Segundo instituição suíça responsável pela lista, no entanto, o país se mantém na lanterna em itens como gestão do governo, educação, qualidade da mão de obra e custo do capital para investimento
Após escorregar dois lugares em 2024, o Brasil voltou a subir no Ranking de Competitividade Global do International Institute for Management and Development (IMD) deste ano. Avançou quatro colocações, passando do 62º lugar para o 58º, em uma lista de 69 economias pesquisadas divulgada, ontem, pelo instituto suíço com sede em Lausanne, na Suíça.
O avanço do Brasil na listagem está associado ao crescimento da atividade econômica, que avançou 3,4% em 2024 e ao baixo nível do desemprego, em torno de 6,5%, patamar próximo ao pleno emprego. No fator Performance Econômica, o Brasil está em 30º lugar e um dos pontos fortes é o fluxo de investimento direto estrangeiro, que colocou o país em 5º lugar. Outro ponto forte foi o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que fez o país ficar na 17ª colocação no ranking, contudo, o PIB per capita deixou o Brasil em 54º lugar.

Apesar desse avanço, o Brasil não tem muito o que comemorar, de acordo com Hugo Ferreira Braga Tadeu, diretor do núcleo de Inovação, Inteligência Artificial e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC), parceira do IMD na elaboração da pesquisa que utiliza 336 critérios para elaborar o ranking. Segundo ele, o país precisa avançar em segmentos em que está na lanterna, especialmente em gestão do governo, na área de educação, na qualidade da mão de obra, assim como no custo do capital para investimento.
“O Brasil ainda está no último bloco — o dos países menos competitivos, porque insiste em uma agenda que não é uma agenda de reforma e de abertura comercial, que não é de simplificação tributária, que não é de livre comércio e que não é de inovação em tecnologia, nem em formação da mão de obra”, lamentou Tadeu, em entrevista a jornalistas.
Conforme os dados da pesquisa, o Brasil, por exemplo, está em penúltimo lugar em Eficiência Governamental — um dos quatro fatores utilizados na metodologia do ranking —, à frente apenas da Venezuela, que é governado por uma ditadura de esquerda. Outro fator negativo nessa categoria foi o custo de capital, o pior entre os 69 países pesquisados, em grande parte, segundo Hugo Tadeu, devido ao elevado patamar de juros para financiamento de investimentos e ao forte peso da carga tributária, que é resultado da falta de uma reforma administrativa.
Hugo Tadeu lembrou ainda que os países nas melhores colocações do ranking possuem baixa carga tributária. “Estamos fazendo o contrário, o Estado tributa e afasta o potencial de geração de riqueza, não tem regras claras e estáveis”, pontuou.
No fator Infraestrutura, o país está na 58ª colocação, mesma classificação do ranking geral, mas, quando esse indicador é aberto, os pontos fracos saltam aos olhos, como educação — área em que os países que lideram o ranking mais investem. Em habilidades linguísticas, o Brasil está em último lugar. Em educação primária e secundária, em penúltimo. Em educação em gestão e em educação universitária, em 67º. Ele citou modelos de países onde a iniciativa privada e as universidades são parceiras e investem na transferência de conhecimento. “As universidades brasileiras estão distantes da realidade e voltadas para a geração de papers em vez de desenvolver patentes”, criticou.
Hugo Tadeu lembrou que o Brasil segue com um gasto exorbitante em subsídios que precisam ser revistos com urgência a fim de evitar novos retrocessos. Um deles foi a polêmica em torno do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que tem desgastado o governo e a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, junto ao Legislativo.
“O aumento do IOF aumenta o juro futuro e vai na contramão do que todo mundo está praticando. Logo, esse avanço não é para comemorar, porque temos muito o que corrigir. Ao aumentar o IOF, o governo afugenta o mercado privado e o investidor estrangeiro”, alertou Hugo Tadeu. Ele lembrou que a falta de investimento em educação condena o país a crescer pouco e a nunca ter um prêmio Nobel. Segundo ele, apenas o Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston, recebe US$ 60 bilhões para fazer investimentos e transferir para o mercado, muito mais do que os investimentos realizados em todas as universidades brasileiras juntas.
“É importante investir para gerar conhecimento e, consequentemente, gerar riqueza. Ou o país gera potencial de conhecimento ou vamos continuar na dependência de sermos um país sempre produtor de commodities”, afirmou Tadeu. Segundo ele, essa limitação no crescimento impacta diretamente no IDH e, por conta disso, o país, na última década, oscilou entre as posições de 57, 58 e 60 do ranking do IMD, quando há algum crescimento pontual no PIB, mas que não é sustentável.
“O país tem problemas estruturais que precisam ser levados a sério”, afirmou. O acadêmico ressaltou que, se esses problemas não forem enfrentados, o país continuará condenado a crescer pouco e a ter “voos de galinha”, quando o crescimento econômico não é sustentável, porque não há estratégia de longo prazo para a melhora da competitividade do país.
Segundo Tadeu, os 10 primeiros colocados no ranking do IMD repetem o comportamento dos últimos 10 anos, e investem pesado em tecnologia e mão de obra, enquanto o Brasil segue priorizando ser um mero exportador de commodities. “Competitividade é uma agenda de longo prazo e não adianta as lideranças continuarem nessa agenda de riqueza por commodities, sem investirem em segurança pública, em mão de obra qualificada, em melhoria da renda média. O Brasil continua sendo um país cheio de distorções com 1% da população entre os mais ricos e muita discrepância salarial”, destacou o professor da FDC.
Conforme os dados do ranking do IMD, neste ano, a Suíça ocupa a primeira posição, trocando de posição com Cingapura, que liderou o ranking no ano passado e ficou em segundo lugar neste ano. Completando o pódio, Hong Kong tomou o lugar da Dinamarca, que ficou em 4º lugar, à frente dos Estados Unidos. O relatório destaca a forte presença de países da Ásia e Europa nas primeiras colocações do ranking, refletindo estratégias bem-sucedidas de longo prazo em educação, inovação e governança.
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