Expectativa de tensão em reunião do grupo foi substituída por clima amistoso, com troca de elogios em encontro dos líderes
O ano era 2020 e o mundo vivia a pandemia da covid-19. Em meio às incertezas geradas pela crise sanitária global, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não demonstrava grande interesse em se encontrar com um grupo de países aliados de primeira hora.
“Eu não sinto que ele representa apropriadamente o que está acontecendo no mundo. É um grupo muito antiquado de países”, disse Trump.
O grupo em questão era o G7, que reúne Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Japão, Alemanha, Itália e França, além da União Europeia.
Cinco anos depois, Trump esteve no Canadá no domingo (15/6) e na segunda-feira (16/6) para participar de mais uma reunião do G7.
Sua participação aconteceu em meio a um clima de desconfiança sobre como o líder do país mais poderoso do mundo iria se comportar diante de colegas com os quais acumulou diversos atritos nos últimos meses.
A política tarifária de Trump atingiu todos os países do grupo — especialmente o Canadá, um dos seus principais parceiros comerciais.
Além de impor tarifas consideradas pesadas ao vizinho, Trump ainda repetiu, nos últimos meses, o desejo de fazer com que o país virasse o 51º Estado norte-americano — uma ideia sensível aos canadenses e que fez o primeiro-ministro Mark Carney responder a Trump. “O Canadá não está à venda”, disse em maio.
Na Europa, a política tarifária e as incertezas sobre qual estratégia Trump adotará em relação à guerra na Ucrânia têm sido um dos principais entraves ao bom relacionamento com os Estados Unidos.
Lá, assim como no Canadá, falas de viés expansionista também causaram desconfortos.
Nos últimos meses, Trump vem dizendo que os Estados Unidos precisam ter o controle da Groenlândia, território que faz parte da Dinamarca, um dos membros da União Europeia.
Nas declarações públicas do G7, no entanto, nenhum desses assuntos, exceto a política tarifária, entrou na pauta.
Se antes do evento a expectativa era de que Trump pudesse ficar isolado no G7, o que se viu foi uma espécie de “camaradagem” entre Trump e alguns dos líderes do grupo.
‘Camaradagem’
“O que achei surpreendente foi um certo nível de camaradagem neste ano. Em outros anos, a gente via, nas fotos dos líderes, que a maioria ficava de um lado e ele de outro. Neste ano, a situação foi um pouco diferente. A linguagem corporal entre Trump e (Keir) Starmer (primeiro-ministro do Reino Unido), por exemplo, foi bastante cordial” diz à BBC News Brasil Denisse Rudich, coordenadora do G7/G20 Research Group, centro de pesquisas que acompanha as discussões do G7 e do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo.
Starmer e Trump finalizaram um acordo comercial entre os dois países.

Um dos pontos que chamou atenção de quem acompanhou a participação de Trump no G7 foi a forma com a qual ele tratou o primeiro-ministro canadense Mark Carney em sua chegada.
Os dois tiveram uma reunião bilateral e discutiram um prazo para um acordo com o objetivo de dar fim à guerra tarifária iniciada por Trump.
Mas diferentemente de discursos anteriores nos quais Trump afirmava que o Canadá tirava vantagem econômica dos Estados Unidos, o presidente norte-americano chegou a elogiar Carney e sua postura negocial.
“Eu sempre fui um homem de tarifas. Elas são simples, fáceis, precisas e funcionam muito rapidamente. Acho que Mark tem uma ideia mais complexa, mas também muito boa. Vamos ver dar uma olhada nas duas ideias e ver com o que vamos fazer depois”, disse Trump em uma entrevista coletiva.
Formal, mas aparentando simpatia, Carney deu as boas-vindas a Trump, parabenizou-o por seu aniversário, que foi no sábado (14/6), e elogiou a liderança dos Estados Unidos no G7.
“O G7 não é nada sem a liderança dos Estados Unidos”, disse Carney diante de Trump.
Outra demonstração de cortesia do norte-americano com os colegas do G7 aconteceu durante a foto oficial do evento, na tarde de segunda-feira.
Ao explicar à imprensa que voltaria aos Estados Unidos no final daquele dia, ele fez elogios aos líderes dos países que, meses atrás, ele afirmou que estariam prejudicando a economia norte-americana.
“Gostaria de agradecer nosso grande anfitrião […] vou ter um jantar com esses maravilhosos líderes […] Nós tivemos, realmente, um ótimo relacionamento com todo mundo. Eu gostaria de poder ficar até amanhã, mas eles entendem”, disse Trump ao lado dos demais líderes do grupo.
Sua participação acabou sendo mais curta do que o planejado, pois ele deixou o evento no final do dia, segundo ele, para tratar do conflito entre Israel e Irã.
Sua partida prematura impediu que ele se encontrasse com diversos outros líderes convidados a participar de uma reunião ampliada do G7, entre eles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Controvérsias evitadas e diferenças marcadas
Para Denisse Rudich, um dos elementos que ajudaram a dar fluidez à reunião do G7 neste ano foi a escolha dos temas a serem abordados ao longo do evento.
Segundo ela, o governo canadense evitou a inclusão de temas sobre os quais poderia haver grandes desentendimentos.
Um exemplo é a ausência de um assunto recorrente em eventos multilaterais nos últimos anos: as mudanças climáticas.
No caderno de prioridades do G7 desenhado pelo governo canadense, o termo “mudança climática”, que é criticado por Donald Trump, não aparece.
Por outro lado, uma das prioridades elencadas foi o combate aos incêndios florestais que vêm atingindo pesadamente regiões do Canadá, dos Estados Unidos e de outros países como o Brasil e que, de acordo com cientistas, podem estar relacionados ao aumento das temperaturas globais.
“A agenda do G7 foi definida para que a maior quantidade de concordâncias fosse possível e por isso, temas contenciosos foram evitados […] O fato de que não esperamos uma discussão sobre mudança climática não significa que não há um certo nível de aceitação sobre o tema”, diz Rudich.
Nem tudo, porém, na passagem de Trump pelo G7 foi motivo de concordância. Logo em sua chegada, ele deixou claro que discordava da exclusão da Rússia do chamado G8, que era o G7 mais o país europeu comandado por Vladimir Putin.
A Rússia foi excluída do grupo em 2014, quando o país invadiu a região da Crimeia, então controlada pela Ucrânia.
A jornalistas, Trump disse que a decisão havia sido um erro.
“Eu diria que isso foi um erro, porque penso que não teríamos uma guerra neste momento se a Rússia estivesse presente (no G7), e não teríamos uma guerra neste momento se Trump fosse presidente há quatro anos. Mas não funcionou assim”, disse o presidente.
Ao lado de Trump, Carney, cujo governo apoia a Ucrânia na guerra contra a Rússia, olhou para o presidente norte-americano e não respondeu.
A segunda-feira terminou com mais um sinal de entendimento entre Trump e os demais líderes do G7. Ao menos por enquanto.
Inicialmente, ao longo do dia, oficiais da Casa Branca informaram veículos de imprensa norte-americana que o presidente não assinaria uma declaração final do G7 que pedia o distensionamento do conflito entre Irã e Israel.
Os auxiliares de Trump insistiam que o tom do comunicado deveria ser de condenação total ao Irã pelos bombardeios a Israel e de reforço da posição de que o país não deveria ter acesso a armas nucleares.
Apesar disso, às 22h24, o perfil do governo canadense divulgou a declaração final do evento assinada pelos líderes do G7, o que inclui os Estados Unidos.
O documento, de um lado, diz que os líderes “têm sido consistentemente claros que o Irã não deve nunca ter uma arma nuclear” e, de outro, pede que “a resolução da crise iraniana leve a um amplo distensionamento das hostilidades no Oriente Médio”.

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