Chuva provoca prejuízo para os agricultores do DF; preço das hortaliças dispara
Temporais acima do volume esperado causam estragos no campo. Alguns produtores rurais chegaram a perder R$ 71 mil entre novembro e janeiro, mas há esperanças: o sol começa a brilhar
As chuvas intensas que têm atingido o Distrito Federal desde outubro — início do período chuvoso — estão afetando a produção rural de verduras, hortaliças, folhas e legumes. O cenário tem sido percebido há meses, mas foi a partir de dezembro de 2021 que a situação começou a ficar crítica. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a capital federal, no mês passado, chegou a registrar 78% a mais do volume de água da média histórica mensal para o período.
Embora a temporada seja tradicionalmente chuvosa, os temporais atuais são mais fortes do que nos anos anteriores. Em dezembro de 2020, o aguaceiro no DF não atingiu o esperado para o mês e, em dezembro de 2019, algumas estações meteorológicas do Distrito Federal sequer registraram chuvas.
Feirantes das Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) estão com produções paradas e enfrentam perda de mercadorias, além de amargar prejuízos financeiros. É o caso de Francisco Ricardo de Barros, 28 anos, da Chácara Cauã, em Planaltina. Na semana passada, ele chegou a perder 20 mil pés de alface americana e 5 mil pés de couve-flor, por conta das fortes chuvas. Apenas em janeiro deste ano, o produtor calcula ter perdido R$ 25 mil em vendas — fora o prejuízo causado pelo investimento não aproveitado.
“Só em relação às alfaces americanas, entre adubo, mudas, esterco e mão de obra, fora a gasolina, perdi R$ 6 mil. Dos 20 mil pés que plantei, tentei aproveitar ao máximo e consegui encher 10 caixas. Normalmente, eram 1,4 mil caixas”, relembra Francisco, que produz com a família há cerca de 15 anos. Ele acrescenta que, da leva de couve-flor, conseguiu aproveitar 500 pés, dos cinco mil plantados. As feiras de produtores da Ceasa, com vendas por atacado, ocorrem às segundas e quintas-feiras, das 4h30 às 12h.
Preços
De acordo com o agricultor, a caixa de alface americana, com 20kg, está custando de R$ 15 a R$ 20. Na época da seca, os valores ficavam entre R$ 10 e R$ 12. A couve-flor chega a valer de R$ 30 a R$ 35 na estiagem, e, hoje, o preço médio encontrado é de R$ 70 a R$ 80, a dúzia. Francisco calcula ter perdido, entre novembro e dezembro de 2020, mais de R$ 40 mil em vendas. “Dá vontade de chorar. Seria o dinheiro para pagar as contas. Hoje (quinta-feira), vendi R$ 1,8 mil. Costumava vender o dobro em dia de feira”, lamenta o produtor rural, que também cultiva limão, mandioca, inhame, brócolis e couve.
A produtora Cintia de Moraes, 41 anos, também tem amargado prejuízos durante o período chuvoso e percebe o reflexo nos preços finais dos produtos. A trabalhadora do Núcleo Rural Santos Dumont, próximo ao Vale do Amanhecer, em Planaltina, produz com o esposo e um funcionário há 10 anos. “As roças não estão produzindo e os carros que puxam as verduras estão atolando, porque está chovendo todo dia. Não temos como adubar nem passar veneno, que são produtos caros, e a chuva acaba lavando. O preço das verduras sobe porque a produção diminui. O que era vendido na época da seca a R$ 50 (a caixa com 20kg), por exemplo, está custando R$ 90. A caixa da batata doce estava R$ 40 e hoje está R$ 70”, relata Cintia, que, em épocas de boa produção, chegava a levar 50 caixas de pimenta de cheiro para serem vendidas na Ceasa. “Hoje (quinta-feira), eu trouxe oito”, conta.
Piora
O aumento no volume de chuvas entre o fim de 2021 e o início de 2022 chama a atenção dos produtores. O cenário destoa do mesmo período dos anos anteriores. Paulino Alves da Silva, 58 anos, produz orgânicos há cinco anos em Planaltina. “Desta vez, está atípico, é muita água. Em dezembro de 2020, colhemos muitos pés de alface e vendemos bem, porque não foi tanta chuva. Então, a produção foi boa”, compara o produtor.
Paulino tem conseguido manter o cultivo de algumas poucas espécies. “Estamos praticamente parados, desde dezembro, por conta das chuvas. Acumulou muita lama e não tem como preparar a terra. Estamos produzindo mamão, banana e algumas folhagens, como taioba e cebolinha, que são mais resistentes. Plantas como hortelã, capim santo, menta, orégano e peixinho da horta também estão saindo — mas é só”, frisa o agricultor.
Previsão
Apesar da situação negativa, há esperança no horizonte agrícola. Segundo o meteorologista do Inmet Heráclio Alves, as chuvas devem amenizar nos próximos dias. “O fim de semana foi de trégua nos temporais. A temperatura aumentou nos últimos dias. Ainda teremos chances de pancadas de chuva isoladas, mas teremos uma ligeira melhora, que deve se estender para o início da semana, quando as chances de chuva serão menores, com predomínio de sol e céu com poucas nuvens. As temperaturas podem ficar na casa dos 29°C”, prevê o meteorologista.
Os fortes aguaceiros também têm atingido o Entorno do DF. Larice Xavier, 21, trabalha na Distribuidora de Verduras Canaã, com produções no Novo Gama (GO) e em Vargem Bonita (MG), e relata aumento nos preços por conta da diminuição das colheitas. “Com excesso de chuva, muitas verduras estragam. A gente perde muita mercadoria e fica mais caro na hora de vender, o que acaba diminuindo as vendas. O tomate, por exemplo, na semana passada, vendemos a R$ 80. Hoje, está entre R$ 140 e R$ 150 (a caixa com 20kg)”, conta Larice.
Segundo a agricultora, durante a época de estiagem, a chácara chega a levar mais de 100 espécies de hortaliças, verduras e legumes para as feiras da Ceasa. “Mas na chuva, essa quantidade diminui quase 50%”, estima.
- Larice Xavier, funcionária da Distribuidora de Verduras Canaã, no Novo Gama (GO), relata aumento nos preços por conta da diminuição das colheitasFoto: Ed Alves/CB
- Agricultora do Núcleo Rural Santos Dumont, Cintia de Moraes percebe o reflexo das chuvas nos preços finais dos produtosFoto: Ed Alves/CB
Volume de chuva
Estação de Águas Emendadas (Planaltina)
Dezembro de 2021: 391,8mm — 62% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 110,4mm
Estação de Brasília
Dezembro de 2021: 387,4mm — 60% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 127,8mm
Estação de Brazlândia
Dezembro de 2021: 429,8 mm — 78% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 246,4mm
Estação do Gama
Dezembro de 2021: 309,6 mm — 28% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 162,6mm
Estação do Paranoá
Dezembro de 2021: 424,4 mm — 76% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 72,0mm
Fonte: Inmet
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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