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Pastor Henrique Vieira, deputado: “Ninguém fala pelos evangélicos”

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Parlamentar do PSol-RJ avalia que segmento religioso é diverso e não está totalmente alinhado com as candidaturas de direita. Para ele, também é um erro afirmar que todo eleitor de Bolsonaro é extremista

Se aproximadamente 60% do eleitorado evangélico votou em Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, outros 40% foram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSol-RJ), isso significa que há uma grande divisão no segmento religioso que representa. “O campo evangélico é muito diverso. Ninguém pode falar em nome dele, não é um grupo coeso. Mas reconheço que existe uma predominância conservadora e grupos que vão além do conservadorismo, que alimentam uma lógica bélica, preconceituosa, discriminatória, fanática, intolerante”, lamenta. Para o parlamentar, tal proporção é a prova de que é “um equívoco dizer que quase metade do Brasil é fascista, de extrema direita”. A seguir, leia os principais pontos da entrevista.

Esquerdista

“Não sou o primeiro, não serei o último. Sempre fui militante dos Direitos Humanos, da perspectiva antirracista, e a minha fé em Jesus sempre me levou à simplicidade de amar o próximo. Pelo menos, esse é o meu objetivo de vida — uma agenda de Direitos Humanos, de justiça social, de combate à pobreza, de promoção da paz, de cuidado com o meio ambiente, de respeito à diversidade. Se isso se chama esquerda, sou de esquerda. Mas é, sobretudo, uma agenda ética, solidária, que busca o bem comum. Não vejo incompatibilidade entre a minha fé e a minha posição política”.

Direitistas

“O campo evangélico é muito diverso. Ninguém pode falar em nome dele, não é um grupo coeso. Mas reconheço que existe uma predominância conservadora e grupos que vão além do conservadorismo, que alimentam uma lógica bélica, preconceituosa, discriminatória, fanática, intolerante, que demoniza o outro, que não consegue lidar com a diferença, que prefere armas a livros. Isso não diz tudo sobre a igreja evangélica no Brasil”.

Jair Bolsonaro

“Existe, de fato, uma maioria que votou em Bolsonaro, 60%. Mas tem 40% que não. Isso não é 98 a 2, não é 80 a 20, é quase meio a meio. Há aí uma disputa a ser feita. Não acho que todo eleitor de Bolsonaro é um fascista. Acho um equívoco dizer que quase metade do Brasil é fascista, de extrema direita. Isso também se aplica aos evangélicos que votaram em Bolsonaro”.

Eduardo Bolsonaro

“Ser tratado com grosseria e alguma violência por esse setor é toda semana. Esse grupo político faz a política da intimidação, da ameaça, do grito, é muito violento mesmo. O Eduardo Bolsonaro estava debatendo comigo sobre a milícia e perguntei se conhecia Adriano da Nóbrega (ex-policial militar e integrante da milícia Escritório do Crime), um matador conhecido no Rio de Janeiro. Sem conseguir me responder, tenta estigmatizar minha fé. Me chamar de falso pastor e joga o tema do aborto”.

Dino comunista

“Admiro o ministro Flávio Dino, acho que tem uma trajetória belíssima. O anticomunismo é uma invenção que justificou uma ditadura civil-militar no Brasil, com execução sumária, tortura, desaparecimento, censura. É uma invenção intencional para você criar a imagem do mal com muita desinformação, desconhecimento, ignorância. Ou esperteza intencional de mentir, deliberadamente, para criar a imagem do mal e, assim, atacar pessoas, suas histórias e suas trajetórias”.

Aborto

“Não romantizo, só avalio que a política e a legislação atual não diminuem o número de abortos e ainda colocam as mulheres numa situação de muita vulnerabilidade. O aborto é a quarta causa de morte materna. Então, o “efeito vida” que eles tanto dizem defender, mesmo sendo amigos de matadores e milicianos, não é produzido. O número de abortos não está diminuindo e muitas mulheres estão morrendo, especialmente as pobres e negras. Porque quem tem dinheiro, até viaja para fora do Brasil e faz em clínicas ultra especializadas. Defendo uma legislação que regule em vez de criminalizar para, assim, reduzir o número de abortos”.

Prisões

“Sou contra o recrudescimento penal, não acho que é por aí que vamos resolver o grave problema da segurança pública. Sinto medo, meus amigos e meus familiares sentem medo. Respeito o medo das pessoas porque é muito parecido com o que habita o meu coração. Mas para pensar política de segurança pública, o medo não é bom conselheiro. Temos que olhar a realidade, entender as manchas criminais, os fatores multicausais da violência no Brasil. Tráfico de drogas causa violência, mas misoginia e intolerância religiosa também. O sistema prisional brasileiro ajuda a organizar e a potencializar o crime”.

Segurança pública

“O cenário da segurança pública no Brasil é muito complexo. Enquanto a gente continuar apostando em respostas imediatistas para causar uma falsa sensação de segurança, não haverá solução. Precisam ser de médio e longo prazo, dependem de grande esforço e compreensão da sociedade. Temos uma das polícias que mais mata e que mais morre no mundo. Então, para quem acha que a letalidade está resolvendo?

Oriente Médio

Condeno toda e qualquer atitude violenta e toda e qualquer forma de terrorismo. A ação do Hamas contra Israel foi uma ação terrorista. A resposta do Estado de Israel contra o povo palestino e a Faixa de Gaza também foi terrorista. Essa é a minha conclusão. Vejo traços de massacre e de genocídio na ação de Israel sobre o povo palestino em Gaza. Quando olho para o que está acontecendo, eu vejo desproporção.

Governo Lula

A inflação está sob controle, o PIB ficou acima da meta. É difícil reconstruir este país. O governo tem a melhorar, mas deu um primeiro ano com vitórias importantes para o nosso povo. Somos aliados e queremos que dê certo, mas têm pontos de contradição e de frustração. Sou de um setor à esquerda que quer que o governo avance em pautas populares, de representatividade, de direitos humanos e enfrentamento às elites.

Com informações do Correio Braziliense

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Jornalista

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