‘Houve uma falha nossa que tem que ser estudada’, diz Coronel Leitão à CPI
Em último dia de depoimento, a CPI dos Atos Antidemocráticos recebeu, nesta quinta-feira (16), o Coronel Reginaldo Leitão, que comandava o Centro de inteligência da Polícia Militar do Distrito Federal no dia da tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em 12/12, e no dia dos ataques às sedes dos três poderes em 8/1.
O coronel, que não fez questão de ser acompanhado por advogado, negou que tenha ocorrido um “apagão nas forças policiais”, como chegou a ser dito pelo governador Ibaneis à época, mas assumiu que houve falhas por parte da PM na condução dos eventos. “Eu acredito que sim, houve uma falha nossa e essa falha tem que ser estudada, os gestores têm que identificar quais foram os erros cometidos de posicionamento de tropa e de efetivo para que isso nunca se repita”, afirmou Leitão.
O depoente explicou que a atuação da força de inteligência se baseava em monitorar a movimentação de manifestantes mais radicalizados que oferecessem algum risco, como, por exemplo, o cacique Serere, preso desde dezembro. Ele afirmou que todas as informações obtidas pela inteligência sobre os acampamentos em frente ao QG do exército foram repassadas ao comando da Polícia Militar e Polícia Civil e também ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Questionado em diversos momentos sobre a forma como a inteligência avaliava o potencial de risco dos manifestantes acampados, o militar afirmou que o movimento apresentava baixa adesão após a posse do presidente Lula e que o número de pessoas teria passado de 2000 para 150 em alguns dias.
Ele alegou, no entanto, que já nas vésperas do dia 8/01 as coisas mudaram repentinamente, pois a inteligência identificou uma leva de manifestantes se dirigindo de ônibus à capital. Dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) davam conta da chegada de cerca de 150 ônibus e essa movimentação reascendeu um alerta. Ele afirmou ainda que, entre os dias 7 e 8, foram enviadas 837 mensagens sobre o crescimento do movimento. “Do dia 7 para o dia 8, houve um crescimento muito abrupto do movimento. A gente realmente percebia uma agressividade crescente, mas não tínhamos noção de que aconteceria a desgraça que aconteceu no dia 8”, afirmou.
O fato de militares terem sido colocados de sobreaviso justamente no dia dos ataques foi alvo de críticas pelo presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT). Segundo Leitão, a ordem de colocá-los de sobreaviso, e não de prontidão, partiu do coronel Klepter Rosa, também ouvido pela CPI. O depoente ainda criticou a forma como o comando de inteligência da PM/DF se comunica com os demais órgãos. Ele disse que as informações circulam pelo WhatsApp. “Não deveria ser, deveria ser uma fonte mais segura de informação”, pontuou.
Ainda sobre as operações de enfrentamento no dia 8/1, o coronel contou que parte dos manifestantes utilizavam variados tipos de armas, como bolas de gude, estilingue e máquinas de choque. A fala foi utilizada pelo deputado Thiago Manzoni (PL) para afirmar que os manifestantes não pretendiam dar um golpe de estado, como é frequentemente mencionado na CPI. “Ninguém dá golpe de estado com bolas de gude e estilingue”, afirmou.
O distrital argumentou que a postura dos invasores é muito semelhante à de grupos denominados “Black Blocs”, que ficaram conhecidos nas manifestações que se espalharam pelo país em 2013. Manzoni chegou a falar que as invasões de janeiro podem ter sido praticadas por esse grupo, que seriam “infiltrados” ligados à esquerda.
Comando Vermelho
Um assunto que foi recorrente na reunião desta quinta-feira foi a divulgação pela imprensa, nos últimos dias, de que membros do Ministério da Justiça receberam, em visita oficial, a esposa de um comandante da facção criminosa ‘Comando Vermelho’ do Estado do Amazonas. Distritais repudiaram o ocorrido e o associaram ao ministro da pasta, Flávio Dino. A deputada Paula Belmonte (Cidadania) foi uma das que condenaram o episódio e a postura do ministro. “Eles querem colocar o comando vermelho nas nossas instituições”, afirmou.
Além de receber críticas por este fato, o ministro da justiça também recebeu falas de reprovação por sua atuação no 8/1. O deputado Pastor Daniel (PP) disse novamente que ele “prevaricou e foi leniente” por não ter acionado a Força Nacional de Segurança Pública para conter os ataques. “O Flavio Dino prevaricou, se omitiu, omissão dolosa. No relatório tem que constar isso, porque ele tinha que ter acionado a Força Nacional”, falou o distrital.
Joaquim Roriz Neto (PL) foi na mesma linha e criticou que o ministro não tenha comparecido à Casa para prestar depoimento. O distrital chegou a pedir o impeachment do ministro. “Dino não ser investigado é uma vergonha, mas talvez eles não queiram investigar porque podem chegar a outros problemas, como a rede de relacionamento do ministro, como as relações com o crime organizado e com o Comando Vermelho”, avaliou Roriz Neto.
Outro alvo de críticas por alguns distritais foi o relatório elaborado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) na CPMI do Congresso Nacional. Para os parlamentares de direita, o documento foi tendencioso ao não indiciar algumas figuras do atual governo, como o próprio ministro Dino e o ex-GSI general G. Dias. Roriz Neto afirmou que o relatório tem “erros gritantes”.
O deputado Gabriel Magno (PT) rebateu as críticas ao ministro Dino, afirmando que a visita da esposa do criminoso ligado à facção criminosa ocorreu por solicitação do governador do Estado do Amazonas, que é opositor da esquerda. O distrital rechaçou a tese de que os acampamentos no QG do exército não teriam relação com os ataques e disse que a oitiva desta quinta confirma a tese de “tentativa de golpe de estado”.
Na mesma linha, o deputado Fábio Félix (PSOL) reafirmou que enxerga a atuação do ex-presidente Bolsonaro como fator determinante para os crimes ocorridos entre dezembro e janeiro, e que os acampamentos foram “o embrião do crime de tentativa de golpe”.
Relatório da CPI
O relator da comissão, depurado Hermeto (MDB), marcou para 29/11 às 9h a apresentação do relatório final da CPI aos demais membros do colegiado. A votação ocorrerá no mesmo dia após leitura do documento.
“O relatório não vai fazer ilações, ele vai dizer claramente o que realmente aconteceu. Eu não vou me deixar levar por ‘oba-oba’. No relatório vai constar o indiciado e os motivos do indiciamento. Eu tenho certeza que nosso relatório será instrumento de justiça”, afirmou.
Com informações da CLDF
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