Primeiro dia de aula dos 60+ na UnB
As aulas da Universidade de Brasília (UnB) voltaram nesta segunda (18), e muitos alunos novos são calouros na faixa dos 60+. A UnB pela primeira vez realizou um processo seletivo para pessoas acima de 60 anos de idade, e 3013 alunos foram inscritos para 136 vagas em 37 cursos de graduação. Essa medida faz parte da Política Institucional de Envelhecimento Saudável, Participativo e Cidadão da instituição. O processo seletivo 60+ acontecerá anualmente.
Segundo a instituição, o curso mais concorrido foi psicologia, com 566 inscritos para duas vagas. Os calouros 60+, têm entre 60 a 78 anos de idade. Esse processo seletivo é considerado um marco na UnB, e agora, será realizado anualmente. A proposta da Política Institucional de Envelhecimento Saudável, Participativo e Cidadão é desenvolver iniciativas que tragam inclusão, valorização e respeito à dignidade das pessoas idosas, e promover o enfrentamento ao etarismo.
Iara Martins dos Santos Miranda, 64 anos, foi a primeira colocada em música e licenciatura no vestibular da UnB. Ela já é formada em administração e tem mestrado em gestão do conhecimento de tecnologia da informação, e queria fazer dessa vez, uma coisa que gostava muito. “E é algo que eu não sei nada por enquanto, mas é questão de adquirir conhecimento”, frisa.
Para Iara, manter a mente ocupada e expandir o conhecimento com os estudos é essencial. “Isso para todo mundo, para os jovens e para os mais velhos”. E como a administradora e mestra sempre gostou de estudar, quando surgiu o processo seletivo 60+, várias pessoas mandaram para que ela se inscrevesse. “Mas eu fiquei sabendo mesmo pelo Instagram, e me cadastrei antes mesmo das pessoas mandarem para mim.
O primeiro dia de aula foi complexo, porque era muita informação nova sendo transmitida pelo professor na aula de linguagem e estruturação musical I. “Mas conversei com o professor, falei que sou amadora e musicista desde criança. Que meu pai tocava e compunha, colocava as filhas para cantarem nas festinhas de família, e que eu gosto muito de música. Tenho bom ouvido, só não tenho estudo”, descreveu. O que o professor explicou para a estudante é que isso foi somente o primeiro contato com a matéria, e que vários alunos também ficaram confusos. Com o tempo, os calouros vão se familiarizar mais com o conteúdo. “Mas como eu sou ansiosa, marquei umas aulas com um professor de música particular, para me dar aulas sobre acordes, partituras, e etc, para uma iniciação musical”.
Embora a caloura esteja um pouco confusa com a matéria, ela está empolgada com os estudos, e com muita vontade e dedicação para avançar. O filho, quando ficou sabendo que Iara ia se inscrever para fazer a prova, ficou empolgado e queria que a mãe cursasse medicina veterinária, como ele. “Mas eu falei que queria fazer uma coisa que tem sentido para mim, para minha alma. Sem ficar maluca de estudar”. Já o marido, ficou empolgado e orgulhoso por ela ser a primeira candidata de todos os concorrentes em música. “E já falei para ele que é para se inscrever na próxima prova, para a gente vir junto para a faculdade”.
A estudante lidava muito na vivência profissional, com o tema de aposentadoria e envelhecimento saudável. Ela acredita que hoje em dia as pessoas estão muito ativas mesmo depois de aposentadas. “Hoje ninguém está velho para nada, nem novo para nada. Temos que curtir nossa idade e fazer o que gostamos”, comenta. Iara acredita que abrir as portas da universidade para os 60+, é dar a chance de fazer inter-relacionamento das gerações. “A gente vai trocando ideias e aprendendo a se relacionar”.
Com muito orgulho da iniciativa extraordinária da instituição, o professor Luís Otávio Teles, do Departamento de Sociologia, comenta que esse processo é inclusivo que coloca as pessoas com mais de 60 anos, para fazer o vestibular e ingressar numa universidade de grande importância como a UnB. “Isso aí está mostrando claramente que não tem limitações de idade, e que cada um tem o seu tempo”.
Para ele não tem idade para se adquirir conhecimento e cada um tem seu tempo de reflexão. Na segunda-feira (18), o professor já pegou uma turma com a presença de um dos calouros 60+. A turma de introdução a sociologia recebeu a aluna com aplausos dos outros alunos. “E ela estava super animada e motivada”. Ele considera que as vezes as pessoas, depois de sessenta anos, tem certa dificuldade de inserção no mercado, e a UnB está exatamente no caminho mais certo que vai contra essa negativa. “Um caminho que diz que isso não tem sentido, todo mundo pode estudar, todo mundo pode aprender, todo mundo pode se inserir no mercado”. Luís espera que as outras universidades de Brasília também façam programas como este. “Eu acho que a população só tem a ganhar com isso, uma valorização independente da idade que é realmente muito bem-vinda”.
Com informações do Jornal de Brasília
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