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Feminicídios em massa são resultados de masculinidade tóxica, explicam pesquisadores

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No dia 5 de janeiro deste ano, Vanilma Martins dos Santos foi morta a facadas pelo companheiro no Gama (DF). No dia 28 do mesmo mês, Diva Maria Maia da Silva foi morta a tiros pelo companheiro, que também atirou contra um dos filhos do casal. O crime aconteceu na quadra 316 na Asa Norte.  No dia seguinte, o corpo de Paula Fernanda Barbosa Ferreira foi encontrado em Planaltina (DF) debaixo de pneus, com perfuração de tiro na nuca e sinais de espancamento.  No dia 30 de janeiro, também na Asa Norte, uma mulher foi atingida por cinco facadas e depois carbonizada em incêndio no apartamento provocado pelo agressor. O assassino já havia sido denunciado antes por agressão.  No dia 31 de março, Isabella Borges de 25 anos morreu com dois disparos feitos pelo ex-companheiro que se matou em seguida. O crime aconteceu no Paranoá (DF).  Luana Bezerra da Silva estava grávida de 3 meses. Foi morta pelo companheiro a facadas em Sobradinho-II (DF), no dia 14 de abril.  Ao todo, entre janeiro e abril, foram 11 casos de feminicídios no Distrito Federal. A morte de Débora Correa, na manhã desta segunda (20), é mais uma tragédia que traz à tona como a masculinidade tóxica se transforma em feminicídios.

O machismo não está presente na cultura brasileira por um acaso. De acordo com a pesquisadora Valeska Zanello, doutora em psicologia clínica e autora do livro “Saúde mental, Gênero e Dispositivos”, o machismo é uma distribuição hierarquizada, desigual de poderes, a partir de diferenças sexuais.  Para a especialista, para entendermos o feminicídio precisamos contextualizar sobre o papel da masculinidade saudável. “O Brasil é um país profundamente sexista. Então, a mulher se subjetiva na relação consigo mesma mediada pelo olhar de um homem que a escolhe”, relatou a doutora.

Essa “escolha”, para a psicóloga, pode ser a causa da permanência de mulheres em relacionamentos abusivos com seus parceiros. “O amor é identitário para as mulheres como não é para os homens. As mulheres aprendem uma nova forma de amar, onde ser escolhida as legitimam como mulheres. Terminar uma relação para a mulher não é simplesmente colocar um fim mas fracassar como mulher. Não é à toa o número de mulheres brasileiras que persistem em relacionamentos abusivos”,  completa Valeska Zanello.

Foto: Pixabay / Domínio Público

Crimes em massa

Só no mês de janeiro deste ano, 121 mulheres morreram vítimas de feminicídio. Mais de cem mulheres perderam as vidas em um mês. Os dados sobre feminicídios são da pesquisa feita por Jefferson Nascimento, doutor em Direito pela USP (Universidade de São Paulo) e ativista pelos Direitos Humanos. O levantamento consistiu em juntar informações sobre feminicídios divulgados pela imprensa. Além das vítimas no mês de janeiro, outras 59 mulheres sofreram tentativas de feminicídios e, se juntarmos os casos de fevereiro, o número de mulheres que foram mortas ultrapassa 200. De acordo com especialistas, os casos de crimes surgem a partir de relacionamentos abusivos. A saúde mental masculina, segundo os profissionais, interfere no número de casos de mortes e agressões contra mulheres.

Saiba mais sobre feminicídios

Um dado alarmante da pesquisa é que 71% dos crimes foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros das mulheres vitimadas (como ocorreu no crime desta segunda).  As agressões nesses relacionamentos abusivos, de acordo com Valeska Zanello, surgem como uma forma de marcar lugar na relação. Essa também é a opinião do psicólogo Fernando Pessoa. “A violência surge na relação íntima como uma forma de retomar o poder perdido, de restabelecer um poder de subordinação da mulher que foi botado em questão”, explica.  Ele contextualiza que as mulheres adoecem mais por transtornos de humor e os homens por dependências de psicoativos. “Choro compulsivo é sintoma de depressão. Mas, segundo a sociedade os homens não podem chorar. Então, os homens são menos diagnosticados com depressão. a sociedade não consegue imaginar o contrário, uma mulher bêbada e um homem com depressão”.

Para Valeska Zanello, os homens aprendem a se tornar homem a partir de um embrutecimento de si. “A violência é a tentativa de um resgate identitário. Na relação com a mulher, o homem quando é violento, ele está provando quem é que manda na relação”.  A psicóloga ressaltou, ainda, que o conceito de ser “homem” no Brasil se baseia na virilidade. “No Brasil, ser um ‘homem’ de verdade é ser um trabalhador, provedor e um ‘fodedor’ ativo. Tudo aquilo que coloca em cheque esses aspectos são profundamente rejeitados pelos homens”.

Valeska Zanello: “Os homens aprendem a se tornar homem a partir de um embrutecimento de si”

À procura de uma masculinidade saudável

A psicóloga Valeska Zanello destacou que a masculinidade tóxica faz mal para ela mesma. “Eu prefiro chamar de masculinidade adoecida. A masculinidade acaba sendo tóxica para ela mesmo. Quem  mais comete suicídio no país são os homens, apesar de que as mulheres tentam 10 vezes mais suicídio do que eles. Só que, até na hora de escolher a forma de se matar os homens tem que ser bem sucedidos, eles não podem fracassar nem na tentativa de morte”. Então como homens podem ter uma masculinidade mais saudável? Como deixar para trás padrões e conjunto de valores ultrapassados? Valeska Zanello lembra que o melhor caminho é a educação. “Mais do que nunca precisamos debater sobre gêneros nas escolas. Só existe uma comunidade democrática onde a gente combata no mínimo o sexismo e o racismo”, esclareceu a psicóloga. Para Valeska, a saúde mental dos homens também interfere na criação de uma masculinidade saudável. “fragilidade e fraqueza não são a mesma coisa. Homens têm que entender que saber lidar com a própria fragilidade é um sinal de força e não de fraqueza”.

Para o psicólogo Leonardo Mello, a construção de masculinidade saudável pode se dar a partir da produção cotidiana de cuidados de si. “Buscar em si mesmo rupturas com processos identitários que estão enraizados na história, como por exemplo, o que é ser homem. Quando ouvir piadas machistas, conseguir intervir, porque não faz mais sentido e não tem mais graça”.

Por Guilherme Gomes – Jornal de Brasília / Agência de Notícias UniCEUB

Jornalista

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