‘30% dos pacientes que são chamados para seus exames, suas cirurgias, nós não conseguimos contatar’, diz secretária de Saúde do DF, Luciene Florêncio, ao comentar sobre cirurgias eletivas
A secretária de Saúde do Distrito Federal, Luciene Florência, que há 32 anos atua como servidora pública, falou com exclusividade ao TaguaCei, nesta segunda-feira, 14. Em sua entrevista, que poderá ser conferida na íntegra abaixo, a secretária comenta sobre o baixo índice de vacinação contra a covid-19 e falou também sobre a necessidade dos pacientes fazerem suas respectivas atualizações cadastrais para serem convocados para as cirurgias eletivas – “porque hoje eu tenho estatisticamente como lhe apresentar que 30% dos pacientes que são chamados para seus exames, suas cirurgias, nós não conseguimos contatar porque não temos os dados cadastrais corretos.”
Em outro trecho da entrevista, Luciene Florência também ressaltou o apoio e liberdade que tem por parte do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), para fazer seu serviço. Ela enfatizou ainda que a atual gestão do governo federal, sob comanda da ministra da Saúde, Nísia Trindade, tem tido outra visão com relação à saúde pública da capital da República. “O governo do DF é um governo que está alinhado, que tem dado todo apoio para que a gente faça o nosso trabalho, para que tenhamos toda essa vontade e autonomia. E da parte do governo federal, temos o reconhecimento dessa desigualdade que existe no DF, reconhecimento de que nós somos a vitrine do país”, afirma a secretária.
Jornal TaguaCei – A senhora recentemente disse em entrevista que não está satisfeita com a quantidade de pessoas vacinadas contra a covid-19 no DF. A senhora poderia falar uma pouco mais sobre isso?
Luciene Florêncio – Quando eu digo que não estou satisfeita é porque nós gostaríamos que esse movimento de vacinação no Brasil e no Distrito Federal nós estivéssemos com maiores coberturas. Hoje, nós temos uma cobertura de 22% da bivalente, e isso nos preocupa bastante porque nós temos uma população, principalmente, essa população que trabalha fora de casa, as crianças e os adolescente com menor cobertura vacinal.
Então, essa é a nossa preocupação, essa é a nossa busca, essa luta constante que nós estamos fazendo com pontos de vacinação em feiras, em escolas, nos mercados, extramuros, zoológico, nos shoppings, em todos os lugares. São eventos para que nós possamos ir buscar (pessoas para serem vacinadas).
Temos também o carro da vacina, que é um começou em Ceilândia, quando nós estávamos com alta transmissibilidade do vírus, que nós fomos de casa em casa, de porta em porta, para que a gente aumentasse a cobertura vacinal naquela época e quebrássemos a cadeia de transmissão do vírus. O carro continua ativo, cobrindo toda Ceilândia, cobrindo as Chácaras do Trecho 1, 2 e 3, no Pôr do Sol, e, com isso, nós realmente esperamos que essa cobertura vacinal ela aumente. Até porque o vírus não parou de circular, portanto, nós temos que estar protegidos, nós temos que estar com a defesa, com nossa imunidade fortalecida para que em contato com o vírus podemos até ter a doença, mas ela não vem de forma grave.
J.T. – Outra afirmação feita pela senhora durante entrevista, a senhora também falou que o DF corre o risco de ficar sem anestesista na rede pública. Ainda há essa possibilidade?
L.F. – Nós estamos agindo para que esse fato não ocorra. Hoje nós temos uma insuficiência realmente dessa força de tralho. Mas nós estamos priorizando essa especialista para o centro obstétrico para fazer os partos, as cesáreas, quando há necessidade. Essa possibilidade (de ficar sem anestesistas) nós estamos ficando bem distante dela. Nós estamos focados, eu e toda a minha equipe técnica, para que nós estejamos fazendo o credenciamento de profissionais, seja individual, coletivo ou por meio de uma empresa, para que eles venham nos ajudar na realização das cirurgias eletivas. Hoje nós temos um quantitativo de anestesista para a toda a rede que são no total de 231 e que esse número é suficiente apenas para realizarmos a cirurgia de urgência e os partos.
Então, agora nós precisamos realizar as cirurgias eletivas, que resultam nessas longas filas que nós temos, e esses anestesistas credenciados eles vão também poder trabalhar na produtividade realizando essas cirurgias eletivas. Agora, hoje, apesar do concurso, apesar da ampliação da carga horária dos anestesistas, apesar da mudança de especialidade que nós também buscamos essa alternativa, e nenhuma dessas medidas foram suficientes (para aumentar o número de anestesistas). Então, nós precisamos realmente desse credenciamento, dessa complementariedade para vencermos essa escassez desse especialista.
J.T. – A senhora também falou que o fato das pessoas não atualizarem o cadastro do SUS, isso leva os pacientes a perderem consultas e até cirurgias no DF. O que a Secretaria tem feito para mudar esse quadro? E como a população pode ajudar?
L.F. – Nós precisamos que a população acolha esse nosso chamado que é o recadastramento. O que é o recadastramento? O recadastramento é uma atualização do telefone, do endereço e do e-mail para que quando o complexo regulador esteja fazendo esses direcionamentos e nós esse enfrentamento das filas de consultas, de exames, de cirurgias, para que quando esse contato precisa ser feito, nós encontremos o usuário que estava aguardando por aquela cirurgia, por aquela consulta. Porque hoje eu tenho estatisticamente como lhe apresentar que 30% dos pacientes que são chamados para seus exames, suas cirurgias, nós não conseguimos contatar porque não temos os dados cadastrais corretos. E há ainda outras situações em que as regiões de saúde agenda a consulta e ele não comparece porque foi dada a vez para o paciente se consultar e fazer o exame, mas o call center não conseguiu informá-lo.
J.T. – Recentemente, a Secretaria de Saúde anunciou que na região Sul do DF, já está ocorrendo a telemedicina nas Unidades Básicas de Saúde. Como funciona essa telemedicina? Ela será ampliada para as outras regionais?
L.F. – Sim. Hoje, primeiramente, nós temos que avançar no ponto de vista de tecnologia. Então, é a inovação, é a tecnologia. É um marco do governo federal e no Distrito Federal também. Nós temos que fazer, e estamos nesse processo de construção de um elemento técnico, de um termo de referência para que a gente faça um chamamento público para a telessaúde. Porém, nós já estamos experimentando essa modalidade por meio de uma parceria com o Hospital Albert Einstein e conseguimos ter 15 pontos no DF onde nós temos o médico de família e comunidade atende o paciente nas especialidades de cardiologia, endocrinologia, neurologia, neurologia pediátrica, dermatologia, psiquiatria, então, o Albert tem os profissionais com eles e nós fazemos uma chamada por Webcam e o médio de família nas Unidades Básica de Saúde (UBS) e o profissional do outro lado dá um apoio na condução daquele caso.
Nós já estamos experimentando na região de saúde Oeste, Sul, Leste, Norte, então em todas essas regiões nós temos as UBSs. Quero dizer também que a implantação dessa medida é motivo de muito orgulho eu dizer hoje que apenas nove equipes de saúde da família no DF não estão consistidas por falta de médicos. Quando nós chegamos aqui na gestão eram 118 equipes sem médicos. Com concurso, com o programa mais médicos, com a residência das academias dentro das UBSs, hoje nós temos mais de 100 residentes de medicina de saúde, recebemos 52 médicos do programa Mais Médicos, aderimos agora com o governo federal na coparticipação onde o governo federal paga uma parte do salário do médico e nós (GDF) para a outra parte e, com isso, nós vamos contar com mais 136 médicos de família. Então, eu quero expandir a cobertura de estratégica de saúde da família com esses profissionais.
J.T. – Fale um pouco sobre a estrutura atual da Secretaria de Saúde.
L.F. – O nosso governador é um estadista, é um líder, e o diálogo tem sido uma constante. O governo federal, no quesito saúde, nós temos feito toda essa interface junto ao Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde (Conasems), sou vice-presidente da região Centro-Oeste, e a ministra da Saúde, Nísia (Trindade), permeia esse espaço com bastante frequência e nós temos tido um diálogo bastante próximo. Em nossas buscas, (as equipes de saúde) eles olham para o DF como se fosse uma vitrine para o país. E eu tenho conversado bastante que nós temos que entender que nós somos vitrines, mas também temos desigualdades, temos vulnerabilidades. E foi nessa esteira que houve esse reconhecimento e se antes (no governo de Jair Bolsonaro, por meio do programa Médicos pelo Brasil) nós erámos contemplados com 9, 10 médicos de família; pedíamos 60 recebíamos 9, então não era reconhecida essa nossa vulnerabilidade. Agora, no governo Lula, vem exatamente reconhecendo toda essa necessidade de ampliação de estratégia de saúde da família.
J.T. – O governador Ibaneis já disse que uma das prioridades deste seu segundo mandato é a saúde pública. Isso já está ocorrendo?
L.F. – Nós precisamos correr contra o tempo para que tenha uma cobertura de estratégia. Hoje o DF tem 70% de estratégia de saúde da família. Nós precisamos aumentar essa cobertura. A saúde não tem cor. A cor é vida, vida longa, celebrar a vida, ter saúde. O que nós precisamos é entender que a maturidade democrática é que permite que nós pensemos diferente, mas que o objetivo é um só. O governo do DF é um governo que está alinhado, que tem dado todo apoio para que a gente faça o nosso trabalho, para que tenhamos toda essa vontade e autonomia. E da parte do governo federal, temos o reconhecimento dessa desigualdade que existe no DF, reconhecimento de que nós somos a vitrine do país, que nós somos a capital do país e por isso temos que ter aqui as melhores coberturas, as melhores estratégias de saúde da família, a melhor rede de urgência e emergência, melhor rede de cegonhas, enfim, nós somos uma vitrine. Por isso, aproveito esse momento para dizer que eu me sinto muito acolhida também pelo governo federal.
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