Há 28 anos, bloco carnavalesco Menino de Ceilândia leva alegria e cultura à população local
Fundado em 1995, o bloco que começou restrito ao carnaval, hoje atua também como instituto social e promove diversas ações culturais; por falta de repasse do governo local, bloco não sairá este ano
Um grupo de seis pessoas – Ailton Velez, Aguinaldo Algodão, Luciene (Nina), Eli Lopes, Alisson, Ailton e Luciana –, no ano de 1995, em Ceilândia Sul, resolveu criar um bloco de carnavalesco para suprir a falta de atividades festivas nesta época do ano. Criou-se então o bloco Menino de Ceilândia. “Com o intuito de trazer cultura para a cidade, a gente criou um bloco de carnaval porque até então não tinha carnaval na cidade, e o pessoal não tinha condições de viajar, e também não queria ir para outro local, então, nós criamos um bloco onde todo mundo tivesse acesso”, conta o coordenador-geral bloco desde sua fundação, Ailton Velez de Silva.
Tudo começou com apenas um boneco gigante, que foi confeccionado pelo bonequeiro Aguinaldo Algodão, que por ser natural de Olinda (PE), teve a ideia de não só colocar o boneco na rua, como também agrupar pessoas para dançarem a dança pernambucana: frevo. O primeiro boneco, que existe até hoje, foi intitulado de Menino de Ceilândia.
“Foi uma forma que nós encontramos para rebater uma reportagem de um jornal local que dizia que em Ceilândia, naquela época, tinha uma alta taxa de meninos e meninas que se tornavam pais precocemente. Aí pensamos que poderíamos combater isso por meio de cultura e arte”, explica Velez.
O local onde o bloco se reuniu pela primeira vez foi na QNM 1/3, na Ceilândia Sul. O ponto, como conta Velez, continua sendo o mesmo onde ainda hoje o bloco se apresenta.
Instituto
Em conversa com o coordenador-geral do bloco, logo se percebe que o carnaval seria apenas o começo de uma longa história. Por isso, em 2005, o projeto que até então era voltado apenas para o carnaval passou também a fazer serviços sociais. Com isso, nasceu o Instituto Menino de Ceilândia, que com apoio do governo federal à época, conseguiram se constituírem como ponto de cultura.
“Sentimos a necessidade de oferecer alguma coisa para a comunidade que fosse além do carnaval, mas que tivesse alguma ligação com essa festa. Depois em outros editais nós conseguimos, via Ministério do Turismo, equipamentos para realizarmos aulas de música, de corte e costura, de xilografia, e de serigrafia”, diz Velez, que atualmente também é o presidente do instituto.
Com esse apoio financeiro através do poder público foi possível iniciar uma série de oficinas, como a de bonecos gigante, de dança de frevo, de literatura de cordel, além de shows e outras atividades artísticas.
Depois, em 2009, o instituto passou a realizar apresentação de frevo e de poesias nas escolas públicas do Distrito Federal. Ao todo, segundo Velez, foram mais de 17 escolas visitadas.
Mas quando chegou em 2012, o instituto, por falta de recursos, ficou sem dinheiro para poder pagar o aluguel da sua sede, o que impediu que as oficinas continuassem. “Essa situação perdurou até 2014, que foi o ano em que nós conseguimos este espaço que nos foi cedido pela Administração de Ceilândia”, diz o presidente.
Na nova sede, que hoje se encontra em Ceilândia Norte, na QNQ 5, Área Especial, os cursos estão sendo retomados, como é o caso das oficinas de música, das oficinas de artes plásticas, de danças de passo de frevo, e outras. Nesta nova etapa também o Instituto Menino de Ceilândia tem oficina de dança de ritbox – que está sendo organizado com o apoio da própria comunidade –, e oficina de tricô e crochê – também organizado com apoio de voluntários.
Agora, para este primeiro semestre de 2023, estão previstos a abertura de novos turmas para a realização dos Projetos Cirandá de Classe, que vai circular nas escolas; o curso de alfabetização com o método de Paulo Freire, que será iniciado no dia 5 de março, mas a busca ativa para novos participantes já começou; e o curso do Clube do Livro, que contará com inauguração de uma minibiblioteca.
Não vai ter carnaval
Desde que o bloco Menino de Ceilândia foi criado, ele só ficou sem sair durante os anos de 2021 e 2022, em razão da pandemia de covid-19. Porém, neste ano, conforme nos antecipa do presidente do bloco, devido à falta de recursos, não será possível colocar o bloco na rua.
“A gente quase não ia fazer carnaval porque eles [governo local] não disponibilizaram recursos. Nos deram oportunidade para entrar no FAC, mas o FAC fazia uma restrição muito grande sobre o que a gente realmente queria mostra para a comunidade enquanto bloco. Não entramos porque não iria nos atender. Com isso, nós cobramos aplicação da lei do Carnaval, que existe desde 2017 e que diz que independente ter FAC ou não, o governo é obrigado a ter recursos exclusivos para o carnaval”, conta Velez.
Para sair, o bloco contava com o apoio do poder público que, de última hora, teria assegurado o envio de recursos por meio de emenda parlamentar, o que, segundo Velez, também não ocorreu até o momento.
“Por isso, não vamos sair este ano. Estávamos marcados sair no próximo dia 19, mas infelizmente não conseguimos recursos suficientes para colocarmos o bloco na rua”, diz. “Não queríamos deixar a comunidade sem carnaval. Porque como nós já temos muito tempo com o carnaval, nós hoje somos cobrados se o bloco vai sair. Para você ter uma ideia, o recurso foi tão insuficiente que dos 200 blocos que seriam beneficiados com o FAC, apenas 35 foram contemplados com o fundo e, mesmo assim, eles vão sair sem o que realmente eles precisam”, ressalta Velez.
Este ano, o bloco Menino de Ceilândia iria sair com uma orquestra de frevo com 23 músicos, 18 bonecos gigantes – que iriam homenagear o poeta Pezão, a Dona Maria (que foi madrinha de mais de 100 pessoas numa quadra de Ceilândia Sul), o famoso jogador de futebol conhecido pelo apelido de Churrasco, e a fundadora do bloco, Nina, que faleceu recentemente. Além disso haveria também 10 passistas de frevo, além de uma equipe de apoio. O evento, como já é tradicional, seria totalmente gratuito.
Veja abaixo a nota que os organizadores enviaram à nossa reportagem:
“Lamentamos informar que o bloco Menino de Ceilândia foi impedido de fazer seu carnaval no dia 19/2 porque o Governo do Distrito Federal, através da Secretaria de Cultura, não liberou o recurso. Ficaremos mais um ano sem carnaval. Tristeza para os nossos foliões.”
Para mais informações sobre o bloco Menino de Ceilândia ligue (61) 3379-1284 / (61) 9 8157-8180 / (61) 9 8100-5736 ou acesse:
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