamento da última semana epidemiológica, a 14ª. Nota-se uma melhora, mas o problema está longe de ser solucionado.MPF monitora ações da SaúdeO ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. se reuniu ontem com o procurador-geral da República, Augusto Aras, para discutir o avanço da pandemia. De acordo com a Procuradoria Geral da República, Queiroga reforçou que o repasse de 15,5 milhões de vacinas da Pfizer até junho. A subprocuradora-geral Célia Delgado também participou do encontro e, segundo a PGR, “explicou ao ministro da Saúde que membros do Ministério Público nos estados acionaram o Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19 (Giac), que buscou obter informações sobre providências junto ao Ministério da Saúde com antecedência, evitando, assim, que procuradores e promotores precisassem ir à Justiça em busca de decisões liminares”.
C/B
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