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“O boxe é para todos”

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Ao Correio, pugilista capitã das meninas na Seleção elogia momento da equipe, se derrete pelo impacto social do esporte, defende mulheres em cima do ringue e comemora manutenção no programa olímpico

Foz do Iguaçu (PR) – O relógio marcava 22h30 de 6 de abril quando Jucielen Romeu pegou a mochila da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) e a colocou nas costas para se retirar do restaurante do Rafain Palace Hotel & Convention. A medalha de ouro pendurada no pescoço ilustrava o início perfeito do ciclo rumo aos Jogos de Los Angeles 2028. No mesmo lugar, duas horas antes, a pugilista obteve a primeira conquista em 2025. Na categoria até 57kg, foi campeã da World Boxing Cup. Por decisão unânime, derrotou a polonesa Julia Szeremeta.

Em entrevista ao Correio, a capitã da equipe feminina da Seleção Brasileira fez um balanço positivo do momento da modalidade no país, abordou temas como a influência do esporte e teceu visões sobre sua trajetória pessoal. Por decisão unânime dos juízes, o triunfo diante da polonesa trouxe uma afirmação. Para ela, “o boxe brasileiro precisa e vai ser respeitado”. A competição sediada ali, inédita, serviu como um marco para a modalidade.

Após os Jogos de Paris 2024, a Associação Internacional de Boxe (IBA) acabou destituída da posição de entidade máxima do esporte pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), por escândalos de corrupção e problemas financeiros. A escolhida para ocupar a posição, a World Boxing, abriu os trabalhos em 2025 justamente com esse torneio, realizado pela primeira vez no Brasil.

O resultado foi positivo. O Brasil conquistou nove medalhas e ficou em terceiro lugar no quadro geral, atrás apenas de Uzbequistão e Cazaquistão. Consciente do momento, Jucielen é enfática: o esforço e a entrega na rotina vão muito além dos resultados dentro do ringue. Nascida e criada na periferia de Rio Claro (SP), a pugilista de 29 anos discursa em nome das mulheres e faz questão de lembrar o poder social da modalidade: “o boxe é para todos”.

A World Boxing Cup foi uma boa vitrine para o boxe brasileiro?
Foi um excelente campeonato. É muito importante ocorrer no Brasil, pois abre portas para nós. É importante mostrar como a galera está, como nós estamos, como nos preparamos. O foco deste ano é o Campeonato Mundial (em setembro, na Inglaterra). Então, é legal mostrarmos esses detalhes, até para nós mesmos, inclusive. O torneio foi muito forte, pois contou com atletas de alto nível, campeões mundiais, medalhistas olímpicos, e estivemos de igual para igual. Pudemos mostrar do que somos capazes.

Como foi conquistar o ouro?
É preciso entender que ganhar uma medalha olímpica não é nada fácil. Então, é preciso reconhecer a atleta do outro lado. Eu sabia que seria uma luta difícil e de final. Quando temos duas atletas de alto nível, é de se esperar uma luta árdua. Estou muito feliz por ter vencido e pelo meu desempenho. Me impus na luta, não deixei a existência da medalha olímpica dela me abalar. Pelo contrário, fiz questão de lembrar a mim mesma da minha capacidade.

Abrir o ano com esses desempenhos dá moral?
Com certeza. Obviamente, esperávamos mais nos Jogos Olímpicos, mas as coisas acontecem, às vezes, de maneiras que não desejamos. Logo em seguida dos Jogos de Paris, começamos a trabalhar em cima do que faltou, dos detalhes que consideramos melhoráveis. Agora, nesse campeonato, já conseguimos ver evolução.

Inclusive pessoal?
Também consegui ver evolução da minha parte. Considero, por exemplo, que fui muito bem em Paris. Fiquei por detalhes da luta da medalha. Muitos falam diversas coisas sem ter noção de como tudo acontece, do que é passar tanto tempo se preparando. Mas estamos trabalhando para isso, para suprir o que faltou. E, agora, é possível perceber frutos, mudanças. Acredito que esse seja o caminho. Até Los Angeles, estaremos muito melhores, para mantermos a tradição do país.

O pensamento de que o ciclo Paris 2024 foi um fracasso é equivocado?
Com certeza. Colecionamos títulos por quatro anos. Tivemos resultados positivos, com o crescimento da equipe. Nenhum outro time quer pegar o Brasil logo de cara, pois sabem da dificuldade. O que discordo com mais veemência é a anulação de todo o trabalho pelo que aconteceu em Paris. Infelizmente, muitos só avaliam o que aconteceu lá. Mas, como temos essa noção, trabalhamos o máximo que podemos. Quem acompanha o Brasil sabe do que conquistamos. O boxe brasileiro está crescendo e precisa ser respeitado. Não vamos deixar que uma campanha apague isso.

Como recebeu a notícia da manutenção do boxe no programa olímpico?
Não poderia ter notícia melhor do que essa para começar o ano. Todos nós ficamos desapontados com uma eventual exclusão. Afinal, temos como grande objetivo estar em uma edição de Jogos Olímpicos. O boxe não pode ficar de fora de uma competição desse tamanho, pois é um patrimônio mundial. Nós celebramos muito o retorno. Agora, vamos torcer por uma gestão mais positiva.

Com as saídas do Keno Marley e da Bia Ferreira, a Seleção entra em uma nova fase. Como enxerga esse momento?
Não é fácil perder atletas ótimos, de nível tão alto. Sobre a Bia, não tem nem o que falar. Era a nossa capitã, carregava o boxe feminino nas costas. Eu, como atleta veterana, sinto o peso, principalmente falando como capitã das meninas. Mas, ao mesmo tempo, me sinto confiante. É possível mostrar que nosso boxe feminino ainda tem força, está na ativa. Vou lutar, me esforçar e dar o meu melhor para manter esse legado. Acredito que, com os meninos, é a mesma coisa. Nada se altera.

Quando você entra nas lutas, costuma mostrar animação com danças. Qual a importância disso para você?
A música sempre foi muito importante para mim. É algo que, além de me inspirar, me deixa energizada. Estou sempre colocando funk, por exemplo, para me agitar, para entrar no clima. Apesar de ser paulista, gosto muito do funk carioca. O ritmo mais acelerado me coloca nesse clima.

O que leva para o ringue como inspirações?
Procuro sempre acreditar muito em mim e no meu potencial. Penso sempre no processo que passei para chegar até aqui. Me entrego nos treinamentos e, na hora da luta, foco no resultado. Isso costuma dar certo. Sempre me apego nisso, no pensamento positivo.

Você costuma dizer com frequência que “luta como uma garota”. Como vê sua influência?
O boxe é um esporte majoritariamente masculino. Só de uma mulher estar em cima de um ringue lutando, é uma vitória. Ao longo desses anos, recebi diversas mensagens de meninas que não treinam por falta de incentivo, justamente por serem mulheres. Faço sempre questão de reforçar que lugar de mulher é onde ela quiser. Isso é uma luta que nunca vou deixar de lado. É, inclusive, ainda mais importante do que o próprio boxe. Nós fazemos bonito e de igual para igual com os homens. Então, por que não? Como mulher — e ainda como mulher negra, vinda da periferia — vejo que é sempre bom estar enfatizando essas questões. Sei do meu papel. A mulherada tem que subir no ringue, tem que trocar soco. O boxe é para todo mundo.

O valor social do boxe é muito forte. Ainda assim, acaba ficando para trás em relação ao futebol. O que faz com que isso aconteça?
É fácil falar que falta mídia, mas realmente acredito que uma atenção maior a esses campeonatos, por exemplo, que são menores, pode gerar mais interesse das pessoas. Muitos só têm contato com o boxe quando as Olimpíadas estão acontecendo, e isso é triste. Nós disputamos campeonatos o ano todo, inclusive em anos que não são olímpicos, e vencemos diversas coisas. Mas ainda assim, estamos longe de ter a mídia que o futebol tem. Independentemente disso, o poder atrativo que o boxe tem pode ser um trunfo. Por ser um esporte periférico, pode agregar muita gente. Isso é algo capaz de gerar crescimento.

Além disso, é importante falar dos valores que o boxe pode agregar. Os jovens presentes em projetos sociais não somam aprendizados apenas dentro do ringue. Se não virarem atletas, levam lições para a vida. Tornam-se melhores cidadãos. Essa modalidade tem um papel muito importante na sociedade.

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Compartilhado por
Jeová Rodrigues

Jornalista

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